A balança comercial do Paraná encerrou janeiro “no vermelho” pelo terceiro ano seguido. E a cada temporada o saldo negativo fica mais acentuado: no mês passado, as importações superaram as vendas ao exterior em US$ 646 milhões, déficit maior que os registrados no primeiro mês de 2011 (US$ 419 milhões) e de 2010 (US$ 202 milhões). Os dados são do Ministério do Desenvolvimento (MDIC).
O resultado mais recente deu sequência a uma série iniciada em agosto do ano passado: agora, já são seis meses consecutivos de déficit comercial. Considerando-se o histórico dos últimos dois anos e a implementação de novas barreiras comerciais na Argentina, é bem provável que as compras de importados sejam maiores que as exportações também neste mês.
A sucessão de déficits se deve principalmente ao crescimento “explosivo” das importações. Na comparação com janeiro de 2011, as compras aumentaram 38%, atingindo US$ 1,77 bilhão. As exportações também cresceram, mas não o suficiente para levar a balança de volta ao positivo: o Paraná despachou US$ 1,13 bilhão para outros países no mês passado, 31% a mais que um ano antes.
Entre os principais grupos de produtos importados, cresceram as compras de petróleo (alta de 175%); veículos e autopeças (29%); fertilizantes (80%); e aparelhos e materiais elétricos (19%). Pelo lado das exportações, destaque para os embarques de soja. Como eles começaram mais cedo neste ano, o valor exportado no mês passado foi o equivalente a dez vezes o registrado no mesmo período de 2011. Também aumentaram as vendas de carnes (10%); veículos e autopeças (86%); e açúcar (176%).
Destinos variados
O déficit na balança não é de todo ruim. Em primeiro lugar, porque nem todo o aumento das importações é “culpa” do Paraná. Exemplo disso são as compras de automóveis: Renault, Nissan e Volkswagen importam pelo Paraná carros que depois são vendidos em todo o país. Da mesma forma, o petróleo bruto trazido da Nigéria e refinado pela Petrobras na Repar, em Araucária (Região Metropolitana de Curitiba), dá origem a combustíveis que abastecem não só o mercado paranaense, mas também parte de Santa Catarina.
Outros fatores também “absolvem” o aumento das importações. O aumento da importação de petróleo, por exemplo, indica que a produção da Repar está crescendo, como reflexo de uma demanda aquecida. Além disso, mais refino acaba por gerar mais divisas para o Paraná – a Petrobras é a maior pagadora de ICMS do estado. O mesmo ocorre em vários segmentos da indústria, que trazem máquinas e componentes do exterior para usá-los na produção local de bens.
O problema é que, anos atrás, as exportações do estado compensavam com folga as importações; hoje, isso ocorre apenas em um período restrito do ano, no auge do escoamento da safra agrícola. Em 2011, o Paraná só ficou no azul entre abril e julho – algo impensável entre 2001 e 2008, quando o estado teve superávit por 80 meses consecutivos.
Afetada pela desvalorização do dólar, pela concorrência chinesa e por problemas estruturais brasileiros, a indústria já não sustenta a balança comercial do estado. Os manufaturados, que na década passada chegaram a responder por mais de 60% das exportações, no mês passado representaram somente 44% das vendas totais.
Fonte: Gazeta do Povo (PR) / Fernando Jasper
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