Os presidentes de bancos privados disseram estar dispostos a negociar um socorro às grandes empresas de setores fortemente afetados pela crise causada pela pandemia do coronavírus, desde que sejam respeitadas condições de mercado. Esse foi o tom dado por Sergio Rial, do Santander Brasil, e Octavio de Lazari Jr., do Bradesco, durante transmissões ao vivo realizadas ontem.
O Valor antecipou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os quatro maiores bancos - Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil - trabalham em um modelo de socorro para grandes companhias. Em estudo, estão as chamadas “operações combinadas”, com emissão de debêntures conversíveis em ações ou “warrants” (opção de compra de ações associadas a emissões de títulos privados), alongamento de dívidas e novos empréstimos.
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“Para empresas maiores, não deve haver operações sem spread como foi para menores”, afirmou Lazari, que participou de transmissão ao vivo do jornal “O Estado de S. Paulo”. “O Brasil, o Tesouro e nós, como contribuintes, não temos condições de ajudar todos os setores que estão precisando”, disse Rial, em conversa com a diretora de macroeconomia do banco, Ana Paula Vescovi, transmitida no canal do banco no YouTube.
O consenso dos executivos em seguir as condições de mercado está calcado nas limitações fiscais do país. Um modelo que evite o uso de dinheiro público também é uma premissa da equipe econômica. Os presidentes dos bancos ressaltam que o governo já gastou algo próximo de R$ 800 bilhões em ajuda a pessoas físicas e empresas nesta crise, valor próximo da economia alcançada com a reforma da Previdência. E, passado este momento, a sociedade terá de se organizar para pagar a conta.
A ajuda às grandes empresas seguirá uma lógica setorial. Para a cada cadeia produtiva, haverá linhas específicas, com finalidades distintas e abordagem escolhida pelo grupo de trabalho, porque o montante de recursos é muito alto e as necessidades, diversas. Lazari reiterou que o pacote mais adiantado é do setor elétrico, previsto para sair até a próxima semana.
No caso das companhias aéreas e das varejistas não alimentícias, está sendo considerado o uso de títulos de dívida conversíveis em ações, já que várias têm capital aberto. Para segmentos que não são listados em bolsa, como no caso da indústria automotiva, o caminho é conceder mais crédito, com garantia nos ativos locais dessas companhias.
Existem, no entanto, pontos que precisam ainda ser mais bem costurados nas discussões. De acordo com Rial, no caso de títulos de dívida conversíveis em ações, é preciso definir qual será o tratamento dado aos atuais acionistas, que serão diluídos. Uma forma de reduzir esse risco, segundo o executivo, é que os pagamentos a eles sejam feitos em dinheiro no fim do prazo.
Outro ponto a ser definido, destacou Rial, é como estipular um preço para esses títulos diante da desvalorização dos mercados. “Sou realista: existe o preço de ontem”, disse.
Outros fatores, no entanto, podem ajudar as companhias nas negociações com os bancos privados. O setor hoteleiro, por exemplo, é formado por empresas que têm ativos para dar como garantia em operações de crédito. Já as montadoras têm à disposição seus próprios bancos. “Vale a pena um conglomerado industrial correr risco de liquidez?”, questionou o presidente do Santander.
O grupo de trabalho formado BNDES e bancos está se movimentando para socorrer empresas rapidamente. Segundo Lazari, ainda não se vê um movimento de grandes companhias “quebrando”, mas isso pode acontecer dependendo de quanto tempo o país ainda terá de lidar com a covid-19. “Nenhum banco tem interesse em que as empresas quebrem”, ressaltou.
Dos maiores bancos do país, apenas a Caixa está fora do resgate às grandes companhias desses setores. O banco, que já vinha reduzindo a exposição a clientes de grande porte, se concentrará nas empresas do setor imobiliário e em políticas sociais.
Fonte: Valor