A BHP Billiton, a maior companhia mineradora do mundo, alertou ontem para o "achatamento" da demanda por minério de ferro pela China, no comentário mais pessimista feito até agora por uma grande mineradora sobre o maior consumidor da commodity no mundo.
Em uma conferência setorial realizada em Perth, Ian Ashby, presidente da divisão de minério de ferro da BHP, disse que a companhia prevê que o crescimento da demanda chinesa por minério de ferro vai recuar para um dígito.
"A economia [chinesa] está se deslocando, está mudando. As taxas de crescimento da produção de aço vão enfraquecer, e já estão enfraquecendo", disse Ashby na Global Iron Ore & Steel Forecast Conference. "A demanda por minério de ferro transportado por via marítima continuará crescendo vigorosamente nos próximos dez anos, embora a uma taxa anual composta de crescimento baixa", disse ele.
Nos últimos meses, a BHP vem ficando cada vez mais cautelosa com as perspectivas para os preços das commodities, uma vez que a demanda chinesa está diminuindo. Os comentários de Ashby seguiram-se a informações publicadas pela imprensa australiana, ontem, de que Jacques Nassar, o presidente do conselho de administração da BHP, disse a investidores que a companhia está reavaliando seus planos de investimentos e os retornos oferecidos por investimentos importantes.
O minério de ferro é a commodity que dá mais lucro para mineradoras como a BHP, Vale e Rio Tinto. O setor da construção da China responde por mais de um quinto da demanda mundial por aço e é um grande condutor dos preços globais do minério de ferro. Mas a atividade no setor da construção diminuiu no último ano, como resultado da tentativa do governo chinês de esfriar o crescimento do setor imobiliário, o que está levando muitos analistas a acreditar que o apetite do país pelo aço vai diminuir.
Os preços do minério de ferro caíram bastante no ano passado em meio ao aperto monetário imposto pelas autoridades chinesas, que afetou a capacidade dos comerciantes do país de obter financiamentos. O preço do matéria-prima do aço no mercado à vista caiu para US$ 116,75 a tonelada, segundo a agência Platts, especialista na formação de preços. O preço no mercado à vista (spot) tem se mantido firme este ano, permanecendo acima dos US$ 140 a tonelada na maior parte do tempo, graças em parte à oferta apertada e à formação sazonal de estoques nos portos chineses nas férias de inverno. No começo da semana, ele estava em US$ 146,50 a tonelada.
Ashby disse acreditar que o "piso" do preço para o produto é de US$ 120 a tonelada, e que a demanda chinesa vai atingir o pico de 1 bilhão a 1,1 bilhão de toneladas em 2025. Em 2010, a demanda foi de 700 milhões de toneladas. A cautela da BHP representa um grande contraste em relação a postura da Rio Tinto, que na mesma conferência ofereceu uma avaliação mais otimista sobre a demanda por minério de ferro.
"Em 2020, o consumo bruto de aço pela China deverá estar em torno de 1 bilhão de toneladas, pouco menos da metade do consumo mundial previsto e quase oito vezes o volume do segundo maior consumidor mundial, a Índia", disse David Joyce, diretor de projetos de expansão da Rio Tinto para a área de minério de ferro. "Prevemos que a produção bruta de aço atingirá na China o pico de aproximadamente 750 kg per capital perto de 2030", afirmou.
Apesar das perspectivas cautelosas com a demanda chinesa, a BHP disse que está prosseguindo com uma ambiciosa expansão de suas operações no oeste da Austrália. A companhia disse que não pretende atrasar o projeto de US$ 20 bilhões em Pilbara e quer aumentar a produção de minério de ferro do atual nível de 165 milhões para 350 milhões de toneladas anuais até 2020, e finalmente para 450 milhões de toneladas.
A BHP vem aguardando a aprovação de três projetos de aumento de produção de mais de US$ 10 bilhões somente para este ano: a construção de um porto afastado em Port Hedland, na Austrália Ocidental, a ampliação de sua mina Olympic Dam, na Austrália do Sul, e o projeto Jansen, de potássio, em Saskatchewan (Canadá). No entanto, aumentam as especulações de que pelo menos um desses investimentos sofrerá atrasos.
Analistas estimam que ela terá que investir pelo menos US$ 10 bilhões em um novo quebra-mar e cais em Port Hedland, para aumentar a produção de minério de ferro para além das 240 milhões de toneladas ao ano que a companhia acredita que poderá exportar a partir do cada vez mais congestionado porto interno. A BHP terá, então, que investir mais US$ 10 bilhões para ampliar suas minas de Jinidi, South Flank Marillana. Ashby disse que a expansão do porto afastado poderá ser feita em estágios para atender a demanda.
Fonte: Valor Econômico/Por Neil Hume | Financial Times, de Sidnei
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