O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai participar de evento em Londres para discutir o papel do setor público no investimento direcionado à inovação. O seminário, que começa amanhã, é coordenado pela economista Mariana Mazzucato, professora de política científica e tecnológica na Universidade de Sussex. Ela acredita que o Estado deve ter grande papel no incentivo e apoio à inovação.
"O Estado esteve presente em setores como internet, biotecnologia e nanotecnologia muito antes de serem interessantes para o mercado privado. Principalmente com a retração do mercado privado de crédito, a atuação do setor público torna-se mais necessária ", explicou ao Valor.
A conferência, Missão Orientada para o Financiamento da Inovação, terá participação do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e do diretor de planejamento João Carlos Ferraz. Em entrevista ao Valor, Ferraz afirmou que a participação do banco é importante para alimentar o debate sobre o papel do financiamento de longo prazo na economia. E defendeu a rediscussão do papel dos bancos de fomento.
Mariana defende que os Estados saiam da posição de agir apenas em falhas de mercado, e adotem ação mais efetiva na promoção da inovação. E vai discutir, no evento, a criação de agenda com metas para atuação do setor público. A agenda vai auxiliar países a aumentarem a inovação.
"Já existem muitos países com setor público atuando ativamente, mas porque não tem estrutura adequada, ficam encurralados e param de atuar", explicou.
O desafio é que esta receita vai contra a ideia, muito difundida, de que o Estado deve ter papel menor na economia. "Já falei para ministros de diferentes países que na maioria das vezes a redução de impostos não surte efeito. O mais adequado é direcionar investimentos e saber onde as oportunidades do futuro estão. A retirada de impostos só funciona em países onde há muito investimento direcionado do setor público", disse.
Na avaliação de Ferraz já há grande participação do setor público nos investimentos e no fomento à inovação no Brasil. Falta é trazer o setor privado. "No Brasil a visão do governo sobre inovação é de alto nível. E as ferramentas que [o país] tem em ação, como o BNDES, são alinhadas com o governo central. [O positivo é que] quando um investimento em inovação gera retorno financeiro, ele, em tese, retorna à economia", disse Mariana. Para ela só o fato do país ter BNDES, Tesouro Nacional e ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Ciência e Tecnologia (MCTI) alinhados "é 80% da batalha".
Fonte: Valor Econômico/Elisa Soares | Do Rio
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