O Brasil não terá concorrência relevante de outros países se decidir realizar leilões de petróleo em 2021, como o já anunciado para as áreas que não foram vendidas em 2019, como Sépia e Atapu, depois que vários países cancelaram seus leilões, e pela diferença de perfil dos que já estão programados. A avaliação consta de estudo publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME).
Por causa da pandemia da covid-19, e a exemplo de outros países, o Brasil suspendeu a realização de duas rodadas de licitação - 7ª Rodada de Partilha de Produção e a 17ª Rodada de Concessão - que junto com a 8ª Rodada de Partilha e 18ª de Concessão, marcadas para 2021, continuam em avaliação pelo governo.
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Bacia de Campos
Em 2019, Brasil arrecadou US$ 1 bi apenas com o regime de concessão de um bloco da bacia de Campos. Foto: Marcos de Paula/Agência Estado
A suspensão de leilões pelo mundo inteiro terá um impacto negativo de 60% no número de licenciamentos de áreas de exploração este ano comparado a 2019, de acordo com levantamento da consultoria Rystad Energy, divulgado pela EPE. Já em 2021, o Brasil pode ter sucesso nos leilões, apesar dos orçamentos menores que levarão as petroleiras a serem mais cautelosas e seletivas quanto aos seus investimentos.
“No contexto dos leilões elencados, o Brasil se apresenta como oportunidade diferenciada para o investidor, considerando o risco geopolítico, o risco exploratório e a produtividade esperada dos campos. A maioria dos leilões internacionais previstos para 2020 e 2021 possui outro perfil, não sendo concorrentes diretos por investimentos”, afirmou a EPE.
A autarquia, porém, ressalta que a efetiva atratividade das oportunidades no cenário atual no Brasil dependerá dos termos contratuais e condições fiscais definidos no âmbito da licitação. O Brasil ainda debate no Congresso fatores como a mudança do regime de exploração de ativos do pré-sal, por exemplo.
Segundo a EPE, boa parte dos leilões previstos para 2021 envolve países com produção incipiente e/ou com maior risco de produção, como Serra Leoa, Senegal, Libéria, Somália e Filipinas. A Nigéria poderia entrar com mais força na briga pelos limitados recursos disponíveis por investidores, mas disputas internas e risco geopolítico podem atrapalhar o sucesso das ofertas.
A maior ameaça entre os leilões previstos para entre o final deste ano e 2021 seriam as três rodadas previstas para o Golfo do México e da concessão no Alasca, nos Estados Unidos. Mas a EPE destaca que, apesar de ser uma região de comprovado potencial de atrair o interesse das petroleiras, 378 blocos arrematados nas rodadas de 2019 pelos EUA arrecadaram US$ 403 milhões. Em apenas um bloco vendido pelo Brasil no mesmo ano, na bacia de Campos sob o regime de concessão, a arrecadação foi de US$ 1 bilhão.
Outros leilões previstos para a Noruega, Malásia e Canadá, se confirmados, poderão também dividir investimentos com o Brasil, por esses países já possuírem produção, infraestrutura e conhecimento geológico como os brasileiros.
Queda na exploração
A falta de leilões provocará queda no investimento global de exploração da ordem de 29% para o período 2020-2021 em relação a 2019, de acordo com a Rystad Energy, contra previsão de estabilidade antes da pandemia. As áreas mais afetadas foram as relativas ao shale gas (-52%) e areias betuminosas (-44%), devido à queda do preço do petróleo no mercado internacional, que deixou esses ativos menos atraentes.
Para o offshore, caso do Brasil, a queda de investimentos deverá ser da ordem de 15,6%, já que possui preços mais resilientes de produção.
"Segundo a Wood Mackenzie, contudo, o Brasil se encontra bem posicionado no ambiente global. Entre os investimentos aguardando decisão final (leilões), o Brasil é o maior detentor de recursos que continuam economicamente viáveis, mesmo com preços do Brent abaixo de US$ 35/barril”, informa a EPE.
Para a consultoria, a Venezuela e o Brasil serão os países da América Latina que serão mais afetados em volume de produção de petróleo este ano por causa da pandemia, e apenas México e Guiana devem ampliar a produção.
Fonte: Estadão