O Brasil e a China tomaram rumos diferentes sobre o comércio internacional e normais sociais, ontem na cúpula do G-20, refletindo diferentes situações cambiais, trabalhistas e até mesmo de modelo de crescimento econômico.
Em sua intervenção no debate sobre comércio internacional, a presidente Dilma Rousseff na prática justificou a nova orientação da política comercial, mais defensiva, enquanto o presidente chinês Hu Jintao não só abriu mais o mercado chinês para países pobres como atacou o protecionismo dos parceiros.
A presidente brasileira afirmou: "É conhecido por todos o empenho do Brasil na retomada da Rodada Doha. Mas é preciso dizer também que a atual crise econômica provocou problemas cambiais e ampliação de liquidez que afetaram em muito países como o Brasil".
Para Dilma, a conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC) em dezembro será ocasião tanto para discutir a retomada de Doha, como para discutir também a questão cambial. O Brasil quer negociar na OMC regra pela qual um país poderia impor taxa antidumping sobre a importação originária de país com câmbio desvalorizado.
Por sua vez, o presidente chinês pediu para ser o primeiro a falar para anunciar que Pequim vai eliminar 97% das tarifas de importação sobre produtos de países pobres, mais do que fazem os países desenvolvidos. Os EUA reduzem as tarifas sobre 63% das importações procedentes de países pobres e não querem nem ouvir falar de aumentar o percentual, alegando que Bangladesh tem indústria têxtil competitiva. O Brasil até hoje não cumpriu o compromisso com países pobres para também reduzir as alíquotas sobre seus produtos. Agora, União Europeia, Austrália e Canadá poderão dar abertura integral para os pobres em seus mercados.
Mais tarde, nas negociações técnicas e sob pressão dos parceiros, o Brasil acabou aceitando um compromisso para os países do G-20 resistirem "a todas as formas de protecionismo". A resistência a uma fórmula repetitiva, que sequer é respeitada, mostra a que ponto o país se retraiu na cena comercial.
No debate sobre trabalho, foi o Brasil que assumiu a ofensiva, enquanto a China é claramente defensiva e desconfiada. A presidente brasileira reiterou que o Brasil tem experiências bem-sucedidas de enfrentar a crise com inclusão social e geração de empregos. E que a inclusão de 40 milhões de pessoas na classe média foi "não somente um impositivo moral, como uma questão de eficiência econômica".
Por isso, disse ela, o Brasil apoia a tese da OIT para os países do G-20 garantirem piso básico de proteção social em seus mercados. Já a China e a Índia obtiveram garantias de que o compromisso para fornecer acesso mínimo a saúde, seguro-desemprego e aposentadoria não pode ser vinculado com o comércio internacional e, portanto, não abre as portas para cláusula social. E o piso social não implicará padronização universal e sim levar em conta "circunstâncias e sensibilidades políticas, econômicas e institucionais de cada país". Dilma teria recebido sindicalistas e também o diretor-geral da OIT, ontem, em Cannes. (AM)
Fonte: Valor Econômico/De Cannes
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