Fricções com a China são inevitáveis à medida que o comércio bilateral aumenta, avaliou o Brasil, durante exame da política comercial chinesa, ontem, na Organização Mundial do Comércio (OMC). O país adotou tom moderado com seu principal parceiro comercial, com o qual fez 40% de seu superávit no ano passado. Já os EUA e a União Europeia (UE), com déficit com os chineses, atacaram forte.
A China foi o destino de 17,3% das exportações brasileiras e origem de 14,5% das importações do país em 2011. O saldo comercial para o Brasil foi de US$ 12 bilhões, em boa parte pela alta de preços de três produtos - minério de ferro, soja e petróleo -, que, juntos, representam quase 80% das exportações brasileiras para o mercado chinês. Em contrapartida, as importações procedentes da China são quase inteiramente de produtos industriais -maquinários e químicos representam 55%.
Para o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, o comércio bilateral está caracterizado por um certo grau de preocupação, "especialmente entre os setores industriais, confrontados com o desafio de ter de responder à penetração rápida e crescente das exportações chinesas, como têxteis".
Azevedo acrescentou que, embora haja problemas, os dois governos têm disposição de encontrar soluções e estão reforçando mecanismos para cooperação e diálogo, tanto bilateral como multilateralmente, nos Brics e em foros como a OMC. "Os dois países estão trabalhando ainda mais juntos para continuar a estimular o comércio bilateral, e, ao mesmo tempo, adotando medidas para diversificá-lo mais", afirmou.
O diplomata disse que o Brasil nota "com satisfação" os esforços da China para ajustar a taxa de câmbio, levando o yuan a uma cotação "mais próxima de um nível de equilíbrio" e espera que isso seja alcançado plenamente.
A China recebeu 1.720 questões de 30 países, refletindo a preocupação com a política comercial chinesa. As perguntas do Brasil abordam diplomaticamente a inquietação sobre transparência, barreiras etc. Já os EUA reclamaram diretamente de crescente intervenção estatal e interferência na economia chinesa, e de persistentes problemas na China em setores como serviços, agricultura e propriedade intelectual.
Para Washington, os chineses estão dando marcha a ré em seus esforços de liberalização do mercado. Os EUA apontaram subsídios em alta para vários produtos agrícolas, incluindo o que parece ser o maior volume de ajuda para produtores de algodão.
Como era previsível, a UE se juntou às criticas, estimando que a intervenção estatal dá vantagem para as empresas locais. Para os europeus, a principal preocupação é com a falta de transparência chinesa nas políticas comercial e de investimentos. A China aplica tarifa média de 9,5% nas importações, mas a OMC considera o regime comercial chinês "complexo".
Longe de ficar na defensiva, Yu Jianhua, vice-ministro de Comércio da China, afirmou que, apesar do ambiente "econômico e comercial complicado", o país continua abrindo sua economia, expandindo a demanda doméstica e as importações estão em alta constante. Segundo ele, o superávit comercial continua em declínio, tendo caído de US$ 298 bilhões, em 2008, para US$ 155 bilhões no ano passado.
Fonte: Valor Econômico/Por Assis Moreira | De Genebra
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