A alta dos preços do butadieno no mercado internacional e em particular nos Estados Unidos foi o motivo que levou a Braskem a antecipar em cinco meses a inauguração da segunda unidade de produção do intermediário para a fabricação de borrachas sintéticas no polo petroquímico de Triunfo (RS). Anunciada em fevereiro de 2011 e planejada originalmente para entrar em operação no fim deste ano, a fábrica teve a inauguração remarcada para a segunda quinzena de julho, disse o diretor de empreendimentos da empresa, Guilherme Guaragna.
"O mercado está mais aquecido de dois anos para cá porque houve crescimento significativo do consumo mundial de borracha", disse o executivo. De acordo com ele, a demanda está em alta devido a fatores que vão desde a expansão do mercado automobilístico nos EUA até a melhoria das propriedades químicas e mecânicas do produto, que passa a ganhar aplicações mais "nobres", como na montagem de linhas de produção em indústrias médicas, farmacêuticas e de alimentos.
Com isso, os preços da matéria-prima mudaram de patamar e deverão flutuar em uma "banda mais alta", acrescentou Guaragna. Com investimentos de R$ 300 milhões, a nova unidade poderá produzir 100 mil toneladas por ano, basicamente para exportação aos EUA, México e também Argentina, e vai dobrar a capacidade de produção de butadieno da Braskem em Triunfo, hoje de 106 mil toneladas anuais, que são vendidas para a Lanxess, no polo gaúcho, e para o mercado externo. Também irá somar-se às 180 mil toneladas por ano da empresa em Camaçari (BA) e às 80 mil toneladas/ano em Capuava (SP).
De acordo com a sócia-executiva da consultoria petroquímica Maxiquim, Solange Stumpf, de 2000 até agora o preço médio da tonelada do butadieno na América do Norte saltou de US$ 500 para US$ 2 mil. Desde 2010 a alta já chega a 50% e a tendência é que as cotações mantenham-se em expansão. De acordo com a analista, o comportamento dos preços segue a mesma trajetória em todo o mundo porque a oferta global da matéria-prima é menor do que o potencial de consumo.
Segundo Solange, só na América do Norte a produção do intermediário recuou 25%, para 1,5 milhão de toneladas por ano, de 2005 a 2011. Já a demanda caiu 17,4% no mesmo período, para 1,9 milhão de toneladas, e como consequência a necessidade de importação aumentou de 300 mil para 400 mil toneladas anuais na região.
A queda de produção na América do Norte deve-se à migração gradual dos Estados Unidos da nafta para o gás natural como insumo básico para as plantas petroquímicas. O gás é mais abundante e barato no país e serve para a produção de eteno e propeno, mas dele não é possível extrair aromáticos como o butadieno. Ao mesmo tempo, com a oferta menor, a demanda local pelo intermediário também caiu, embora em ritmo menor, porque as plantas de produção de borrachas e estirenos começaram a se transferir para outras regiões, como a Ásia.
"Isto criou uma oportunidade para nós", afirmou Guaragna. A Braskem opera com nafta em Triunfo e o aumento da produção de butadieno é uma forma de criar "mais valor" para as correntes já existentes na unidade, explica o diretor. De acordo com ele, as sinergias com a planta em operação permitem uma economia de pelo menos 30% no investimento em comparação com o que seria necessário para construir uma fábrica a partir do zero.
A decisão de acelerar o cronograma da obra foi "consolidada" na companhia petroquímica no fim do ano passado e exigiu a antecipação das compras de equipamentos importantes como compressores e esferas de armazenamento, acrescentou o gerente de projeto Roger Godolphim. Segundo ele, a unidade usará tecnologia da Basf, que permite ainda uma redução de 30% no consumo energético e uma queda na emissão de efluentes em relação à planta atual, construída no início dos anos 1980 com tecnologia Nippon Zeon.
De acordo com Guaragna, a opção por Triunfo para instalar a nova unidade deveu-se, entre outros fatores, à disponibilidade de insumos básicos e à facilidade do transporte do butadieno a partir do terminal fluvial próprio até o porto de Rio Grande, de onde o produto será exportado. O governo do Estado também concedeu isenção de ICMS sobre equipamentos sem similar no Rio Grande do Sul - desde que importados pelo porto do Estado - e sobre as máquinas adquiridas de empresas gaúchas, além de autorizar a Braskem a pagar fornecedores locais com créditos tributários.
Fonte:Valor Econômico
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