Irá à mesa da  presidente Dilma Rousseff, para veredito final, a discussão sobre o  futuro do Reintegra, o programa de incentivo aos exportadores criado no  ano passado, que garante às empresas devolução em dinheiro ou  compensação, no imposto a pagar, equivalente a 3% do faturamento nas  operações de exportação.
O programa acaba no fim de dezembro,  deve envolver renúncia de impostos da ordem de US$ 1 bilhão neste ano e  sua prorrogação é a grande prioridade da indústria em sua lista de  pedidos de Natal depositada no Palácio do Planalto. O governo não  chegou, porém, a um consenso sobre o tema, que, segundo graduados  integrantes da equipe econômica, será arbitrado por Dilma.
Semelhante  a programas existentes pelo mundo, o Reintegra se destina a compensar  os exportadores pelos impostos cobrados e não descontados nas etapas de  produção. Mas defensores do Reintegra encontram ambiente inóspito para  sua causa no Ministério da Fazenda, onde o espaço para bondades com  dinheiro do Tesouro anda cada vez mais limitado. No Ministério do  Desenvolvimento, e, especialmente, no gabinete do presidente do BNDES,  Luciano Coutinho, a disposição é outra, favorável à prorrogação.
Desvalorização do real é argumento contra o Reintegra
Pelo  fim do Reintegra, é levantado o argumento de que outras medidas  adotadas desde a criação do benefício já garantiram aos exportadores os  ganhos de competitividade que justificaram a criação do programa. Em  agosto, quando foi lançada a medida provisória que criou o regime para  compensar exportadores, o dólar estava a R$ 1,57 e, desde então,  valorizou-se em 28%, devido à intervenção governamental no mercado de  câmbio.
Nesse período, o lançamento de outros benefícios - como o  financiamento de máquinas e equipamentos a juros de 2,5% ao ano, pelo  Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) - garantiu taxas  negativas, um subsídio oficial ao investimento em bens de capital.
Circulam  no governo pesquisas feitas entre empresas sobre o uso do Reintegra e o  interesse despertado nas empresas pelo programa, que os técnicos da  Fazenda, interpretaram contra os desejos dos defensores da compensação  aos exportadores. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria  (CNI), divulgada em agosto, apontava que menos de 9%, entre 784 empresas  pesquisadas, consideravam a desoneração das exportações como muito  importante para a própria competitividade.
Outra pesquisa - da  Fiesp, sobre o Reintegra e a desoneração da folha de pagamentos -  recebeu retorno de apenas 35 empresas e nem todas usuárias do programa,  e, dentre elas, menos de 23 consideraram o Reintegra muito relevante  para a competitividade. Mais de um terço delas o consideraram "pouco  relevante" na formação de preços para exportação.
Não é dessa  forma negativa, claro, que os empresários leem as pesquisas, que mostram  forte interesse pela desoneração das exportações principalmente entre  grandes empresas, de grande volume de vendas ao exterior.
Os  pontos identificados pela equipe economica como reveladores de pouco  interesse no Reintegra são explicados pelos dirigentes empresariais como  resultado das falhas do programa, que teve sua regulamentação atrasada e  padece de um pecado original: sua curta duração.
"Ouvimos de  empresários: 'Para que internalizar o Reintegra na formação de preços de  exportação, se vai durar tão pouco, apenas alguns meses?'", relatou, ao  Valor, o diretor do departamento de relações internacionais e comércio  exterior da Fiesp, Roberto Giannetti, um dos maiores defensores da  extensão do programa. "Se fosse duradouro, por período indeterminado,  certamente a percepção empresarial seria outra", argumentou Giannetti.
De  fato, o Reintegra, criado por medida provisória em agosto do ano  passado, só foi regulamentado em dezembro, e só no segundo trimestre de  2012 começou, de fato a operar. Em setembro, a Receita Federal admitia  não haver pago, ainda, 31% dos pedidos de compensação.
Em um  indício do interesse empresarial, a extensão do Reintegra para além de  dezembro foi um dos principais temas escolhidos pelos dirigentes  empresariais em duas reuniões com o governo às vésperas do feriado: os  encontros do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, no Palácio  do Planalto, e do Grupo de Avanço da Competitividade (GAC), no  Ministério da Fazenda. A Confederação Nacional da Indústria (CNI)  aproveitou a viagem e deixou no gabinete de Dilma um documento,  subscrito por 20 associações empresariais, reivindicando a manutenção do  Reintegra.
Os empresários argumentam que, além de admitido pelas  regras internacionais de comércio, o Reintegra é uma questão de  justiça. Serviria para equilibrar as condições de competição com  produtores de outros países, que não pagam os impostos residuais  cobrados nas etapas produtivas realizadas no Brasil. As empresas que se  interessam pelo tema garantem que o resíduo tributário não descontado  dos exportadores é até maior que os 3% calculados pela equipe econômica.
Os  adversários do Reintegra no governo têm defendido nas reuniões internas  que é melhor dar prioridade à reforma tributária, para reduzir a  complexidade dos impostos e eliminar por esse caminho a carga tributária  indevida sobre as exportações.
É um bom argumento. Mas,  considerando que essa reforma não parece ser tarefa que se conclua em  prazo curto, os amigos do Reintegra têm, ainda, um forte argumento para  cobrar a continuidade do instrumento de apoio aos exportadores,  anunciado com fanfarras pelo governo Dilma no ano passado.
Fonte: Valor Econômico/Sergio Leo
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