De Brasília - As trocas de participações acionárias entre companhias que atuam em siderurgia e mineração acenderam um sinal amarelo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão antitruste do Ministério da Justiça.
Ontem, o conselho aprovou a saída da Nippon Steel da Namisa, mineradora de ferro controlada pela Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), que detém 60% de participação. Também deixou a sociedade a siderúrgica Sumitomo. Com o negócio, a Nippon não tem mais participações cruzadas com a CSN no setor de mineração, bem como a Sumitomo, que se tornou sócia da Usiminas em uma mineradora de ferro no ano passado.
Segundo atestou o Cade, a saída das japonesas abriu caminho para que a Nippon dispute participações na Usiminas. Segundo informações que chegaram aos conselheiros, a companhia japonesa estuda associar-se à Gerdau para fazer comprar participações de outros sócios na Usiminas.
"Esse mercado está se movimentando e demandando nossa atenção", disse o relator do processo, conselheiro Alessandro Octaviani. Ele elogiou o pedido de informações que foi feito, na segunda-feira, pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) à CSN e à Usiminas. A secretaria quer saber qual o impacto na concorrência das aquisições que a CSN fez na Usiminas e que levou a primeira a ter direito a um assento no conselho de administração dessa última. Como ambas competem no mercado de aços planos, é importante para o Cade saber de negócios que elas têm entre si.
O conselheiro Ricardo Ruiz notou que o fim de participações cruzadas entre Nippon e CSN ajuda o órgão antitruste a verificar a competição entre as empresas no setor de mineração. "Isso ajuda do ponto de vista concorrencial. É importante termos clareza sobre a posição de cada 'player' para fazermos a análise da rivalidade entre eles", explicou Ruiz ao Valor.
Com a saída da Nippon da Namisa, o cruzamento entre as empresas desapareceu. "Ao sair de compartilhamentos com a CSN, a Nippon ficou mais livre para investir e pode entrar em sociedade com outras empresas", disse Ruiz.
O Cade ainda não foi comunicado oficialmente pelas empresas a respeito de eventuais lances da Nippon pela Usiminas. Mas, os conselheiros estão acompanhando esses movimentos com atenção. "É importante fazermos a análise sobre a concentração das empresas no setor", concluiu Ruiz.
A saída de Nippon e Sumitomo levou a uma reorganização societária da Namisa, criada em 2007 pela CSN com a unificação de outros ativos de minério de ferro, fora Casa de Pedra. Suas participações foram absorvidas pelas japonesas Itochu (trading) e JFE (siderúrgica), integrantes do consórcio de empresas asiáticas, o Big Jump, que comprou 40% da Namisa no fim de 2008 por US$ 3,1 bilhões. As demais sócias são a Posco, da Coreia do Sul, e Kobe Steel e Nisshin Steel, do Japão.
Dentro do consórcio, a Itochu detinha a liderança, com 40% de participação. Nippon, Posco e JFE tinham cada uma 16,2% cada uma. A Sumitomo Metal detinha 6,6%.
A Namisa, no ato dessa operação, teve um plano de negócio definido para vender 39 milhões de toneladas por ano - 33 milhões de produção própria e 6 milhões de toneladas de aquisição de terceiros. Esse plano, até meados desse ano, não tinha sido cumprido por divergências da CSN com seus sócios, principalmente com a Nippon Steel. (Fonte: Valor Econômico/JB com colaboração de Ivo Ribeiro, de São Paulo)
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