O ano de 2011 frustrou profundamente as previsões feitas para a indústria na virada do ano. Entre 11 associações industriais consultadas pelo Valor, nove diminuíram suas estimativas de crescimento ou produziram até agosto um volume de mercadorias muito inferior ao planejado. A desvalorização do dólar e o crescimento das importações foram os principais motivos apontados por executivos como "inibidores" da produção nacional. Dois setores bem distintos, o alimentício e o automotivo, foram na contramão, cumprindo e até mesmo superando as expectativas do início do ano.
No ano, a produção industrial acumula aumento de apenas 1,4% na comparação com os primeiros oito meses de 2010, enquanto o volume exportado de manufaturados ficou apenas 3,8% maior e o quantum de produtos importados aumentou de 9,1% (em bens intermediários) até 29% (em bens de consumo) segundo as estatísticas da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) projetava em janeiro deste ano um crescimento de 13% na produção em 2011. Esse índice já foi revisto duas vezes. Em março, caiu para 12%; e, em junho, para 8%, segundo Luiz Cezar Rochel, gerente econômico da entidade. "O câmbio teve um comportamento muito ruim para o setor. Com o dólar no patamar que chegou, de R$ 1,60, a nossa competitividade foi prejudicada tanto no mercado externo quanto no interno. Mas a população continua consumindo os importados", diz.
As vendas de parte do setor, no entanto, seguem em ritmo forte. Pela pesquisa de comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até agosto, as vendas de eletrodomésticos foram 18% maiores que em igual período do ano passado. Na avaliação de Rochel - que é compartilhada por boa parte dos industriais -, um câmbio favorável para a indústria brasileira estaria na faixa de R$ 2,30. "O dólar valendo R$ 1,80 já é melhor do que o cenário anterior, mas ainda nos traz problemas de concorrência."
A inflação é outro fator que preocupa a Abinee. Segundo sondagem realizada em setembro, os industriais começaram a apontar o aumento dos preços como motivo de preocupação. "A inflação afeta o poder de compra do consumidor", afirma Rochel. "A situação hoje é muito confusa. Nem conseguimos fazer projeções para 2012, mas estamos de olho no comportamento da inflação e a influência da crise internacional no nosso mercado", conclui.
A crise na zona do euro e nos Estados Unidos, por sua vez, ajudou a diminuir as perspectivas de crescimento da Associação Brasileira da Indústria de Máquina e Equipamentos (Abimaq). Depois de registrar aumento de 11% na produção no ano passado, a Abimaq previu um nível parecido para 2011. No entanto, o avanço não deve ser maior que 5,5%, de acordo com o assessor econômico da presidência da associação, Mario Bernardini. "O resultado não será ruim, mas o cenário não é muito animador", diz. O esfriamento das exportações, por causa da retração na economia dos países desenvolvidos, e a diminuição no nível de investimentos da indústria, que reage a uma acomodação do consumo interno, empurraram para baixo as perspectivas do setor. Para o ano que vem, Bernardini descarta uma volta ao nível antigo.
Outro setor que revisou para baixo as expectativas de produção em 2011 é o de móveis. Apesar de o crescimento de 6% ser bem visto pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), o índice é significativamente menor que os 10% projetados no começo do ano, e isso já é motivo de dor de cabeça para o presidente da associação. "O mercado está muito frio. Temos que melhorar neste último trimestre", diz José Luiz Diaz Fernandez.
As medidas de contenção de crédito adotadas pelo governo são vistas como os principais responsáveis pela revisão nas projeções de crescimento do setor. "O comprador de móvel financia o pagamento e, com menos crédito disponível, ele começa a segurar um possível endividamento", diz Lipel Custódio, diretor da Abimóvel.
O setor de siderurgia no Brasil revisou, de maneira mais moderada, a previsão de crescimento para 2011, passando de 11,4% para 10,5%, o que representa 36,3 milhões de toneladas de aço produzidas. A justificativa do setor aponta para a "acirrada competição das importações" e para o desaquecimento da economia. O dólar desvalorizado e os excedentes de aço no mercado internacional favorecem a importação, segundo o Instituto Aço Brasil.
Desde a crise de 2008, a Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa) evita fazer projeções, mas os números deste ano mostram um forte recuo na produção. Na comparação de janeiro a agosto de 2011 com o mesmo período do ano anterior, a produção de celulose ficou estável e a de papel recuou 0,3%. Para se ter ideia do tamanho da retração, a produção de celulose cresceu 6,4% em 2010, em relação a 2009, e a produção de papel avançou 4,4%.
Os problemas enfrentados pelo setor são, principalmente, dois. "No mercado externo, Europa e Estados Unidos, grandes importadores de celulose do Brasil, estão no centro da atual instabilidade econômica mundial. No mercado interno, o aumento das importações de papel tem diminuído as vendas domésticas", diz Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Bracelpa.
O setor, contudo, tem uma posição otimista. Os investimentos previstos para os próximos dez anos chegam a US$ 20 bilhões - e não foram revistos mesmo com os sinais negativos apresentados até agosto. O que ocorre é uma renegociação dos prazos, que são trabalhados sobre os sete anos que o eucalipto leva para crescer, por exemplo. "As empresas estão buscando aumentar a sua produtividade, mas o governo precisa fazer a sua parte e buscar alternativas para o câmbio", afirma a representante da entidade.
Fonte: Valor Econômico/ Carlos Giffoni e Rodrigo Pedroso | De São Paulo
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