SÃO PAULO - O tumultuado processo de capitalização da Petrobras já fez com que os papéis da companhia perdessem mais de 25% de valor desde o início do ano e os riscos continuam sendo avaliados por investidores e analistas.
"Se a capitalização não for feita, a Petrobras só tem duas alternativas: ou ela reduz investimentos ou a companhia se endivida mais", contextualiza o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires.
Qualquer que seja a escolha, diz Pires, não é bom para a Petrobras nem para os investidores. "A companhia está em 34,4%, muito próximo do limite de endividamento de 35%", argumenta Pires.
Quanto ao cenário que prevê a capitalização ainda este ano, o analista vê outros riscos para o investidor. "A capitalização vai correr um grande risco jurídico. O Ministério Público tem condições de questionar os valores para evitar a venda de um ativo da União de maneira inapropriada", alerta o diretor do CBIE.
Ele explicou que a certificadora De Golyer And Mac Naughton, contratada pela Petrobras, estabeleceu um preço entre US$ 5 e US$ 6 para o barril de petróleo da cessão onerosa, enquanto que a certificadora contratada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), Gaffney Cline Associates, calculou o valor entre US$ 10 e US$ 12 por barril do pré-sal.
"O governo cometeu um erro. Deveria ter levado o preço da cessão onerosa a leilão, pois quem determina o preço é o mercado", aponta Pires.
Na opinião dele, quando se contrata duas certificadoras de petróleo, os preços podem variar por causa da natureza do negócio que envolve vários riscos e aspectos técnicos. "E mais, as certificadoras independentes podem provar tecnicamente que o preço estabelecido valem aquilo, de acordo com seus critérios", considera o analista.
O diretor é a favor que o governo adie a capitalização por causa das eleições presidenciais. "Independentemente de quem será o próximo ocupante do Palácio do Planalto, ele ou ela podem ter uma opinião diferente sobre o processo de capitalização da empresa", sugere Adriano Pires.
Na avaliação dele, o preço das ações da companhia caiu significativamente por causa do comportamento do investidor internacional. "George Soros e outros investidores internacionais importantes perceberam que a gestão política na companhia afeta as ações violentamente e venderam suas posições", avalia Pires.
De acordo com Pires, a realização da capitalização da companhia em 30 de setembro, nas vésperas das eleições presidenciais, produz apreensão no investidor estrangeiro.
Segundo ele, além da queda do barril no mercado internacional, o que afetou o papel na última semana foi a virada da candidata Dilma nas pesquisas eleitorais. "Para o investidor, se a candidata ganhar significa continuidade ou maior interferência política na Petrobras", aponta Pires.
Mas apesar de todos esses riscos, Adriano Pires acredita que a capitalização pode encontrar interessados no continente asiático. "China e Índia estão preocupados em comprar reservas de petróleo para garantir seu crescimento no futuro. A China já se tornou o maior importador do petróleo brasileiro", afirma.
Pires diferenciou o interesse do investidor asiático do comportamento do investidor ocidental.
A Corretora Win Trade também está preocupada com a influência do processo de capitalização nos papéis da Petrobras. "As ações já estão bastante descontadas. Talvez o adiamento da capitalização até já esteja precificado", pondera o analista chefe José Góes.
A preocupação de Góes é como ficará o plano de investimentos da companhia se a capitalização não for realizada ou adiada. "O cronograma da companhia conta com a oferta, portanto se ela não ocorrer ou for adiada terá que haver uma readequação do cronograma", avalia o economista.
"O governo brinca com o investidor nessa incerteza. E essa pode ser a maior oferta de Bolsa do mundo", comenta Góes.
Para Góes, a determinação do preço da cessão onerosa é o detalhe mais importante dessa etapa. "É uma coisa extremamente técnica. A melhor decisão será ficar com o meio termo entre o preço das duas certificadoras", sugere.
Ele avalia que o melhor para a Petrobras e seus investidores é que o governo ceda. "Se o governo aceitar os US$ 6 será muito bom", opina o economista.
Góes considera que o período eleitoral contribui para a volatilidade dos papéis mas que o papel está barato. "É um momento bem complicado, um período de muita volatilidade", afirma.
"Mas o papel está abaixo de R$ 27,00. O investidor deve comprar a conta-gotas ou manter a ação em carteira por um prazo maior", aconselha Góes, da Win Trade.
Como carteira opcional, Góes sugere OGX, Lupatec e Confab, mas avisa: "No curto prazo, os investidores vão realocar posições mais perto da oferta, e as empresas podem ser afetadas indiretamente", alerta o economista.
Nas últimas duas semanas, o papel Petrobras PN caiu 7,11%, de R$ 28,83 no dia 9 de agosto para R$ 26,78 no fechamento da última sexta-feira (20).
As ações da Petrobras, que já acumulam queda superior a 25% neste ano, podem sofrer ainda mais com o suspense sobre preço do barril do pré-sal para a cessão onerosa e seu efeito no processo de capitalização da estatal.
Os especialistas em ações da estatal dizem que se a capitalização não for feita este ano, a Petrobras só tem duas alternativas: ou reduz investimentos, ou a companhia se endivida mais.
Mas o endividamento da estatal já está em " 34,4%, bem próximo do teto de 35%", lembra o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires.
E, se a capitalização ocorrer ainda este ano, há outros riscos para o investidor.
"A capitalização vai correr sob um grande risco jurídico. O Ministério Público tem condições de questionar os valores de venda de um ativo da União de maneira inapropriada", alerta Pires.
Até agora o consumidor brasileiro está ajudando o plano de investimentos da Petrobras porque, segundo o diretor do CBIE, desde outubro de 2008 os preços da gasolina e do diesel estão mais caros no Brasil do que no exterior, dando à companhia uma receita adicional de R$ 24,7 bilhões.
O governo deve definir logo o preço para o barril do pré-sal para a cessão onerosa. A certificadora contratada pela pela Petrobras, De Golyer and MacNaughton, estabeleceu um preço entre US$ 5 e US$ 6 para o barril de petróleo, enquanto a certificadora contratada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), Gaffney Cline Associates, calculou o valor entre US$ 10 e US$ 12.
Na sexta-feira, as ações da companhia fecharam estáveis na Bolsa. A agência de classificação de risco Standard & Poor's afirmou que não vai alterar a nota de crédito da companhia caso a oferta de ações, prevista para o dia 30 de setembro, seja adiada.
Fonte: DCI/Ernani Fagundes
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