Mike Render, um engenheiro que trabalha na Caterpillar desde a década de 1970, passou os últimos três anos tentando romper com o passado da companhia. Render sugeriu à empresa que se associasse a um fornecedor para projetar um componente que reduzisse as emissões de poluentes, em vez de simplesmente ditar especificações e escolher o vendedor mais barato. Sua equipe acabou indo trabalhar com 12 engenheiros e diretores da Tenneco, uma fabricante de conversores catalíticos. No centro de engenharia da Caterpillar em Mossville (Illinois), a equipe criou uma linha de produção simulada para resolver os problemas do processo de fabricação. Empregando design conjunto, a montagem do componente na fabrica da Tenneco em Nebraska reduziu em 20% os custos da Caterpillar com a peça.
A colaboração é uma mudança cultural para a Caterpillar, cujos fornecedores no passado reclamavam da falta de diálogo, afirma Stephen Volkmann, analista da Jefferies & Co. "A coisa funcionava assim: 'Me dê o que eu quero, quando eu quero. O resto é problema que você tem de resolver'", diz ele. "A grande mudança de atitude está no abandono da relação servo-mestre, para uma relação mais voltada para o trabalho em equipe."
A Caterpillar, a maior fabricante de equipamentos de construção e mineração do mundo, prevê que a colaboração com a Tenneco se transformará em um marco, segundo diz o executivo-chefe Douglas R. Oberhelman, que substituiu James W. Owens em julho. A companhia está reduzindo o número de fornecedores dos quais depende de 9.000 para 6.000, e está trabalhando mais de perto com 200 companhias que ela identificou como críticas para o seu crescimento.
A Caterpillar não estava preparada para o último aumento da demanda mundial, ocorrido de 2006 a 2008
Melhorar a cadeia de fornecimento é uma peça-chave da estratégia de Oberhelman para extrair 25 centavos de dólar de lucro de cada dólar novo em vendas, na medida em que a demanda nos mercados emergentes aumenta. Ele pretende aplicar a experiência em engenharia e controle de qualidade de fornecedores dentro das fábricas da Caterpillar, para ajudar a melhorar a eficiência das características máquinas amarelas e pretas da companhia.
A Caterpillar não estava preparada para o último aumento da demanda mundial, de 2006 a 2008, e o erro se mostrou caro. As vendas aumentaram 24% nesse período, enquanto o crescimento dos lucros permaneceu estagnado, uma vez que a companhia pagou mais pelas matérias-primas e pela entrega mais rápida de peças de fornecedores. "No próximo ciclo, a Caterpillar quer ter um manual de estratégia melhor", diz Larry De Maria, analista da Sterne Agee. "É muito importante que eles tenham rodas suficientes, pneus, rolamentos e tudo mais que é essencial para a maximização dos retornos aos acionistas, retorno sobre o capital e margens operacionais."
Oberhelman sabe que a Caterpillar precisa mudar e nomeou um forasteiro com uma "profunda experiência em colaboração na cadeia de fornecimento" como seu novo diretor de compras. Frank Crespo, que ocupava o mesmo posto na Honeywell International, começou a trabalhar em agosto. "Ainda estamos um pouco atrás em termos de eficiência de nossa cadeia de fornecimento", diz Oberhelman. "Se fizermos tudo direito, os lucros aumentarão rapidamente."
A Caterpillar pode não ter precisado se esforçar na colaboração com os fornecedores no passado por causa de seu tamanho e de sua posição dominante no setor, diz John W. Henke Jr., presidente da Planning Perspectives de Birmingham (Michigan), que presta serviços de consultoria sobre relações com fornecedores. Agora, "a competição será baseada na cadeia de fornecimento e não em uma companhia individual", diz Henke, que desenvolveu um índice que quantifica as relações comprador-fornecedor. "A Toyota e a Honda são boas por causa de suas cadeias de fornecimento e das boas relações com os fornecedores."
No ranking deste ano de relações com os fornecedores de autopeças, elaborado pela Planning Perspectives, a Honda ficou com a primeira posição, seguida da Toyota. Ambas também se saíram melhor financeiramente do que algumas outras montadoras durante a fase mais aguda da recessão.
Henke afirma que melhorar as relações com fornecedores exige comunicação e confiança, que estimulam os fornecedores a dar aos fabricantes as melhores tecnologias. Depender muito dos fornecedores pode implicar em armadilhas. Em agosto, a Boeing adiou a primeira entrega do jato 787 Dreamliner para o começo de 2011, em parte devido a incapacidade da Rolls-Royce de fornecer turbinas para os voos de teste. A Boeing também está resolvendo problemas de qualidade em seções do corpo do avião construídas pela Alenia Aeronautica.
O modelo de colaboração da Caterpillar não é "a definição japonesa absoluta", diz Oberhelman. "Também não é o modelo americano de colaboração do setor automotivo, onde os preços são cortados, os custos caem e todos podem falir juntos. Estamos tentando encontrar um meio-termo."
A experiência da Tenneco na fabricação de peças para a indústria automobilística que reduzem as emissões, tem beneficiado a Caterpillar, diz Render. Os parceiros reduziram a complexidade do aparato com que trabalham. Eles fizeram duas versões de uma peça usada para carbonizar a fuligem no dispositivo de redução de emissões, empregada em várias máquinas da Caterpillar, comparado às 43 versões que a Caterpillar tinha em 2007 apenas para os motores de caminhões, que ela também fabrica. "É um pouco parecido como brincar com o Cubo Mágico", diz Render, um gerente de produção da Caterpillar. "Se fizermos isso, o que vai acontecer? Se fizermos aquilo, o que vai acontecer? Eles ajudaram com inovação. A Tenneco nos deu um modelo de como a colaboração deveria acontecer."
O dispositivo em que a Caterpillar e a Tenneco trabalharam para reduzir as emissões poluentes de motores movidos a diesel, conforme exigido por lei federal americana que começa a vigorar no ano que vem, será usado em cerca de 100 modelos da Caterpillar, incluindo escavadeiras, retroescavadeiras, carregadeiras de rodas e escavadoras mecânicas. "Quando surgimos com algo que acreditamos ser uma grande inovação técnica, as primeiras pessoas com quem falamos são os rapazes da Caterpillar", afirma Brent Bauer, vice-presidente de projetos da Tenneco.
(Fonte: Valor Econômico/Shruti Singh | Bloomberg Businessweek/ Tradução de Mário Zamarian)
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