A fabricante americana de máquinas Caterpillar Inc. conseguiu quase dobrar o lucro do terceiro trimestre, no mais recente sinal de como a América Latina se juntou à Ásia como um dos principais motores de lucro para as empresas industriais mundiais.
A receita das exportações latino-americanas de commodities, como minério de ferro, cobre e soja, está alimentando investimentos em rodovias, aeroportos e o restante da infraestrutura, e algumas das economias da região estão crescendo num ritmo quase tão acelerado quanto o da China.
"O crescimento da China realmente move o consumo de commodities, e a América Latina se beneficia muito disso", diz Edward Rapp, diretor financeiro da Caterpillar, que ontem anunciou ter quase dobrado seu lucro trimestral graças em grande medida à força das economias asiática e latino-americana. A Caterpillar também elevou sua projeção de lucro para o ano.
O Barclays Capital prevê que o crescimento deste ano chegará a 10,6% na Argentina, 5,7% no Chile e 8,9% no Peru. O Brasil, maior economia da região e oitava do mundo, deve crescer 7,7% este ano, prevê. Isso se compara com uma projeção de 10,1% para a China e 2,8% para os Estados Unidos.
"Veremos algum desaquecimento no crescimento de vendas de alguns tipos de máquinas em 2011, mas a tendência de longo prazo continua bem firme", diz Meredith Taylor, uma analista em Nova York do Barclays, que visitou o Brasil duas semanas atrás. Ela diz que a necessidade do Brasil de melhores estradas, ferrovias, portos e habitação de baixo custo devem continuar a alimentar as vendas dos fabricantes de equipamentos de construção, mineração, agricultura e outros nos próximos anos.
Entre outras coisas, ela cita os esforços para melhorar rodovias decrépitas e o restante da infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
A recuperação da América Latina reflete anos de esforços de alguns dos governos da região para adotar políticas econômicas mais ortodoxas de controle da inflação e dos gastos públicos. Embora políticas econômicas populistas ainda ameacem um punhado de países da região, particularmente a Venezuela e a Argentina, outros países deram fim a anos de inflação galopante. Desde meados dos anos 90, o Brasil cortou a dívida pública, equilibrou os livros do governo e introduziu uma nova moeda que é negociada livremente no mercado.
O rápido crescimento econômico resultante está atraindo grandes quantidades de investimento. Esta semana, a americana Pfizer Inc. fechou um acordo para pagar R$ 400 milhões por uma participação de 40% no Laboratório Teuto Brasileiro S.A., de genéricos, e ficou com uma opção para adquirir o resto da empresa. Este ano, a anglo-holandesa Royal Dutch Shell PLC fechou um acordo para investir US$ 1,63 bilhão para criar uma joint venture com a Cosan S.A. e assim conseguir maior acesso à enorme indústria de álcool combustível do Brasil. A Caterpillar planeja erguer uma nova fábrica no Brasil para produzir retroescavadeiras e outros equipamentos.
O interesse na região também gerou uma enxurrada de investimentos de fundos de hedge, firmas de private equity e outros investidores financeiros. A onda de capital provocou a alta das divisas locais e está levando as autoridades a adotar medidas para desacelerá-la.
Esta semana, o Brasil elevou o imposto sobre operações financeiras para investimento estrangeiro em títulos de renda fixa pela segunda vez no mês. Ontem, o Chile informou que vai enxugar os procedimentos de exportação para ajudar a baixar os custos para os exportadores do país, cujos produtos ficaram cada vez mais caros no mercado internacional por causa da força do peso chileno.
Na semana passada em Bogotá, Nicolás Eyzaguirre, o ex-ministro da Fazenda chileno que é agora diretor regional do Fundo Monetário Internacional, disse: "Vamos (...) enfrentar uma situação em que o apetite por investimento em nossos países vai ser excessivo."
A América Latina foi a região mais aquecida para a Caterpillar, a maior fabricante de máquinas para construção e mineração do mundo, no terceiro trimestre. As vendas na região deram um salto de 95%, para US$ 1,76 bilhão, superando os aumentos na Ásia (de 51%) e na América do Norte (55%). A participação da América Latina nas vendas totais da empresa subiu de 12% no terceiro trimestre de 2009 para 16% no deste ano.
A Caterpillar, que é sediada em Peoria, Illinois, informou que seu lucro líquido subiu 96%, para US$ 792 milhões, em relação a um ano antes. O resultado do trimestre, que foi de US$ 1,22 por ação, superou bem as previsões de Wall Street, que estavam em torno de US$ 1,09 por ação. O faturamento deu um salto de 53%, para US$ 11,13 bilhões.
A empresa informou que agora espera registrar lucro por ação de US$ 3,80 a US$ 4 no ano todo, em comparação com US$ 1,43 em 2009. Antes, previa lucro de US$ 3,15 a US$ 3,85 por ação para 2010. A companhia informou que as vendas devem "aproximar-se" de US$ 50 bilhões em 2011, em comparação com US$ 41 bilhões a US$ 42 bilhões para 2010 e US$ 32,4 bilhões em 2009.
Outras grandes empresas industriais dos EUA também estão otimistas em relação à América Latina. A Cummins Inc., fabricante de motores para caminhões e outros equipamentos, afirma que pretende mais que dobrar suas vendas anuais na região, para cerca de US$ 2,2 bilhões, em 2014. No ano passado, ela faturou cerca de US$ 900 milhões na América Latina.
Don Washkewicz, o diretor-presidente da Parker Hannifin Corp., uma fabricante de válvulas, filtros, bombas e outros itens usados em aviões, caminhões e máquinas, disse esta semana ao Wall Street Journal que a América Latina é "uma de nossas principais regiões agora em termos de crescimento. (...) Vai se estabilizar, mas num nível alto."
Esta semana, a Eaton Corp., outra grande fabricante americana de equipamentos, informou que há um forte crescimento na demanda latino-americana por caminhões pesados e equipamento agrícola, puxado em parte por programas de estímulo econômico no Brasil. A Eaton fabrica transmissões, câmbios e sistemas de transmissão para caminhões. Ela também produz bombas e válvulas para equipamento agrícola e de construção.
As empresas com sólida presença manufatureira na América Latina - como a Caterpillar, a Cummins e as fabricantes de tratores agrícolas Deere & Co. e Agco Corp. - são as que devem mais se beneficiar, diz Taylor, a analista do Barclays. Ela acrescentou que as fabricantes chinesas de equipamentos estão emergindo como rivais na região.
Fonte: Valor Econômico/James R. Hagerty e Paulo Prada | The Wall Street Journal
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