O presidente da BR Distribuidora, Rafael Grisolia, disse nesta quarta-feira que o ambiente de mercado dos últimos dias, quando se acentuaram os temores sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia global, “cria novas variáveis” para o cumprimento das metas da empresa. No contexto de sua privatização, em meados do ano passado, a companhia lançou um pacote de dez medidas para aumentar a rentabilidade de seus negócios.
“As metas desde a privatização já eram desafiadoras. Agora o ambiente dos últimos dias no mercado e no mundo cria outras variáveis em relação aos nossos desafios. Mas, para cada ameaça, temos que olhar nossas oportunidades. Nosso projeto é uma maratona, não é um sprint de 100 metros”, afirmou o executivo em teleconferência com analistas sobre os resultados do quarto trimestre de 2019.
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Grisolia disse que o pacote de dez medidas deve começar a se refletir nos seus negócios conforme for sendo implementado, mas que deve se refletir integralmente nos resultados da distribuidora apenas ao fim de 2021.
“Todas as medidas estão sendo trabalhadas em 2019, 2020, mas a conclusão, o impacto integral vamos ver ao fim de 2021”, afirmou.
Grisolia destacou que a companhia está atenta à nova dinâmica dos preços do petróleo e que a reativação da área de trading dá mais segurança para que a empresa lide melhor com o novo cenário.
“O que nos dá segurança é que, por termos trabalhado nas iniciativas [de rentabilidade], estamos firmes e fortes nas alternativas de 'sourcing' [abastecimento], de ter reativado área de trading, isso nos dá pelo menos segurança de que temos ferramentas para lidar com o mercado”, comentou.
Questionado sobre os impactos do novo coronavírus no mercado de aviação, ele respondeu que a empresa monitora seus clientes, mas que ainda é cedo para avaliar qualquer efeito significativo em volumes de vendas.
O presidente da BR comentou ainda a política de dividendos da distribuidora. Ele disse que a empresa mantém a disciplina financeira e que o lucro projetado para 2020 prevê a continuidade da distribuição dos dividendos.
Participação de mercado
O presidente da BR Distribuidora disse que a empresa não tem uma “política de redução de market share” e que a companhia quer manter a sua liderança de mercado.
“A BR continua e tem como aspiração e necessidade continuar com a sua escala, para remunerar os ativos grandes que ela tem. Vamos continuar mantendo liderança nos mercados onde participamos... Não há cliente que vale a pena e cliente que não vale a pena. Todos os clientes valem a pena por definição”, afirmou.
A BR perdeu 1,5 p.p. de participação de mercado no quarto trimestre, em relação ao terceiro trimestre. A perda se deu de forma mais localizada no segmento de grandes consumidores, em especial no segmento TRR (Transportador-revendedor-retalhista), onde a retração na participação de mercado foi de 9 p.p..
Parceria em conveniência
Grisolia, disse que a companhia tem mantido “bastantes conversas” com a Lojas Americanas e outras candidatas a fechar uma parceria para alavancar o negócio de conveniência da empresa.
O executivo explicou que a BR trabalha em dois movimentos no setor: um interno, para aumentar o número de lojas dentro de sua rede de postos; e um segundo caminho, que é a busca de parceiros com expertise na área de varejo.
“A conveniência é um pilar importante para nós... Já temos bastantes conversas com a Lojas Americanas e outras conversas com outros candidatos para entender uma visão conjunta do que podemos entregar a partir de joint venture ou outra solução”, afirmou.
Investimentos
O diretor de finanças, compras e relações com investidores da BR Distribuidora, André Natal, disse na teleconferência que o plano de negócios da empresa para os próximos cinco anos deve manter o nível de investimentos dos últimos anos. Ele pontuou, contudo, que a curva de investimentos do plano deve ser mais elevada este ano.
“A BR tem uma base instalada muito grande. Temos espaço na infraestrutura existente, o que nos dá capacidade de crescimento com baixa alocação de capital. A trajetória do capex [do plano de negócios] tem algumas coisas mais concentradas neste ano, no primeiro ano do plano, nas áreas de automação de bases, no programa transformação, transformação digital. De todo modo tem uma janela [de investimentos] de cinco anos que não vai divergir muito do que têm sido os últimos anos”, disse.
O diretor comentou ainda as perspectivas de margem Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia. Natal destacou que o resultado do quarto trimestre reflete efeitos não recorrentes, como ganhos oriundos de importação de derivados e reavaliações de estoques pela elevação de preços, e portanto não deve ser tomado como “nível recorrente” no momento.
“No primeiro trimestre a trajetória de preços foi contrária... Por outro lado, a depender da relação entre os preços do refino doméstico e preços internacionais, abre-se uma oportunidade de arbitragem para explorarmos no nosso abastecimento. Nossa área de trading pode ter outras possibilidades”, afirmou Natal.
Fonte: Valor