A Chevron Corp. adotou a ofensiva para continuar o trabalho de perfuração em águas profundas no Golfo do México, alegando que nem todas as petrolíferas devem ser manchadas pelo desastre da plataforma Deepwater Horizon, da BP PLC.
O presidente da Chevron, John Watson, disse ao Wall Street Journal que aceita a necessidade de regras mais rígidas para a perfuração depois do vazamento que, desde abril, está sujando as águas e a costa do golfo. Mas Watson, de 52 anos, considerou desnecessária a moratória de seis meses para a perfuração em águas profundas imposta pelo governo americano.
Segunda maior petrolífera dos Estados Unidos em valor de mercado, atrás apenas da Exxon Mobil Corp., a Chevron tem mais concessões para exploração no Golfo do México que qualquer outra companhia e é a terceira maior produtora de petróleo da região, só atrás da BP e da Royal Dutch Shell PLC. O golfo era considerado uma área de crescimento para a Chevron, que tem sede em San Ramon, na Califórnia.
Agora, o acesso às águas profundas pode estar ameaçado. Além da moratória de seis meses para perfuração em áreas com profundidade de mais de 150 metros no golfo, o presidente Barack Obama decidiu segurar os planos para expandir as perfurações na costa do Alasca. A Noruega também paralisou temporariamente novas explorações em águas profundas.
Embora não tenha criticado diretamente a BP, Watson disse que, mesmo antes do atual desastre, a Chevron tinha adotado políticas e procedimentos que poderiam ter evitado o estouro do poço que causou o vazamento. "Era possível evitar esse incidente", disse Watson.
Nos primeiros dias após o desastre, o setor de petróleo se apresentou como uma frente unida. Mas, na medida em que crise se arrastou, as companhias começaram a se distanciar da BP.
É quase certo que Watson e os presidentes de outras várias grandes petrolíferas vão tentar estabelecer distinções quando tiverem que responder perguntas de um painel do Congresso hoje. As ações da Chevron caíram quase 10% desde o incêndio na platarforma Deepwater Horizon em 20 de abril; mas a baixa é pequena se comparada à redução de 46% do valor de mercado da BP.
Watson disse que compreendia a decisão de paralisar as perfurações imediatamente após o desastre, que ele chamou de uma "lição de humildade para toda a indústria". Mas afirmou que, de uma forma geral, o histórico de segurança do setor é sólido, e que comitês, tanto do governo quanto da indústria, criaram novas recomendações de segurança após o vazamento. "Nós somos a favor da rápida adoção dessas recomendações", disse ele.
Grupos ambientais se opõem a uma volta rápida da atividade de perfuração.
David Goldston, diretor de assuntos governamentais do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, disse que a perfuração não deve ser retomada antes que a comissão presidencial encarregada de investigar o desastre finalize seu trabalho.
"Nós não entendemos bem o que aconteceu aqui", disse Goldston. "Não sabemos exatamente até que ponto os problemas são endêmicos, e tudo isso precisa ser esclarecido antes que a perfuração seja retomada."
Alguns especialistas do setor criticaram a BP por usar um poço de modelo arriscado, que poderia ter facilitado a entrada do gás natural e, em algum momento, causado a explosação.
A Chevron usa um poço que tem um estilo mais seguro, disse Gary Luquette, que dirige a exploração e a produção da Chevron na América do Norte. "Eu acredito que se tivéssemos utilizado práticas melhores nesse poço, não teríamos a situação que temos hoje", disse Luquette.
A BP disse que o padrão do poço não era incomum e que os engenheiros tinham avaliado vários fatores diferentes antes de decidir como perfurar.
O porta-voz da BP, David Nicholas disse: "Investigações detalhadas estão em curso e vão determinar a causa do trágico acidente da Deepwater Horizon".
Muitos políticos e moradores da costa do Golfo do México acusaram a BP de estar mal preparada. A Chevron tem um sistema "robusto" instalado para lidar com grandes vazamentos, disseram Watson e Luquette, mas eles admitiram que a empresa também teria tido dificuldade para lidar com um desastre dessa magnitude.
O Congresso e o presidente Obama criticaram a BP por tentar transferir a culpa para as empresas terceirizadas. Watson disse que a Chevron não faria o mesmo em uma situação semelhante. "Esses são nossos poços", disse ele.
O desastre da plataforma Deepwater Horizon também chamou a atenção para o histórico de segurança em terra.
Nas últimas semanas, têm ocorrido vários acidentes em unidades de gás e petróleo em terra, incluindo poços que explodiram nos Estados americanos da Pensilvania e da Virginia Ocidental, além de duas explosões fatais em oleodutos no Texas.
Um incidente recente envolvendo um oleoduto no Estado de Utah derramou, segundo estimado por autoridades, centenas de barris de petróleo em um riacho de Salt Lake City e ameçou contaminar o lago Great Salt Lake.
No domingo, a Chevron disse que o vazamento de um oleoduto que se rompeu há dois dias foi contido, mas que o trabalho de limpeza continua. "O vazamento foi paralisado", disse o porta-voz da Chevron, Sean Comey, em um e-mail. "Nós estamos planejando escavar a área do oleoduto onde acreditamos que o vazamento tenha começado." A empresa, disse ele, "assume totalmente a responsabilidade pelo incidente".
Fonte: Valor Econômico/ Ben Casselman, The Wall Street Journal
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