Segundo Comissão de Energia, dependência vai durar mais de 20 anos; país cria por ano um Brasil em energia
Asiáticos descartam a importação de biocombustíveis, pois a prioridade agora é a compra de alimentos
Para atender ao aumento da demanda, a China agrega por ano 91 gigawatts à sua capacidade instalada de produção de energia, quase "um Brasil" (114 gigawatts).
Mesmo investindo muito na geração solar e na eólica, o país não poderá abrir mão do poluente carvão como componente vital de sua matriz energética, afirmou Zhou Dadi, vice-presidente da Comissão Nacional de Energia, que presta assessoria para o governo de Pequim.
"Na melhor hipótese, se conseguirmos desacelerar o consumo, a energia renovável, aí incluída a hidráulica, se tornará um dos elementos importantes da matriz em 2030. Mas carvão, óleo e gás ainda serão dominantes", disse Zhou à Folha.
Ele participou no Rio de seminário do Centro Brasil-China sobre Mudança Climática e Tecnologias Inovadoras para Energia --uma parceria da Coppe, o programa de pesquisa e pós-graduação em engenharia da UFRJ, com a Universidade Tsinghua.
Uma das iniciativas do centro levará à instalação neste ano, no Rio, de uma usina-piloto para aumentar a eficiência da produção de biodiesel com matérias-primas hoje de baixo rendimento, como óleo de palma, resíduos de óleo de cozinha e sebo animal.
ETANOL DE 2ª GERAÇÃO
Zhou afirmou que também interessa aos chineses explorar com especialistas brasileiros a tecnologia para fabricar etanol de segunda geração (de bagaço de cana, por exemplo). Segundo ele, no entanto, é improvável que seu país passe a comprar biocombustíveis do Brasil.
"Não é barato, e precisamos antes resolver a questão alimentar, comprar soja, açúcar. Nossa terra arável é um terço da brasileira, e nossa população é seis vezes maior", disse.
Além de construir mais hidrelétricas, totalizando mais 200 gigawatts até 2020 (a capacidade atual é de 230), a China planeja somar a cada ano 15 gigawatts à sua capacidade eólica e aumentar a produção de energia solar e de biomassa, usando lixo orgânico e resíduos agrícolas.
O problema, explicou Zhou, é que cada novos 100 gigawatts de energia "verde" substituem somente 2% do consumo atual de carvão mineral na China, que é de 3,2 bilhões de toneladas por ano.
Por isso, afirmou, a China procura aumentar a eficiência e reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa das usinas a carvão. Investe também no desenvolvimento de tecnologia de captura e estocagem de carbono.
"É um último recurso para mitigar as emissões porque pode ser muito caro. Não acho que faremos isso em grande escala no curto prazo. Mas precisamos estar preparados", disse.
Zhou também reconheceu que as cidades chinesas não suportam mais os 220 milhões de automóveis atualmente em circulação.
"Não é sustentável. Os engarrafamentos mostram que precisamos medir o impacto ambiental e social antes de fazer as coisas.
Necessitamos desenvolver combustíveis alternativos e restringir a circulação. Não é somente uma escolha verde, é a escolha necessária para garantir uma vida razoável", afirmou.
Fonte: Folha de São Paulo/CLAUDIA ANTUNES/DO RIO
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