Vendas para o país subiram 125% de janeiro a outubro deste ano, comparadas a 2009. Com o pré-sal, negócios só devem aumentar
Soja, minério de ferro e agora petróleo. As exportações brasileiras de petróleo para a China dispararam para atender o voraz apetite do gigante asiático por matérias-primas. Preocupados em garantir seu suprimento, os chineses também já dão os primeiros passos na exploração e produção do óleo no País. Os especialistas apostam que a presença chinesa só tende a crescer com os novos negócios do pré-sal.
De janeiro a outubro, a China comprou 179,5 mil barris de petróleo por dia do Brasil, o que significa 125% a mais que em igual período do ano anterior. A receita gerada atingiu US$ 3,18 bilhões. Considerados os embarques diretos, o país asiático é o principal cliente do País e já recebe mais petróleo que os Estados Unidos, que importou 157 mil barris/dia do Brasil, 5% a menos. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Uma parte do petróleo que é vendido pela Petrobrás nos Estados Unidos, no entanto, segue via Santa Lucia, uma pequena ilha no Caribe, que redistribui o produto para outros destinos. A empresa não informou porque faz essa alteração na rota. Foram embarcados para Santa Lucia 97,8 mil barris/dia de janeiro a outubro, uma queda de 33%.
Segundo a Petrobrás, os EUA responderam por 43% de suas vendas de janeiro a outubro e a China por 28%. Procurada pelo Estado, a estatal não deu entrevista, só enviou os dados no fim da tarde de sexta-feira e não informou quais eram as participações em anos anteriores.
Outro gigante asiático, a Índia, também começa a se destacar e recebe 39,4 mil barris/dia, o quarto principal destino das vendas brasileiras.
O aumento dos embarques de petróleo para a China é consequência do contrato entre Petrobrás e Sinopec. A estatal brasileira comprometeu-se a vender, a preços de mercado, 150 mil barris/dia para a companhia chinesa. No ano que vem, o volume sobe para 200 mil barris/dia.
Esse contrato funciona com uma garantia para o empréstimo de US$ 10 bilhões que o China Development Bank concedeu à Petrobrás.
"A China é um cliente como qualquer outro. Não vejo problema em vender para quem paga preços de mercado", disse Wagner Freire, consultor e ex-diretor de exploração e produção da Petrobrás.
Ele diz que o empréstimo chinês foi feito quando a estatal precisava de recursos e o mercado permanecia fechado por causa da crise. O especialista questiona, no entanto, a necessidade tão grande de caixa da Petrobrás, provocada pelos investimentos em refinarias.
Graças ao acerto entre Petrobrás e Sinopec, o ritmo de crescimento das vendas de petróleo para a China foi exponencial. Em 2004, os chineses estavam na sexta colocação entre os clientes do Brasil, atrás de países como Chile e Portugal. Em 2003, sequer apareciam nas estatísticas. O comércio com a Índia é ainda mais recente e só ganhou volume no ano passado.
Mesmo assim, o Brasil ainda é um fornecedor irrelevante para os chineses, cujas importações líquidas chegaram a 1,4 milhão de barris por dia em setembro. Os Estados Unidos são o maior comprador de petróleo do mundo, mas os chineses já são o maior consumidor de energia. Com as vendas de carros batendo recorde, a sede do gigante asiático por gasolina é cada vez maior.
Segundo estimativas da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), o consumo chinês de petróleo deve crescer 5,14% em 2011, muito acima da alta de 1,36% prevista para a demanda global. Nos Estados Unidos, por outro lado, a economia cresce pouco e aumenta a aposta em combustíveis alternativos.
Investimentos. Uma das maiores preocupações do governo chinês é garantir o suprimento das commodities necessárias para o crescimento do País. O Brasil ainda não produz petróleo o suficiente para exportar volumes significativos, mas tem reservas promissoras. Por isso, os chineses também já estão investindo diretamente no setor.
A Sinochen comprou 40% do campo de Peregrino, controlado pela norueguesa Statoil por US$ 3,07 bilhões. A Sinopec fez um aporte de US$ 7,1 bilhões na filial brasileira da Repsol. Com o dinheiro, a empresa espanhola vai investir nos campos de Guará e Carioca, algumas das maiores descobertas do mundo.
As estatais chinesas também aparecem como os principais interessados nos ativos da OGX, do empresário Eike Batista. A companhia está vendendo 20% a 30% dos sete blocos que possui na bacia de Campos. O grupo já tem parcerias com os chineses em mineração e siderurgia.
"É muito positivo a vinda dos chineses e investidores de outros países, porque dinamiza o setor", diz Osvaldo Pedrosa, presidente da Associação dos Produtores Independentes de Petróleo (Abipp). Para o sócio de óleo e gás do escritório de advocacia Mattos Filho, os chineses tem menos receio de riscos políticos, pois, como se tratam de estatais, o relacionamento é quase diplomático.
Os analistas acreditam que os chineses podem ser os principais investidores e compradores do petróleo do pré-sal. Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a mudança do modelo regulatório beneficia a Petrobrás e afugenta multinacionais, mas não assusta os chineses, que não estão interessados em lucro, mas em garantia de fornecimento. "O investimento da China não é ruim, mas temos de ter cuidado para não ficarmos presos a um país complicado".
Fonte:O Estado de S.Paulo/Raquel Landim
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