O minério de ferro, insumo básico para a produção do aço e uma fonte crucial de lucros para as grandes mineradoras, atingiu a cotação de US$ 50 por tonelada pela primeira vez em quatro meses, com ajuda da alta dos preços do aço na China.
O minério de ferro australiano para entrega imediata à China, uma referência do mercado, foi estimado em US$ 50,30 por tonelada na segunda-feira (22), uma alta de US$ 3,30, pelo Steel Index, movimentação que beneficiou as ações da BHP Billiton e da Rio Tinto, duas das maiores produtoras mundiais, que registraram alta de 9%, enquanto a Anglo American, outra grande produtora, subia em 10%.
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O minério de ferro já registra alta de 17% no ano, até o momento, e de 35% ante sua cotação mais baixa em dezembro, já que as siderúrgicas chinesas começaram a reabastecer seus estoques.
A recuperação pegou muitos analistas e operadores no contrapé; eles antecipavam que o minério de ferro se mantivesse cotado em torno de US$ 40 ou menos por tonelada, pelo futuro previsível, devido à oferta abundante e à desaceleração na demanda da China, maior produtora mundial de aço e consumidora de minério de ferro.
A razão para essa força inesperada foram preços mais firmes para o aço na China, com siderúrgicas e operadores do mercado reportando perspectivas moderadamente melhores para os mercados de construção e infraestrutura do país, de acordo com analistas do Morgan Stanley.
As siderúrgicas chinesas também vêm repondo estoques, antes do pico de produção na temporada, que costuma acontecer no segundo e terceiro trimestres. Os componentes de aço usados largamente pelo setor de construção fecharam em sua mais alta cotação desde setembro, na segunda-feira.
Ao mesmo tempo, o pico da ampliação na capacidade produtiva do setor de minério de ferro já ficou para trás, e as três grandes produtoras australianas –BHP, Fortescue Metals Group e Rio Tinto– estão todas operando perto de sua plena capacidade, de acordo com o banco Morgan Stanley.
Recentes perturbações nas operações de portos da América do Sul e Austrália e na mina Samarco, no Brasil, também ajudaram a criar um aperto no mercado de minério de ferro para exportação por via marítima.
Mas muitos operadores calculam que a alta nos preços do minério de ferro não vá durar, e que os preços em breve voltarão à marca dos US$ 40 por tonelada ou menos.
"Os ventos adversos que sopram no mercado de minério de ferro serão difíceis de evitar", disseram analistas do ANZ. "A demanda por aço no setor chinês de habitação continua fraca; os cortes de produção continuam a ser escassos e infrequentes, especialmente na China, onde a produção de aço está apenas 3% abaixo dos picos dos dois últimos anos".
A alta, ainda que breve, será bem recebida pelos principais produtores. O minério de ferro registrou queda de preços de 40% no ano passado, comprimindo os lucros e os dividendos pagos aos acionistas do setor. No começo do mês, a Rio Tinto, que gera dois terços de seus lucros com o minério de ferro, abandonou sua política de elevar os dividendos anualmente e reportou prejuízo em seus resultados anuais.
Fonte: Folha de São Paulo\NEIL HUME DO "FINANCIAL TIMES"\Tradução de PAULO MIGLIACCI