A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que apresentou seu resultado de 2015 reforçado por ganhos não recorrentes, oriundos da reorganização societária na Congonhas Minérios, fugiu da regra no setor durante o ano. A companhia, em seu balanço, decidiu não realizar nenhuma baixa contábil relativa às atividades de siderurgia e de mineração, apesar da crise vivenciada pelos dois setores no Brasil e no mundo.
O balanço da empresa de Benjamin Steinbruch trouxe receitas extraordinárias de R$ 2,89 bilhões referentes ao impacto positivo da incorporação da Namisa e de Casa de Pedra na subsidiária de mineração - Congonhas. O único "impairment" realizado no ano foi na participação que a empresa detém na concorrente Usiminas, de 17,4% do capital social, pela queda das ações. Nesse caso, a perda foi de R$ 555,3 milhões.
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A CSN exibiu lucro líquido atribuível a controladores de R$ 1,26 bilhão no ano passado, ante prejuízo de R$ 105,2 milhões em 2014. Mas, se não fosse esse ganho contábil oriundo de Congonhas e a baixa na Usiminas, a empresa mostraria perda líquida de R$ 1,07 bilhão, contra lucro "ajustado" de R$ 100 milhões no ano anterior, quendo o "impairment" na Usiminas foi de R$ 205 milhões.
As demonstrações financeiras trazem ainda queda de 4,9% na receita líquida, para R$ 15,33 bilhões, e Ebitda ajustado de R$ 3,25 bilhões, recuo de 31,3%.
A deterioração da saúde financeira da siderúrgica é vista ainda no avanço da dívida líquida - crescimento de 40% no ano, para posição de R$ 26,49 bilhões em dezembro. A alavancagem (dívida sobre Ebitda) foi a 8,15 vezes.
Para ganhar um alívio, a CSN conseguiu rolar R$ 4,8 bilhões em dívidas, prevê cortar despesas fixas e pretende vender ativos, mas sem pressa, segundo Paulo Caffarelli, diretor corporativo. "São de alta qualidade e esperaremos o momento certo", disse.
A reorganização no negócio de mineração, que resolveu o impasse entre CSN e o consórcio asiático formado por Itochu, JFE Steel, Posco, Kobe Steel, Nisshin e China Steel, envolveu pagamento de R$ 5,4 bilhões em dividendos pela Namisa, reconhecimento de R$ 3,37 bilhões de passivos relativos à mineração, pagamento de R$ 2,7 bilhões pela fatia dos sócios e liquidação de contratos.
Portanto, a CSN considerou a transação como uma compra em seu balanço. O preço estimado, com base na expectativa de produção de 60 milhões de toneladas de minério no longo prazo e com premissa de preços de US$ 56 a US$ 75 por tonelada, foi de R$ 13,38 bilhões. O valor justo foi calculado em R$ 9,68 bilhões, gerando ágio no patrimônio de R$ 3,69 bilhões.
Mas a commodity terminou ontem negociada em US$ 54,70 e a maioria dos analistas projeta nível mais próximo de US$ 45 no longo prazo (ver Minério precisa de sinais firmes da economia chinesa). Além disso, a siderurgia brasileira vive sua maior crise, evidenciada pela queda de 16,9% no consumo aparente de aço. Juntas, as duas áreas atendem por 91% do Ebitda da CSN.
"Com base nas análises efetuadas pela administração, não foi necessário o registro de perdas por 'impairment' dos saldos desses ativos no exercício findo em 31 de dezembro de 2015", mostram as notas explicativas que acompanham o balanço.
Já as concorrentes, avaliaram que o valor recuperável de ativos será menor no futuro. A Gerdau fez baixas contábeis de R$ 5 bilhões, sendo R$ 835 milhões da operação brasileira, R$ 1,88 bilhão da América do Norte e R$ 1,93 bilhão em Aços Especiais. A empresa revelou que parte foi referente a câmbio e a alta de juros nos Estados Unidos. A Usiminas, por sua vez, realizou baixa de R$ 2,6 bilhões - mais de 80% apenas em mineração.
Com a reorganização das atividade de mineração, a CSN disse que vai agora testar o valor recuperável dos ativos ano a ano e, se for o caso, realizar a baixa no balanço.
Em reação ao resultado, as ações da empresa terminaram na maior baixa do Ibovespa ontem, queda de 5,13%, para R$ 7,40.
A perspectiva para a mineração, todavia, segue boa. Casa de Pedra, por exemplo, reduziu seus custos de caixa em 37,5% no quarto trimestre, na comparação anual, para US$ 33,30 a tonelada. A margem caiu levemente por conta da desvalorização dos preços, de US$ 19 para R$ 18 a tonelada. O negócio bateu recorde na produção, com 27,87 milhões de toneladas durante o ano. Em 2016, a empresa espera produzir 30 milhões de toneladas - 25 milhões de toneladas só para exportação.
(Fonte: Valor Econômico\Renato Rostás | De São Paulo\Colaboraram Rodrigo Rocha e Juliana Machado)