Com o ITV, Vale amplia investimento em projetos científicos e inovação
A Vale, que nos últimos três anos já havia investido R$ 22 milhões na instalação de cinco centros de educação profissional e no fornecimento de 6,7 mil bolsas de estudos, reforça suas apostas na área acadêmica. O Instituto Tecnológico Vale (ITV), criado em 2008 pela mineradora para coordenar ações de ciência e tecnologia, anuncia hoje em São Paulo a construção de três centros de pesquisa para produção científica de longo prazo e a assina um convênio de R$ 120 milhões para incentivar a produção científica nos Estados de São Paulo, Pará e Minas Gerais.
O valor a ser investido nos novos centros ainda não está fechado, afirmou ao Valor o diretor do ITV, Luiz Eugenio Mello. Para o convênio com as fundações de amparo à pesquisa, a Vale investirá R$ 72 milhões e o restante será aportado pelas instituições. Neste ano, o ITV operou com orçamento de US$ 25 milhões e, em 2010, o valor disponibilizado pela mineradora para as operações será de US$ 40 milhões.
Os centros de pesquisa serão instalados em regiões consideradas prioritárias pela empresa e cada um terá uma vocação específica. O primeiro centro será construído em Belém do Pará, onde as pesquisas serão focadas em desenvolvimento sustentável. Em Ouro Preto (MG), a companhia instalará um centro voltado a pesquisas na área de mineração. A terceira unidade será instalada em São José dos Campos (SP), com foco na área de inovação em energia, e terá como parceiro o centro tecnológico da Vale Soluções em Energia (VSE), sediado no mesmo município.
As unidades serão construídas no prazo de quatro anos e exigirão a contratação de 250 pesquisadores. "Os centros serão dedicados a temas de longo prazo e deverão manter uma íntima relação com instituições de ensino do Brasil e do exterior", afirma Mello.
A Vale tinha por hábito investir em pesquisa e em parcerias com as universidades, mas esse trabalho era feito de forma descentralizada. "Se houvesse mais de um projeto realizado em parceria com uma universidade, eles eram tratados de forma independente, por áreas diferentes", diz Mello. O sistema descentralizado mostrou-se eficaz no desenvolvimento de tecnologias e produtos para o curto prazo, mas não para atender demandas de longo prazo, sobretudo quando os projetos envolvem mais de uma área da companhia, explica Mello.
Para suprir essa lacuna, a Vale fundou o instituto e colocou no comando da gestão o ex-pró-reitor de graduação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-coordenador adjunto da diretoria científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A primeira ação do instituto foi anunciada no início do ano, no Pará. O ITV destinou R$ 4 milhões para financiar 84 bolsas de mestrado e doutorado a alunos da Universidade Federal do Pará (UFPA), em áreas como ciência da computação, biologia, genética, neurociência e botânica.
Em novembro, o Instituto e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) lançaram um edital para financiar projetos de pesquisa focados em inovação no setor mineral no valor de R$ 6,9 milhões, dos quais R$ 4,7 milhões foram aportados pela Vale e o restante, pelo Fundo Setorial Mineral (CT-Mineral).
Internacionalmente, o ITV mantém parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e com a suíça Ecole Polytechnique Federale de Lausanne. "Com esses convênios criamos uma estrutura de rede de transferência de tecnologia que permitirá ao Brasil exportar inovação no futuro", diz Mello.
O diretor do ITV observa que a formação de redes de pesquisa é comum em economias emergentes e países da Europa e da América do Norte, mas ainda é pouco adotada no Brasil. Internamente, a mineradora, por meio do ITV, assina hoje um convênio com a Fapesp e as Fundações de Amparo à Pesquisa do Pará (Fapespa) e de Minas Gerais (Fapemig) para apoiar projetos de pesquisa científica e tecnológica.
Dos R$ 120 milhões que serão investidos ao longo de quatro anos, R$ 72 milhões serão desembolsados pela Vale, R$ 8 milhões, pela Fapespa, R$ 20 milhões pela Fapemig e outros R$ 20 milhões pela Fapesp. O acordo prevê o financiamento de itens de custeio, de capital e todas as modalidades de bolsas - iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Pará foram escolhidos pelo ITV em função da proximidade das pesquisas realizadas nesses Estados com os interesses de longo prazo da mineradora.
"A Vale não tem unidades em São Paulo, mas o Estado responde por cerca de 50% da produção de ciência e tecnologia do país. Por isso foi priorizado", afirma Mello. Pará e Minas Gerais foram escolhidos por serem os Estados onde está concentrada a maioria das operações da companhia.
O edital para triagem de projetos de pesquisa nos três Estados será lançado simultaneamente e serão priorizados as propostas que envolvam pesquisadores de mais de um Estado. Futuramente, o ITV deve formar convênios com instituições de outros Estados, tendo como prioridade Espírito Santo, Maranhão e Sergipe. "Serão escolhidos Estados onde a Vale já possui interesse econômico relevante e onde a massa crítica responda à demanda do setor empresarial", afirma Mello(Fonte: Valor Econômico/Cibelle Bouças, de São Paulo)