Em contraste com a série de notícias negativas que a economia brasileira vem colecionando, a balança comercial de abril surpreendeu positivamente com um saldo de US$ 6,7 bilhões. O resultado superou em US$ 600 milhões até US$ 800 milhões as expectativas do mercado, que estava pessimista com o primeiro mês impactado integralmente pelo efeito da pandemia do coronavírus na economia. Tanto exportações quanto importações caíram. O saldo de abril é resultado de exportações que somaram US$ 18,3 bilhões. Mas as importações caíram mais, 12,3%, e totalizaram US$ 11,6 bilhões. No balanço final, foi o segundo maior resultado para o mês da série histórica, somente superado por abril de 2017.
De janeiro a abril, o saldo acumulado pela balança comercial está em US$ 12,264 bilhões, com queda de 16,4% sobre os US$ 14,7 bilhões do mesmo período de 2019. Esse foi o pior resultado para os quatro primeiros meses de um ano desde 2015, quando houve um déficit de US$ 5,1 bilhões. Em 12 meses, o saldo é de US$ 45,621 bilhões.
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A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) estimou que a balança comercial vai fechar o ano com superávit de US$ 46,6 bilhões, com uma queda de 3% em relação ao resultado de US$ 48 bilhões do ano passado, mas relativamente suave em vista do cenário global. A previsão leva em conta variáveis como importações mundiais, taxa de câmbio real, atividade econômica brasileira, produção industrial e o comportamento do comercio exterior brasileiro. Se essas projeções se confirmarem, o Brasil terá um desempenho no comércio exterior acima da média global. A Organização Mundial do Comércio (OMC) calcula que a corrente mundial de comércio diminuiu 4% no primeiro quadrimestre; e estima que deve encolher de 13% a 32% este ano.
Alguns fatores sustentam a previsão. A forte queda do real tornou os produtos brasileiros mais competitivos em dólar. Outro fator é a forte presença do Brasil no mercado global de alimentos como grãos e proteína animal. Mesmo em plena pandemia, países não deixam de comprar alimentos. Além disso, não só a China, mas a Ásia como um todo está se tornando parceiro comercial cada vez mais importante e tem reforçado as compras de alimentos. As exportações para a Ásia cresceram 28,65% em abril. Somente para a China o aumento foi de 29,5%, apesar das provocações de alguns setores do governo. Uma vantagem adicional da parceria com a China é o fato de estar saindo da crise causada pelo coronavírus antes das demais nações.
Já as exportações para os EUA e Argentina, os dois maiores parceiros comerciais depois da China, caíram 31,7% e 46%, respectivamente; e para a União Europeia subiram apenas 0,21%. Tanto os EUA quanto a Argentina enfrentam forte contração econômica. A pauta de vendas para esses países é muito concentrada em produtos industrializados, cujo comércio está abalado globalmente pela pandemia.
Uma pauta de exportações expressiva em alimentos e maior volume embarcado sustentaram o desempenho das exportações em abril. As vendas externas de produtos básicos saltaram 22,8%, compensando parcialmente a queda de 34,4% das exportações de manufaturados e de 4,8% dos semimanufaturados. Houve recorde mensal nos embarques de produtos como soja, com 16,3 milhões de toneladas e carne bovina fresca, refrigerada ou congelada, com 116 mil toneladas. Já em relação ao valor exportado, apresentaram recorde mensal a soja com US$ 5,5 bilhões; a carne bovina, com US$ 509 milhões; e a carne suína, US$ 154 milhões.
Há quem receie que os próximos meses mostrem resultados menos favoráveis devido ao agravamento da crise global e do acirramento da desglobalização das cadeias de produção e aumento do protecionismo. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê que a diminuição do comércio internacional causada pela pandemia causará uma retração das exportações brasileiras entre 11% e 20% em 2020, com vendas em patamar inferior a US$ 200 bilhões. A crise também terá repercussão nas importações, que cairão 20%, para cerca de US$ 140 bilhões. O superávit comercial projetado é até superior ao esperado pelo governo. Mas as contas do Ipea embutem uma perspectiva de redução da corrente de comércio de pouco mais de 12%, dos US$ 402,7 bilhões de 2019 para US$ 353 bilhões neste ano - ainda assim em linha com as previsões mais otimistas da OMC.
Fonte: Valor