A negociação da Vale com a China para reajustar em 20% o preço do minério de ferro no segundo trimestre e a elevação do preço do petróleo são fatores que aumentam as incertezas sobre o comportamento da balança comercial este ano. No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a avaliação é de que a estimativa de US$ 228 bilhões de exportação em 2011, 13% superior ao resultado de 2010, está subestimada e terá de ser revista.
Devido, em grande parte, à valorização das commodities, o saldo da balança comercial encerrou o primeiro bimestre em US$ 1,6 bilhão, 672% a mais que em igual período do ano passado. Em fevereiro, as exportações atingiram US$ 16,7 bilhões, recorde para o mês, com alta de 23% em relação a fevereiro de 2010. No ano, a receita com os embarques soma US$ 31,9 bilhões, 26% acima do obtido em igual período do ano passado. Os embarques de minério e petróleo somaram US$ 8,13 bilhões, o que representa 25,5% dos US$ 31,95 bilhões exportados no acumulado de janeiro e fevereiro.
As vendas de minério de ferro passaram de US$ 2,2 bilhões nos dois primeiros meses de 2010 para US$ 5,2 bilhões este ano - aumento explicado pelo preço. No petróleo, o saldo nos dois primeiros meses foi positivo em US$ 1 bilhão, 53% a mais que em 2009. As exportações de petróleo subiram 27,5% pela valorização do barril. Em fevereiro, a alta no preço foi de 21%.
O crescimento de petróleo e minério deve ser creditado principalmente ao forte aumento de preço, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O volume de minério exportado nos primeiros dois meses deste ano foi praticamente o mesmo de 2010, mas o preço teve alta de 136,2%.
Ainda nas exportações de produtos básicos, a combinação de maior preço com maior quantidade embarcada explica as elevações de 282% nos embarques de trigo (US$ 243 milhões) e de 92% nas vendas de milho (US$ 564 milhões). A expectativa do governo é que as cotações das commodities agrícolas e minerais seguirão em trajetória ascendente. "A tendência é de alta dos preços para os grãos, conforme indicação da FAO [Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação]. Para o minério de ferro, as pressões de preços também se manterão", disse o secretário-executivo-adjunto do MDIC, Ricardo Schaefer.
Ele avalia que exportações brasileiras acompanharão a recuperação da economia mundial, que deverá ser sustentada pelos mercados emergentes. As expectativas do governo são de ampliação das vendas para os mercados da Ásia, da América Latina e do Oriente Médio. Os dados do primeiro bimestre corroboram essa análise. Os embarques de produtos brasileiros para a Ásia avançaram 40%, com alta de 57% para a China. Na América Latina, a Argentina ampliou em 31% as compras de produtos brasileiros no período.
As importações de fevereiro atingiram US$ 15,5 bilhões, alta de 18% sobre igual mês de 2010. Esse desempenho elevou para US$ 30,3 bilhões as importações acumuladas nos dois primeiros meses, 20% superiores ao mesmo período do ano passado. Os bens de consumo puxaram os desembarques, com variação de 30,6% na média diária. "Isso mostra que o mercado interno continua aquecido e estimulando as importações", diz Castro.
Assim como as exportações, também o comportamento das importações possui um componente de imprevisibilidade. Para o MDIC, as medidas adotadas pelo governo para desacelerar a economia arrefecerão a expansão das compras nos exterior de bens de consumo. Por outro lado, os investimentos podem manter em alta a taxa de crescimento das importações de bens de capital
O superávit de US$ 1,099 bilhão na balança comercial do petróleo bruto é 53% maior que o saldo de US$ 716 milhões apurado em igual período de 2010. Os dados do MDIC mostram que os embarques acumulados em janeiro e em fevereiro deste ano proporcionaram US$ 2,866 bilhões, 27,5% acima do verificado em igual período do ano anterior. A alta decorre da exportação de 558 mil barris de petróleo bruto/dia. Em igual período do ano passado, a quantidade embarcada foi de 532 mil barris de petróleo bruto/dia, que proporcionaram US$ 2,248 bilhões.
Nas importações, as despesas com a aquisição de petróleo atingiram US$ 1,767 bilhão, 15,3% acima do gasto no primeiro bimestre de 2010. Entre janeiro e fevereiro deste ano, o barril de petróleo WTI negociado em Nova York registrou média de US$ 89,66. Nos dois primeiros meses de 2010, o preço médio foi de US$ 77,43. (Colaborou Marta Watanabe, de São Paulo)
Fonte:Valor online/Luciana Otoni | De Brasília
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