A saúde dos oceanos é a nova frente de esforços socioambientais da comunidade internacional. Durante esta semana, em Lisboa, delegados de 140 países, jovens, cientistas e representantes da sociedade civil se reúnem para discutir formas de frear e reverter a perda de biodiversidade, a poluição plástica, química e orgânica, o processo de acidificação das águas, a sobre pesca e outras ameaças.
Ações humanas já alteraram 66% do meio ambiente marinho. Mais de um terço dos estoques pesqueiros estão sendo explorados além de sua capacidade de regeneração. Ao menos três bilhões de pessoas no mundo dependem dos recursos do mar como sua fonte principal de proteínas. Estima-se que 50% do oxigênio que respiramos vêm dos oceanos. Se os oceanos fossem uma economia, seriam a sétima do mundo.
PUBLICIDADE
Os dados são de Gemma Parkes, chefe de comunicações da Friends of Ocean Action, uma coalizão de 70 lideranças e organizações lançada em 2018 e preocupada com o uso sustentável dos oceanos e a reversão das ameaças. O grupo foi convocado pelo Forum Econômico Mundial e World Resources Institute.
Para o professor Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, a conferência de Lisboa é importante por duas razões principais. “Uma é ter clareza de todos os esforços que vem sendo feitos no mundo inteiro em torno do ODS 14”, diz ele. Faz referência ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, que busca proteger e assegurar a utilização sustentável dos oceanos. “É preciso entender o quanto tem sido feito”, diz Turra, que também é coordenador da cátedra Unesco para a sustentabilidade.
Isso inclui, por exemplo, a redução da poluição marinha e dos impactos da acidificação dos oceanos, o fim da sobrepesca e a conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros. O evento em Lisboa também pretende observar os quase 2.000 compromissos voluntários feitos por países, empresas e organizações na primeira conferência do gênero, em junho de 2017, em Nova York.
“A segunda importância da conferência diz respeito ao nosso aprendizado, do que temos que fazer para melhorar e qual será a nossa estratégia depois de 2030”, continua o professor Turra. “Temos que olhar para o futuro e estabelecer processos atemporais para ajudar a restabelecer a saúde dos oceanos.”
A Conferência das Nações Unidas sobre Oceanos não tem perfil negociador como as COPs de clima e biodiversidade. “É um instrumento para fortalecer o ODS 14 e dialogar com as grandes conferências de clima e biodiversidade, além de estabelecer parcerias”, diz o professor.
O fórum não é deliberativo, mas agrupa discussões importantes como a convenção ou o tratado internacional que deve ser fechado em 2024 sobre lixo plástico, o debate do segundo semestre sobre exploração do alto mar e o acordo recém acertado pelos países de acabar com os subsídios à pesca predatória.
“A conferência revitaliza uma estratégia capilarizada e que se vale de ações de ongs, escolas, universidades, jovens, municípios. Estamos construindo alicerces para conseguir um movimento global mais orquestrado de conservação dos oceanos”, segue Turra.
Ele lista cinco grandes ameaças aos mares: a poluição por esgotos, efluentes industriais e plásticos; a sobrepesca que compromete não apenas os estoques pesqueiros, mas a própria biodiversidade; a destruição de ambientes como manguezais e corais; a invasão de espécies exóticas que não vivem em determinado lugar, mas chegam pela navegação; e a mudança do clima, que é um vetor de transformação dos oceanos.
“Trata-se de uma comorbidade ambiental e que pode fazer com que os oceanos não consigam mais lidar com as pressões a que estão sendo expostos”, segue Turra.
A Conferência dos Oceanos é promovida pelos governos de Portugal e do Quênia e deve adotar uma declaração política no final. São esperadas lideranças como o secretário-geral António Guterres, o enviado especial do clima dos EUA John Kerry e alguns chefes de Estado.
Fonte: Valor