Foi assinada ontem a venda de 15% da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), por US$ 1,95 bilhão, pela Brasil Warrant, empresa de participações da família Moreira Salles, a consórcio asiático. Responsável por 80% do suprimento do mundo de nióbio - metal usado principalmente na indústria siderúrgica para aumentar a resistência, tenacidade e leveza do aço-, a CBMM foi valorizada em US$ 13 bilhões no negócio.
"A empresa tem geração de lucro suficiente para financiar seus investimentos em produção e ainda gerar dividendos para os acionistas", disse em entrevista ao Valor o CEO da CBMM, Tadeu Carneiro, um dos maiores especialistas em nióbio do mundo, há 22 anos na empresa, mas há 35 anos ajudando a desenvolver o mercado desse metal.
Em 2010, o lucro líquido da CBMM chegou a R$ 1,9 bilhão, um recorde na história da companhia e um aumento de mais de 100% na comparação com 2009. A receita chegou a R$ 2,9 bilhões. Os investimentos programados até 2015 vão envolver cifras de apenas R$ 800 milhões, 42% dos lucros obtidos neste ano.
Para Carneiro, o que motivou a venda de pedaço da empresa a investidores estratégicos foi o papel que as companhias terão em ajudar a desenvolver a tecnologia de inserção do nióbio no aço, contribuindo dessa força para desenvolver o próprio mercado consumidor do metal. Um investidor financeiro, como um fundo de private equity ou do mercado de ações, não ajudaria ne sentido.
A China é a maior compradora de nióbio da CBMM, com 30% das exportações, seguida pela Europa, com 27%
Ao todo são seis as companhias investidoras na CBMM, quatro do Japão e duas da Coreia do Sul, cada uma ficando com 2,5% do capital. Do Japão, entraram as siderúrgicas Nippon Steel e JFE, a trading Sojitz e a Japan Oil, Gas and Metals National Corp. (Jogmec), agência de financiamento do governo japonês, que pela primeira vez fez um investimento direto em um projeto. Da Coreia, entraram o fundo de pensão estatal NPS e a siderúrgica Posco. As empresas vão receber em troca de suas participações a quantidade de nióbio equivalente.
O pagamento da aquisição não envolve troca de ações - será feito em dinheiro e à vista.
No ano passado, a CBMM produziu cerca de 62 milhões de toneladas em sua única mina, em Araxá, Minas Gerais, com capacidade de produção de 90 mil toneladas. A ideia é ampliar a capacidade para 150 mil toneladas até 2015 com os investimentos previstos de R$ 800 milhões.
Segundo Carneiro, o Japão é responsável por 12% do consumo de nióbio exportado pela empresa e produz 120 milhões de aço por ano, enquanto a Coreia do Sul compra 6% das exportações da CBMM. Mas, segundo ele, as empresas que acabaram de investir na CBMM são parceiras antigas no desenvolvimento de tecnologia para inserção do nióbio.
Hoje, a China é a maior compradora, responsável por 30% das vendas externas de nióbio da CBMM. Os chineses se tornaram o maior consumidor do metal em 2005, tendo passado os Estados Unidos. Os chineses são também os maiores produtores de aço do mundo, com produção de 650 milhões de toneladas por ano, cerca de 50% do total mundial. A América do Norte consome 15% do nióbio exportado pela CBMM, mas os Estados Unidos produzem bem menos aço, cerca de 100 milhões de toneladas por ano. "A China usa menos nióbio por tonelada de aço e por isso mesmo é o nosso mercado de maior potencial."
Segundo Carneiro, o Japão e a Coreia são os países que mais usam nióbio em carros. Um automóvel médio leva 800 quilos de aço, o que corresponde a 80% do seu peso total. Uma redução de 100 quilos - ou US$ 9 de nióbio acrescido no aço - traz economia de 0,5 litros de combustível por 100 quilômetros andados, redução na emissão de gás carbônico e melhoria na segurança do veículo, que se fica mais resistente a impactos.
"O nióbio é a forma mais barata e eficiente de tornar o aço mais resistente e leve", diz. Em média são usadas 200 a 300 gramas de nióbio por tonelada de aço. O nióbio tem sido empregado em quantidades cada vez maiores para produzir aço mais resistente para oleodutos, gasodutos, pontes, edifícios, cápsulas espaciais, mísseis, foguetes, reatores nucleares, torres eólicas. Também é usado em supercondutores (e não semicondutores de computadores) de ressonância magnética.
O produto é tido como fundamental para a indústria bélica e espacial dos Estados Unidos, que importa do Brasil até 87% do nióbio de que necessita. O Brasil tem 98% das reservas mundiais exploráveis de nióbio. Além da CBMM, atua no mercado brasileiro a Anglo American, com mina em Catalão (GO). A Anglo American só exporta o produto, mas é responsável por 10% do suprimento de nióbio do mundo. "Abastecemos todo o mercado interno brasileiro com 5% de nossa produção e o resto exportamos", diz Carneiro.
Outro produtor é a canadense Iamgold, com 10% do suprimento, e a russa Severstal, com menos de 1% da produção. Essas empresas são responsáveis pelo nióbico que vem do pirocloro. Há também o nióbio produzido a partir do tântalo, responsável por 3% do suprimento mundial.
Carneiro conta que nos anos 60 o mercado não existia, mas a CBMM investiu pesado e hoje exporta para mais de 60 países. Enquanto o mercado de aço cresceu 7% em média de 2002 a 2010, o de nióbio cresceu 17%, o que mostra sua inserção cada vez maior no mercado.
Fonte: valor Econômico/Cristiane Perini Lucchesi | De São Paulo
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