As construtoras estão procurando diversificar seus negócios para reduzir a dependência do setor público. Para isso, perseguem um novo tripé de oportunidades: obras da iniciativa privada, concessões na área de infraestrutura e reforço das operações no exterior. "Seja por questões de planejamento estratégico, seja por questão de sobrevivência, várias empresas estão buscando novos nichos de mercado", identifica o estudo da Ernst & Young.
A própria pesquisa indica que, enquanto a rentabilidade do segmento de construção pesada ficou em 3,06% no ano passado, outros setores se mostraram muito mais lucrativos. A margem líquida foi de 5,91% na energia, atingiu 7,30% na siderurgia e chegou a 11,27% na construção imobiliária - ramos em que uma parte das empreiteiras também atua, de forma complementar às suas áreas de negócio originais.
A construtora paulista CVS, que tem cerca de 80% do faturamento baseado em uma carteira de obras públicas, espera baixar essa participação para 50% nos próximos cinco a seis anos. Para chegar a isso, demonstra apetite por contratos de mobilidade urbana, além de obras na área hospitalar e de saneamento. "Não temos participado de licitações do PAC", diz o presidente da CVS, Luciano Amadio, referindo-se ao programa federal de investimentos. "Não podemos fazer loucuras. Descontos de 20% a 30%, para vencer essas licitações, hoje beiram a irresponsabilidade", avalia.
A Constran é o braço de construção do grupo UTC, que arrematou a concessão do aeroporto de Viracopos (Campinas), junto com a Triunfo. Também faz parte do Estaleiro Enseada do Paraguaçu, na Bahia. Mesmo assim, as obras públicas ainda representam cerca de 80% de suas receitas.
O pacote de concessões de rodovias e ferrovias, anunciado recentemente pelo governo, despertou fortemente o interesse da Constran. "Gostamos muito do plano e olhamos muito atentamente as oportunidades, principalmente na área de ferrovias", afirma João Santana, presidente da empresa. Para ele, algumas obras públicas tornaram-se inviáveis. "Não tenho mais nenhuma obra com o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) de São Paulo. Os preços são irreais e a concorrência é predatória."
Segundo fontes de mercado, a construtora OAS teria decidido não mais buscar novos contratos com o setor público, o que a empresa nega. A desaceleração das grandes obras também não pode ser ignorada como fator que contribuiu, conforme dizem analistas, para a entrada em recuperação judicial de empreiteiras como a Santa Bárbara e da EIT.
Outras empresas, principalmente as gigantes do setor, tentam acelerar sua internacionalização. Depois de consolidar sua presença na América Latina e na África, um grupo de construtoras se expande agora em outros mercados do mundo emergente, como o Oriente Médio. A OAS já passou na pré-qualificação para participar da construção do porto de Doha, no Catar. A Andrade Gutierrez busca entrar na construção do metrô da cidade.
Já a Odebrecht, que tem se expandido até nos EUA, fechou recentemente contrato de US$ 362 milhões para uma estação de saneamento em Abu Dhabi.
Fonte: Valor
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