A recuperação do comércio mundial esperada para este ano deverá ser retardada pela epidemia do novo coronavírus, e a desaceleração das exportações da América Latina deve continuar, conforme diferentes analistas.
O Barômetro do Comércio de Bens, da Organização Mundial do Comércio (OMC), já apontou mais enfraquecimento das exportações e importações no primeiro trimestre de 2020, no rastro da epidemia, que, agora, tem contaminados em 37 países.
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Os sinais crescem à medida que as ações tomadas pelos países para conter o coronavírus afetam os fluxos comerciais, principalmente nos emergentes da Ásia, aponta a consultoria Capital Economics, em Londres.
As exportações em valor da Coréia do Sul caíram fortemente nos primeiros 20 dias de fevereiro. A baixa foi de 20% nas vendas para a China, ilustrando a que ponto a demanda de produtos importados declinou na segunda maior economia do mundo.
Mercados desenvolvidos também se mostraram vulneráveis à epidemia do vírus. A consultoria britânica calcula que as exportações da Austrália podem cair pelo menos 3% em fevereiro.
Na América Latina, com grande oferta de commodities, o cenário não é melhor. No quarto trimestre de 2019, as exportações da região já tinham contraído 1,2% em volume comparado ao trimestre anterior, diante da menor demanda global.
América Latina
Agora, o banco francês Société Générale (SG) projeta mais deterioração. Aponta crescimento negativo nas exportações do Brasil, México e Chile em 2020 e positivo, mas significativamente menor em que 2019, na Argentina e na Colômbia.
Para o banco, o cenário é mais difícil para Brasil, Chile e Peru, cujas exportações para a China representavam 26%, 33% e 28% do total embarcado, respectivamente, em 2018.
No caso das importações, somente no Brasil pode se esperar uma demanda maior. Em todo caso, como a fatia de comércio exterior no PIB brasileiro é relativamente baixa, o país está relativamente ''protegido'', na avaliação do banco, comparado à dependência de vendas externas no caso de México, Chile, Colômbia e Peru.
Numa avaliação da situação da China, o SG estima que as cadeias de valor em vários setores industriais, como automotivo e eletrônico, podem sofrer um ''congelamento total'' se a produção chinesa fracassar em retomar seu ritmo normal no prazo de um mês ou dois.
Nesse caso, demoraria mais a retomada da cadeia global de produção aos níveis normais mesmo após o fim da epidemia de Covid-19. Mais a prazo, o banco acha que essa situação pode levar mais companhias estrangeiras a diversificar suas cadeias de fornecedores fora da China, uma tendência que já começou no ambiente de guerra comercial entre Pequim e Washington. No entanto, a questão é até que ponto outras economias e regiões estarão imunes aos riscos da epidemia.
Economistas do SG na Ásia calculam que a taxa de utilização das indústrias na China está somente pouco acima de 50%, afetada por escassez de trabalhadores, falta de demanda e disrupção nas cadeias de fornecedores.
Um levantamento setorial mostra que, no varejo, grupos de luxo como LVMH, Kering e Moncler deverão ter perdas de 10%, pelo menos na China, em 2020. Já as vendas on-line de alimentos frescos aumentaram entre 200% e 300% em base anual durante o período de férias recente. Também a venda de equipamentos eletrônicos cresceu bastante, numa demanda relacionada a mais trabalho feito a partir de casa.
Quase 80% de todos os hotéis paralisaram suas operações. A baixa também tem sido significativa nos restaurantes.
As vendas de carros na China afundaram 90% nas primeiras duas semanas de fevereiro, comparado ao mesmo período ano passado. As vendas de imóveis tiveram redução de mais de 50% em várias cidades.
As refinarias chinesas estavam processando 25% menos petróleo do que no ano passado, também com a menor atividade econômica no país.
Fonte: Valor