A surpreendente decisão da China de cortar os juros em 0,25 ponto porcentual para 6,31% ao ano terá um impacto positivo na economia brasileira, estagnada desde o início do segundo semestre de 2011. A avaliação é de economistas que atuam em Nova Iorque. Segundo eles, o estímulo monetário na China permitirá um avanço nas exportações brasileiras, com a melhora dos termos de troca, além de reforçar investimentos estrangeiros diretos (IED) e reanimar as expectativas de empresários.
“Essa ação inesperada vai ajudar o Brasil na venda de seus produtos para aquele país asiático e no ingresso de dólares via IED”, disse Tony Volpon, diretor de pesquisa para mercados emergentes na América Latina da corretora Nomura Securities. “Além disso, vai incrementar a percepção de que este parceiro comercial extremamente importante não vai apresentar um pouso forçado neste ano.”
Os economistas da corretora japonesa Nomura estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) da China crescerá 8,4% neste ano, acima do piso de 7,5% para o crescimento econômico estabelecido pelo governo chinês. Para os especialistas, a decisão do Banco Central Chinês (PBoC, na sigla em inglês) atenua o pessimismo que tomou conta dos mercados globais nas últimas semanas devido à paralisia política na zona do euro, que está em recessão.
Segundo Volpon, a “China salvou o mundo” em 2008 e 2009 quando adotou um robusto programa de investimentos próximo a US$ 500 bilhões com o objetivo de sustentar seu patamar de crescimento num momento em que a economia global ingressava na pior recessão desde a Grande Depressão de 1929. “Muito da expansão de 7,5% do PIB registrada pelo Brasil em 2010 foi motivada pela reação vigorosa da China com aquele pacote fiscal”, disse Volpon. Ele ressaltou que a vinculação da economia brasileira em relação à chinesa é tão forte que uma parcela da avaliação negativa de investidores em relação ao País surgida recentemente vinha da avaliação generalizada de que as autoridades em Pequim não agiriam com rapidez para sustentar seu padrão de expansão como fez há três anos.
Na opinião de Alberto Ramos, codiretor de pesquisas para a América Latina da Goldman Sachs, o corte dos juros na China “reduz as chances de revisar para baixo” sua previsão de crescimento de 2,9% para o Brasil neste ano. A sua projeção se tornou otimista em relação a uma série de revisões de estimativas do PIB nacional em 2012, ocorrida nesta semana depois de a economia ter registrado um fraco incremento de 0,2% no primeiro trimestre ante o anterior. A Nomura e a consultoria Tendências esperam que a economia brasileira tenha uma expansão de 1,9% neste ano, enquanto os economistas do Itaú Unibanco projetam alta de 2%. Para as consultorias MCM e LCA, essa taxa será de 2,2%. Na pesquisa Focus do Banco Central, divulgada na segunda-feira, a mediana das previsões para o PIB deste ano caiu de 2,99% para 2,72%.
Para Tony Volpon, o corte de juros na China melhora a sensação de investidores sobre os rumos da economia global neste ano, juntamente com a expectativa de que os bancos na Espanha poderão receber reforço de capital de instituições europeias e a adoção da terceira rodada da política de afrouxamento quantitativo (QE3, na sigla em inglês) pelos EUA. Apesar da decisão do Banco Central Europeu de manter os juros em 1% - o que decepcionou boa parte dos gestores de ativos financeiros pelo mundo - os mercados globais reagiram de forma positiva ao avanço da percepção de que o Federal Reserve vai adotar o QE3, sobretudo após a divulgação do baixo número de postos de trabalho criados em maio nos Estados Unidos, que ajudou a levar a taxa de desemprego para 8,2%.
A decisão do Banco Central Chinês, indiretamente, vem na direção do que pregou a presidente Dilma Rousseff nesta semana, quando disse em evento com o rei Juan Carlos, da Espanha, que a recuperação da economia mundial precisa ser uma “ação coordenada e solidária entre todos os grandes atores da economia mundial”.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)
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