Mesmo sem garantia de obter nada em troca, o Brasil decidiu fazer uma importante concessão unilateral aos Estados Unidos na área de comércio: flexibilizar a entrada de trigo importado no país.
Amanhã, quando os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump se encontrarem na Casa Branca, o governo brasileiro notificará a Organização Mundial do Comércio (OMC) a criação de uma cota com tarifa zero de importação para 750 mil toneladas anuais de trigo.
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Duro no discurso sobre concessões comerciais até a chegada em Washington, o governo Bolsonaro resolveu fazer "um gesto para mostrar que estamos mudando para valer" em termos de abertura, disse ao Valor um assessor presidencial.
Em 1994, ao fim da Rodada Uruguai da OMC, o Brasil se comprometeu a criar a cota com tarifa zero para o trigo. Mas jamais implementou a medida.
A alíquota para o insumo é de 10%. Hoje, somente países do Mercosul estão isentos da cobrança. A Argentina é a principal fornecedora do cereal.
A cota não beneficia diretamente, a rigor, apenas os Estados Unidos. Russos e canadenses também são importantes produtores mundiais e podem fornecer ao Brasil. Na prática, entretanto, são os americanos que já têm estruturas comerciais de abastecimento montadas e vão se beneficiar no curto prazo. Tanto que essa era uma das grandes demandas do USTR (unidade de representação comercial da Casa Branca) com o Brasil.
Apesar da medida, a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, manterá o discurso de que não se trata de uma concessão sem contrapartidas. Seus auxiliares garantem que, se houvesse mais algumas semanas para a visita, seria provavelmente possível anunciar a reabertura do mercado americano para a carne bovina brasileira.
Na negociação para essa reabertura, inspetores americanos precisam visitar frigoríficos brasileiros. Um dos pedidos do Ministério da Agricultura aos Estados Unidos, agora, é para que todo o território nacional seja reconhecido como livre de aftosa com vacinação. Hoje, esse status é dado a 14 Estados.
Fonte: Valor