Bancos que fazem empréstimo a empresas de comércio exterior adotam postura mais conservadora e aumentam taxas cobradas.
O temor crescente com a situação da dívida na Europa e as potenciais perdas que alguns bancos podem ter começam a afetar as linhas de financiamento ao comércio exterior disponíveis no Brasil.
As companhias já sentem uma menor disponibilidade de recursos e uma pequena elevação no preço dessas operações.
"Os prazos seguem iguais, mas ficou mais caro tomar dinheiro", diz a responsável pelo relacionamento com instituições financeiras do Standard Chartered, Germana Cruz.
A taxa final nessas operações, segundo a executiva, está na média entre 0,2 ponto percentual a 0,3 ponto percentual mais alta do que no primeiro semestre, sendo que a elevação pode ser ainda maior quando o recurso é proveniente de bancos europeus, que estão mais conservadores na cessão de crédito.
Nessas linhas de comércio exterior, o custo costuma ter como base uma taxa de juros internacional, em geral a Libor, mais um prêmio de risco cobrado pelo banco que está fazendo o empréstimo. O prêmio varia de 2% a 6% conforme volume, prazo e perfil do cliente.
Além do custo maior, Germana afirma que está mais difícil fechar o preço de algumas operações. Como exemplo, cita os empréstimos sindicalizados, mesmo os que estão atrelados ao comércio exterior. Nesse tipo de operação, um grupo de bancos fornece os recursos para viabilizar o projeto de uma determinada empresa.
Já os empréstimos bilaterais - em que um banco cede recursos em dólares ou euros para que o outro possa financiar o comércio exterior de seus clientes -, ocorrem sem grandes dificuldades, afirma a executiva do Standard.
Os exportadores também já sentiram essa elevação de custo e têm consciência que as linhas globais sofreram uma retração. "Sentimos a oferta um pouco reduzida e o preço também subiu", afirma o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Apesar da piora nas condições, Castro não acredita que o mercado de financiamento ao comércio exterior reviverá os momentos de tensão de 2008, quando a quebra do Lehman Brothers (instituição atuante nesse mercado) secou as linhas em todo o mundo. "O que acontece agora é só que os bancos estão mais cuidadosos. É natural em uma crise", diz.
Mesma visão tem o diretor de empresas do Santander Brasil, João Consiglio, que acredita que o problema atual é localizado e não há risco de uma crise de liquidez como a ocorrida há três anos. "Quem dá liquidez ao financiamento de comércio exterior são os bancos europeus, que estão mais retraídos. O mundo hoje está um pouco mais complicado do que era no primeiro semestre", avalia. Em relação à demanda, Consiglio afirma que está no mesmo nível do início do ano.
Essa redução da liquidez, na avaliação do presidente do HSBC Brasil, Conrado Engel, decorre da necessidade de alguns bancos atuantes nesse mercado se precaverem contra possíveis perdas devido à crise atual. "Existe uma redução das linhas globais de comércio, principalmente porque alguns bancos estrangeiros precisam cobrir posições na origem", explica.
O Banco do Brasil, maior financiador do comércio exterior no país, afirma que ainda não houve necessidade de reduzir os prazos das linhas de crédito. "Mantemos linhas de até 750 dias se estiver de acordo com o ciclo do financiamento da operação", diz o gerente executivo de negócios internacionais, Wladimir Olchenski.
Fonte: Brasil Econômico/Ana Paula Ribeiro
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