São Paulo - Mais um capítulo na intrincada disputa pelo controle acionário da Usiminas foi revelado ontem. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) voltou a atuar no mercado secundário de ações e elevou sua participação na siderúrgica concorrente. Com isso, passou a deter 10,01% das ações ordinárias (ON), com direito a voto, e 5,25% dos papéis preferenciais. Para analistas de mercado, a CSN pode estar se preparando para utilizar os papéis como um veículo de investimento e deverá deixar a concorrente em um momento mais favorável para a venda dos ativos.
Com isso, a empresa comandada por Benjamim Steinbruch se aproxima ainda mais do grupo de acionistas do bloco controlador da sua concorrente direta pelo mercado nacional de aços planos. Atualmente, a Caixa de Empregados da Usiminas (CEU) detém 10,1% do capital votante, o Grupo Nippon Steel possui 27,8% e o grupo formado pela Votorantim e Camargo Corrêa possui 26%. Além disso, a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) tem 10,4% do capital votante da empresa mineira.
Apesar deste novo avanço, em março, a CSN detinha 8,6% dos papéis ordinários e afirmou não pretendia ir além dos 10%. No mesmo período, a quantidade de ações preferenciais chegava a 5%.
Para a realização do negócio, a CSN já havia se capitalizado ao recuar na decisão de não vender a totalidade de ações, 19,9%, que ainda mantinha na mineradora australiana Riversdale para a Rio Tinto. A negociação dessa fatia levou a um ganho de US$ 830 milhões. Ainda na semana passada, segundo um comunicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia captou recursos por meio de uma operação de crédito no valor de R$ 1,5 bilhão com o Banco do Brasil.
De acordo com o professor de Mercado Financeiro da faculdade Ibmec Educacional/MG, Alexandre Galvão, esse movimento de aproximação da CSN ao bloco controlador da concorrente é uma manobra que visa a aumentar o poder de barganha e negociação. "Por enquanto a CSN deve ganhar peso e influência ao valorizar a posição de acionistas entre o bloco controlador para depois seguirem um rumo mais definido", avaliou ele.
O fato de ter uma participação minoritária se comparada à do bloco controlador coloca a empresa ainda em uma posição que não oferece risco de monopólio. "No entanto acaba mantendo o interesse dos grupos que podem perder espaço no comando", acrescenta o professor.
Divergências
Para um analista de mercado que preferiu não se identificar, a CSN deve agir de forma similar ao negócio fechado com a Rio Tinto. A estratégia seria reunir um valor considerável de ações para vendê-las na última hora, durante um momento de disputa pelo controle. Ainda segundo o analista, a venda é o caminho mais provável porque o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não permitiria o monopólio e ainda há o contrato de imutabilidade do bloco de acionistas controladores, que mantém a preferência na venda de ações ordinárias entre os integrantes. "Não vejo sentido na empresa aumentar o capital votante na Usiminas porque causaria desconforto entre as siderúrgicas", analisa ele. "A Gerdau seria mais bem aceita por fabricar aço longo, um produto diferente, o que geraria sinergia", apontou ele.
Já outro analista, discorda. Leonardo Nunes acredita que estratégia de aquisição de ações da concorrente revela que a CSN deverá centrar-se na atividade siderúrgica no País. Essa motivação, continuou ele, é o reflexo do momento econômico que o Brasil vive e que leva ao aumento da demanda interna e ao crescimento das vendas. "Portanto, a CSN não deverá se desfazer desses ativos tão facilmente", disse.
Fonte: O POvo (CE)/Caio Luiz
PUBLICIDADE