SÃO PAULO - A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) questiona a administração da Usiminas, em anúncio publicado na edição de hoje do jornal Valor. As críticas são direcionadas aos dois principais controladores, Nippon Steel & Sumitomo Metal e Ternium-Techint. No aviso, a CSN diz ter um “compromisso irrevogável” com o sucesso da empresa mineira.
A companhia, que é a maior acionista brasileira da Usiminas, com 17,4% de seu capital social e 14,1% das ações ordinárias, reclamou do aumento de capital de R$ 1 bilhão atualmente em curso na siderúrgica de Minas, que potencialmente dilui minoritários, e lembrou que dividendos pagos pela Mineração Usiminas (Musa), no passado, seriam suficientes para sanar as finanças de agora.
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Para a companhia de Benjamin Steinbruch, que pagou cerca de R$ 3 bilhões para ter a participação na Usiminas, a Musa deixou de distribuir os proventos, pedidos pela própria CSN e por outros acionistas na época, e guardou as reservas de capital em seu caixa. Hoje, a Usiminas tenta acessar o caixa de R$ 1,3 bilhão da Musa, empresa na qual é sócia com a japonesa Sumitomo.
A diretoria da Usiminas negocia com a Sumitomo, que tem 30% do negócio, o acesso a esses recursos, que ajudariam a recompor a liquidez – habilidade de cobrir dívidas no curto prazo – do grupo. Além disso, a capitalização de R$ 1 bilhão também vai reforçar o caixa, sendo que na segunda rodada de sobras já são R$ 999,97 milhões garantidos.
A CSN também decidiu participar do aumento de capital da Usiminas, mas realizou depósitos em juízo de R$ 179 milhões. Isso pode travar a capitalização e, consequentemente, a renegociação do endividamento que já foi acertado com bancos brasileiros e debenturistas.
Um advogado com conhecimento da situação, entretanto, disse ao Valor que bastaria a transação ser homologada, em assembleia geral extraordinária marcada para 19 de julho, para que o contrato com os bancos se mantenha. Segundo ele, não necessariamente a entrada do dinheiro em caixa seria necessária.
No anúncio, a CSN ainda reclama dos contratos com partes relacionadas que chegam a “R$ 20 bilhões” entre a Usiminas e a Nippon Steel e pede que sejam questionados. No formulário de referência atualizado no dia 14, contudo, eles somam R$ 1,1 bilhão, com saldo existente de R$ 651 milhões. A própria CSN aparece com R$ 309,7 milhões, saldo de R$ 89,5 milhões.
A siderúrgica de Steinbruch reforça a tese de que, na verdade, os japoneses venderam o controle total da Usiminas à Ternium-Techint em troca desses contratos. A CSN também volta a reclamar da entrada do grupo ítalo-argentino no capital social, em 2010, que em sua visão ensejaria o direito de retirada aos minoritários.
“[A aquisição da Ternium] foi uma das maiores afrontas ao direito de minoria já cometidas no mercado de capitais brasileiro”, declarou a CSN.
O texto também questiona o desligamento da área primária da unidade de Cubatão (SP), a antiga Cosipa, e a demissão de quase 2.500 funcionários desde o segundo semestre do ano passado. Não faz sentido, disse a CSN, a Cosipa “não servir” para a Usiminas, mas sim para a Ternium, que ficaria com a usina em uma eventual divisão da empresa mineira.
Segundo fontes próximas aos dois controladores, uma das soluções para o embate societário que Nippon Steel e Ternium travam há anos seria a partilha da companhia. A solução mais aventada deixaria Cubatão para os argentinos e Ipatinga (MG) para os japoneses. Não há um consenso nessas negociações, entretanto.
A CSN estranha, de acordo com o anúncio, que ambos “briguem” no Brasil, mas “andem de mãos dadas” em outros lugares, como o México, onde dividem a gestão da Tenigal, de aços revestidos. “Esse aumento de capital facilitará a partilha da Usiminas”, opinou a CSN, e “minoritários da Usiminas assistem estupefatos à degradação da companhia”.
Fonte: Valor Economico/Renato Rostás