A demanda global por petróleo deverá cair 9,3 milhões de barris por dia este ano, já que os bloqueios implementados pelos governos mantêm a economia quase paralisada, informou a Agência Internacional de Energia (AIE) nesta quarta-feira.
Em seu relatório mensal do mercado de petróleo, observado de perto pelos investidores e analistas, a AIE projetou que a demanda por petróleo cairá em abril em 29 milhões de barris por dia, para níveis nunca vistos em um quarto de século. Isso equivaleria a aproximadamente 29% da demanda diária de petróleo de 100 milhões de barris do mundo a partir de 2019.
PUBLICIDADE
Os preços do petróleo operam com sinais opostos nesta tarde. Às 15h21, o petróleo Brent, referência mundial, perdia 5,03%, para US$ 28,11 por barril. O WTI, referência dos EUA, subia 0,75%, para US$ 20,26 por barril.
“A economia global está sob pressão de maneira nunca vista desde a Grande Depressão; as empresas estão falindo e o desemprego está aumentando”, disse a AIE, acrescentando que as medidas de confinamento levaram “a atividade no setor de transportes a cair drasticamente em quase todos os lugares.”
“Quando olhamos para 2020, podemos ver que foi o pior ano da história dos mercados de petróleo e o segundo trimestre pode ter sido o pior de todos”, disse Fatih Birol, diretor executivo da AIE. “Nesse trimestre, abril pode ter sido o pior mês. Pode ficar marcado como o 'Abril Negro' na história da indústria do petróleo.”
A agência disse que espera uma queda de 4,8% no crescimento econômico global este ano.
O relatório vem dias após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outros produtores, incluindo a Rússia, concordarem em fazer cortes históricos na produção, com o objetivo de mitigar o impacto sobre a demanda global pelos efeitos da pandemia. A AIE prevê que o acordo contribua para uma queda recorde de 12 milhões de barris por dia no suprimento global de petróleo em maio.
Ainda assim, os preços do petróleo caíram desde o anúncio do acordo, com bilhões de pessoas permanecendo trancadas em casa por um período indeterminado.
“Não existe um acordo viável que possa reduzir a oferta o suficiente para compensar essas perdas de demanda no curto praz”, afirmou a AIE.
Mesmo depois de abril, a organização com sede em Paris espera que a demanda seja 26 milhões e 15 milhões de barris por dia menor em maio e junho do que no ano anterior.
A agência ecoou o que analistas e traders dizem, qual seja, que mesmo o acordo de corte de produção falharia em impedir que as instalações globais de armazenamento fossem sobrecarregadas.
Com cerca de 1,2 bilhão de barris de armazenamento disponíveis no final de janeiro, a AIE prevê que os estoques globais possam aumentar em 11,9 milhões de barris por dia no segundo trimestre, atingindo os limites de “capacidade operacional” até o meio do ano.
A quantidade de petróleo no armazenamento flutuante - em navios no mar - aumentou 27%, para 103,1 milhões de barris em março, disse a AIE.
Também é esperado que a atividade global de refino tenha forte queda, de mais de 9% este ano, com “cortes e paralisações generalizadas em todas as regiões”, disse a AIE.
Embora as medidas acordadas ”não reequilibrem o mercado imediatamente”, elas diminuirão o pico de oferta previsto para entrar no mercado e “ajudarão um sistema complexo a absorver o pior dessa crise, cujas consequências para o mercado de petróleo permanecem muito incertas no curto prazo”, afirmou a AIE.
Fonte: Valor