Dez grupos vão disputar, no mês que vem, o arrendamento do terminal de gás natural liquefeito (GNL) da Petrobras, na Bahia. A estatal brasileira vai licitar a planta de regaseificação da Baía de Todos os Santos no próximo dia 30 de setembro, numa concorrência que sedimenta o caminho para a abertura do mercado brasileiro de gás natural, já que permitirá ao novo operador entrar com gás importado na malha interligada de gasodutos do país.
Grandes multinacionais do setor manifestaram interesse no ativo, que será arrendado até o fim de 2023. A lista de pré-qualificados para a licitação inclui desde grandes fornecedoras globais de gás, como a BP, Shell, Total e Repsol LNG até empresas com expertise na infraestrutura de GNL, como a Golar Power, Excelerate Energy e a Naturgy (por meio da Gás Natural do Brasil S.A.). Já entre as companhias de origem nacional estão a comercializadora Compass (da Cosan), a Eneva e a Bahiagás, distribuidora estadual de gás canalizado que opera na região.
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O arrendamento do terminal baiano está previsto no termo de compromisso assinado pela Petrobras, há um ano, com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), para abertura do mercado brasileiro de gás natural. A planta tem capacidade para importar até 20 milhões de metros cúbicos diários (m³/dia), o equivalente a um quarto da demanda nacional.
O presidente da consultoria Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto, destaca que a licitação da planta de GNL da Bahia é representativa para o processo de abertura, já que o terminal se tornará o primeiro do tipo a ser operado pela iniciativa privada com condições de acessar a malha de gasodutos do país. As plantas de regaseificação da Celse (Golar/EBrasil Energia) no Sergipe e a da Gás Natural Açu (Prumo Logística/Siemens/BP), no Porto do Açu, em São João da Barra (RJ), as primeiras construídas por empresas privadas no Brasil, ainda não estão conectadas ao sistema nacional.
“O arrendamento representa uma janela de oportunidade para que o mercado brasileiro possa beber da competitividade global do GNL. Existe, hoje, um cenário de sobreoferta no mercado global, os preços estão muito baixos e o Brasil pode se tornar, nesse contexto, um mercado atraente para os grandes fornecedores de gás no mundo, sobretudo entre os produtores do Golfo do México”, afirma.
A abertura do terminal baiano ocorre num momento em que a crise econômica desencadeada pela pandemia da covid-19 pressiona para baixo a demanda do mercado, o que pode tornar mais difícil a situação do novo operador da planta de GNL. Moreira Neto não acredita, contudo, que este seja um entrave para a atratividade da concorrência, uma vez que as indústrias têm buscado, nesse momento, justamente, oportunidades de reduzir seus custos com energia e apostam no mercado livre. “As indústrias não perderam o interesse pela abertura do mercado durante a pandemia”, disse.
Ele pontua, no entanto, que as companhias interessadas em se posicionar no mercado brasileiro de gás ainda esbarram em outros aspectos, como a falta de previsibilidade sobre quando serão realizadas as chamadas públicas para contratação de capacidade dos gasodutos. Por isso, o consultor acredita que, no curto prazo, o terminal pode atrair o interesse de empresas como a Golar e a Eneva, que tem projetos já em desenvolvimento no Brasil para escoamento de GNL via caminhões.
A Golar Power, por exemplo, tem um acordo com a empresa de logística Alliance GNLog para a criação de uma infraestrutura de abastecimento de caminhões movidos a GNL no país e também possui uma parceria com a BR Distribuidora para desenvolver o negócio de distribuição de GNL de pequena escala. No mês passado, a Golar fechou um contrato para o fornecimento de 40 mil m³/dia com a distribuidora pernambucana Copergás. Já a Eneva está construindo um projeto termelétrico em Roraima que será abastecido pelo gás natural produzido no campo de Azulão, no Amazonas, por meio de carretas de GNL.
“Falta uma previsibilidade para as empresas de quando elas poderiam acessar a malha de gasodutos, mas eventualmente os novos operadores do terminal de Bahia podem vislumbrar, no curto prazo, uma logística com base em caminhões. Esse tipo de solução guarda sinergias com as estratégias da Eneva e da Golar, hoje. Essa sinergia coloca elas no jogo, em condições de competir com as grandes multinacionais”, comentou.
A concorrência representa para algumas empresas a oportunidade de reforçar a presença no mercado brasileiro de gás — caso da Shell, Golar e Eneva, por exemplo. Para outras companhias, significa uma janela de oportunidade para a entrada de novos atores. Moreira neto cita o caso da BP, que é sócia da GNA, no Açu, mas que ainda não tem condições de colocar o seu gás na malha. Ele aposta, ainda, no interesse da Shell. “A Shell precisa vender o gás dela no pré-sal e o GNL pode ajudá-la a montar um portfólio com mais flexibilidade e fortalecer a posição dela pra vender o gás do pré-sal”, afirma o consultor.
Fonte: Valor