Até 2020, o Brasil deverá reduzir a dependência do gás boliviano, hoje  responsável por 45% da oferta de gás no país, para 16%. Isso será  possível graças ao aumento da produção da Petrobras a partir das  descobertas do pré-sal e o aumento da oferta em função da entrada de  empresas como a OGX, que tem grandes reservas no Maranhão. O Plano  Decenal de Energia 2011/2020, que o Ministério das Minas e Energia  colocou em consulta pública, aponta para uma demanda total em 2020 de  168,74 milhões de m3 /dia, considerando o funcionamento pleno das usinas  térmicas a gás e bicombustíveis.
 
 A previsão de potencial de oferta para o mesmo ano é de 192,99 milhões  de m3 /dia considerando a produção de campos descobertos e  não-descobertos, a importação máxima da Bolívia de 30,08 milhões de m3  /dia e a importação máxima de gás natural liquefeito (GNL) de 21 milhões  de m3 /dia. Em junho de 2011, a demanda não termelétrica média foi de  52,26 milhões de m3 /dia e a termelétrica, de 11,95 milhões de m3 /dia. A  oferta de gás natural nacional foi de 34,82 milhões de m3 /dia, a de  gás boliviano, de 28,44 milhões de m3 / dia, além da oferta de GNL de  0,95 milhões de m3 /dia.
 
 Com números um pouco diferentes, a Petrobras projeta em 2011 uma demanda  de 96 milhões de m3 /d para uma oferta de 106 milhões de m3 /d. Em  2020, a oferta crescerá 61%, para 173 milhões de m3 /d, mas a demanda  subirá para 200 milhões m3 /d. Segundo Maria da Graça Foster, diretora  de gás e energia, apesar desses indicadores, não haverá déficit. "Até lá  haverá tempo para implementar soluções de suprimento, como uma oferta  adicional, fruto do amadurecimento da produção em relação às  expectativas de produção do pré-sal, ou mesmo a instalação do quarto  terminal de regaseificação do GNL", diz.
 
 A Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e  de Consumidores Livres (Abrace) considera as previsões da estatal  conservadoras e está otimista em relação à produção da Petrobras e de  outras empresas, como a OGX, BG, Queiroz Galvão e Exxon. Segundo Paulo  Pedrosa, presidente executivo da entidade, o mercado de gás não será  restringido pela oferta e, sim, pela demanda.
 
 "A procura não cresce porque o preço do gás no Brasil é três vezes maior  do que os nossos concorrentes industriais pagam no exterior. O preço  ainda é formulado com base no Brasil do passado e entendemos que essa é  uma questão de política pública, que deveria usar as reservas para  aumentar a competitividade do país", diz.
 
 Técnicos do Ministério das Minas e Energia (MME) defendem que no Brasil o  preço do gás natural seja livre, por lei. Alegam que, com o novo marco  regulatório, haverá incremento na oferta de gás natural. Assim, a  tendência é existir maior equilíbrio entre oferta e demanda.
 
 Para Graça, a formação do preço não se discute. As empresas têm suas  políticas comerciais e a forma como os preços são estabelecidos é fixada  nos contratos firmados entre a Petrobras e as 21 distribuidoras  operacionais. "A formação de preço é uma equação confidencial. A  Petrobras vende gás para as distribuidoras e elas definem o preço para o  segmento industrial. E tudo é aprovado pela Agência Estadual",  argumenta.
 
 No Plano de Negócios 2011-2015, a área de gás e energia da Petrobras  teve os investimentos reduzidos para US$ 13,2 bilhões. Mas a diretora  nega um corte de US$ 4,6 bilhões nos projetos e justifica: 2010 foi um  ano de conclusão de uma série de obras relevantes, como o gasoduto  Gasene. Outros três projetos tiveram sua data de entrada em operação  ajustada. São eles a unidade de fertilizantes nitrogenados, a unidade de  GTL Parafinas e o ambicioso plano inédito de se transformar o gás em  liquido e transportá-lo em navio construído especificamente para esse  fim.
 
 O plano prevê ainda oito novos pontos de entrega de gás natural, atuação  na cadeia de GNL - regaseificação e liquefação - para escoamento do gás  do pré-sal e atendimento do mercado termelétrico. Mas a maior parte dos  investimentos, US$ 5,9 bilhões, será destinada para a planta de gás  química, com cinco unidades para a conversão de gás natural em ureia,  amônia, metanol e melanina, entre outros produtos.
 
 A participação da estatal no mercado de térmicas é um ponto polêmico,  especialmente após a vitória no último leilão de energia, com um projeto  de 500 MW e planos de aumentar a capacidade atual de 6.500 MW. Isso  tornará a empresa a maior geradora desse tipo de energia, embora seja a  fornecedora de gás para os investidores privados do setor. Segundo  Graça, a Lei do Gás, criou a figura do autoprodutor, aquele que produz e  consome gás. "A Petrobras foi aceita como produtora de energia  elétrica, assim como outras empresas que foram habilitadas a participar  do leilão", defende
 
 A OGX, também deverá atuar como autoprodutora destinando a produção de  suas reservas na Bacia do Parnaíba, no Maranhão, preferencialmente às  termelétricas que a MPX, a empresa de energia do grupo, vai construir em  associação com a Petra Energia S.A., ambas parceiras da OGX no bloco  PN-T-68. O plano de investimentos da OGX Maranhão, de 2009 a 2013, fica  entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões. O início da produção de gás está  previsto para o segundo semestre de 2012 nos campos Gavião Azul e Gavião  Real, que deverão englobar 23 poços e atingir uma produção de 5,7  milhões de m3 /dia em 2013.
 
 A MPX adquiriu o terreno para construção de uma termoelétrica no  município de Santo Antônio dos Lopes, no interior do Maranhão, e obteve  licença de instalação de 1.863 MW, sendo que outros 1.859 MW adicionais  estão em licenciamento. "Além disso, a OGX Maranhão está estudando  outros usos para esse produto, como industrial e residencial, entre  outros. Inclusive, a OGX e a MPX assinaram um termo de cooperação com o  Governo do Maranhão para que esses estudos sejam feitos", diz Paulo  Mendonça, diretor geral da OGX.
 
 O potencial das reservas do Maranhão é de 11 trilhões de pés cúbicos  (Tcf) de gás, segundo estudos da consultoria DeGolyer & MacNaughton.  Além do gás na Bacia do Parnaíba, existem ainda boas perspectivas de  gás não associado principalmente na Bacia de Santos. Recentemente, a OGX  concluiu o primeiro teste de formação nessa bacia, no poço OGX-47, em  Maceió, com três intervalos produtores, que indicou potencial produtivo  de 1 milhão de m3 /dia em poço vertical, podendo atingir até 2,5 milhões  de m3 /dia em poço horizontal.
Fonte:Valor Econômico/Por Carmen Nery | Para o Valor, do Rio
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