O forte endividamento acumulado pelas companhias de petróleo nos últimos anos explica em parte o colapso no preço do produto e pode deixar empresas do setor mais vulneráveis nos países emergentes, avalia o Banco Internacional de Compensações (BIS), em estudo divulgado às vésperas da reunião ministerial do G-20.
Após ter permanecido relativamente estável por quatro anos, em US$ 100, o preço do barril degringolou e caiu cerca de 50% desde junho de 2014. Para o BIS, espécie de banco dos bancos centrais, recentes mudanças na produção e consumo de petróleo não são suficientes para explicar a extensão e duração dessa queda.
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Para a organização, deve-se levar em conta o papel do petróleo como ativo financeiro e sua sensitividade a expectativas e apertos financeiros. Nesse contexto, segundo o BIS, a recente decisão da OPEP, o cartel de produtores, de não cortar a produção foi central para derrubar o preço.
Mas o BIS desta vez vai além e aponta outros fatores que exacerbaram o declínio na cotação do barril. Julga que um elemento novo importante é a substancial elevação da dívida do setor de petróleo nos últimos anos.
Essa dívida quadruplicou de US$ 200 bilhões para US$ 800 bilhões entre os anos de 2003 e 2014, quando investidores demonstravam maior disposição de emprestar, recebendo receita e reservas de petróleo como garantia.
Nesse cenário de alto endividamento, uma baixa no preço do barril fragiliza o balanço dos produtores, potencialmente exacerbando a baixa da cotação como resultado de mais vendas de petróleo. Por exemplo, mais produção é vendida no mercado futuro.
O preço menor reduz o dinheiro em caixa e aumenta os riscos de problemas de liquidez, com os quais as empresas podem ficar incapazes de honrar certos pagamentos. Requerimentos do serviço da dívida podem induzir a manutenção de produção física do petróleo para manter o fluxo de dinheiro, atrasando a redução da oferta no mercado.
Para o BIS, um fator adicional que pode amplificar o declínio na cotação do barril é que muitas petroleiras estão localizadas fora dos EUA, mas se endividaram em dólar.
O banco mostra que as companhias de petróleo de mercados emergentes foram as que tiveram a maior alta no endividamento. E se o dólar mais forte for acompanhado por aperto nas condições financeiras, a estimativa é que as petroleiras dos países emergentes, que se endividaram muito, poderão ser particularmente afetadas.
O endividamento expôs os produtores a mais riscos de solvência e liquidez. E os "spreads" sobre os títulos de dívida do setor de energia aumentaram. Para o BIS, em períodos de maior volatilidade e tensão nos balanços de empresas alavancadas, oferta de acordos de "swap" estarão menos disponíveis para vender proteção a produtores de petróleo.
Fonte: Valor Econômico/Assis Moreira | De Istambul