A falta de um consenso entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) sobre o congelamento da produção de petróleo, na reunião de domingo, em Doha, no Catar, lança dúvidas sobre a capacidade de recuperação dos preços do barril a partir do segundo semestre, conforme esperado no mercado. A avaliação é do professor do grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEE/UFRJ), Edmar de Almeida, que não vê motivos para se acreditar numa guinada dos preços da commodity no curto prazo, enquanto não houver um acordo entre os grandes exportadores sobre o teto sustentável de produção.
Ontem, impactada pelos resultados da reunião de Doha, a cotação do Brent abriu o dia com queda de 2,48%, a US$ 42,03, em Londres. O barril chegou a atingir uma redução de 6%, mas ao longo do dia as perdas foram recuperadas pelo efeito de uma greve no Kuwait e fechou com queda de 0,67%, a US$ 42,77.
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Segundo Almeida, os preços do barril são impactados sempre por dois fatores: pelos fundamentos do mercado (oferta x demanda) e pela coordenação entre membros da Opep e não-Opep. O especialista destaca que os grandes produtores não chegam a um consenso sobre os níveis de produção desde 2014 e que, sem um entendimento, a cotação da commodity tem sentido os efeitos da desaceleração da economia global.
"A economia mundial não está, tecnicamente, numa recessão, mas o crescimento está muito baixo. A esperada recuperação dos preços do barril acabará sendo adiada, a não ser que haja uma intervenção da Opep, porque há um excesso da oferta que não está sendo digerido pela demanda", explica Almeida.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a desaceleração do consumo já é uma realidade. Dados preliminares da entidade mostram que, no primeiro trimestre de 2016, o crescimento da demanda por petróleo foi de 1,2 milhão de barris/dia, contra a média de 1,4 milhão de barris diários no quarto trimestre de 2015.
A AIE estima que a demanda por petróleo cresça 1,2 milhão de barris diários, volume abaixo do patamar de 1,8 milhão de barris/dia registrado no ano passado, em função da desaceleração das economias da China, Estados Unidos e Europa.
Não bastasse a redução do ritmo de crescimento do mercado global, Almeida destaca que existem fatores pressionando a oferta para cima, como o aumento da produção do Iraque. Ele lembra ainda da dificuldade dos membros da Opep em chegarem a um acordo com o Irã, que se prepara para retomar a sua produção após o fim do bloqueio europeu e é contrário a um plano de congelamento dos níveis de produção de óleo.
"Os analistas começam a ficar mais pessimistas com os fundamentos do mercado. Não há motivos para se acreditar na recuperação dos preços do barril no curto prazo", disse o professor.
De acordo com a Agência de Informação sobre Energia dos EUA (EIA, do inglês U.S. Energy Information Administration), a previsão é que a cotação média do Brent em 2016 se mantenha próxima dos patamares atuais e gire em torno dos US$ 35 o barril. No ano, a cotação média é de US$ 36,74.
De acordo com relatório divulgado pela EIA na semana passada, a expectativa é que os estoques de óleo cresçam 400 mil barris/dia e que a recuperação dos preços se dê de forma "moderada" em 2017. A projeção da agência é que a média de preços do barril fique em US$ 41 no ano que vem, mas que o "mercado fique relativamente balanceado" no fim do ano e atinja os US$ 46 no quarto trimestre.
Mesmo sem um entendimento entre os membros da Opep, Edmar de Almeida, no entanto, destaca que o encontro em Doha teve seu lado positivo, por ter iniciado um canal de negociação entre os integrantes do cartel.
"Doha mostrou que se começa a melhorar o canal de negociação entre os países da Opep. Eles já estão sentando na mesa para discutir. Em algum momento pode ser que haja alguma convergência", afirmou.
Fonte: Vaor Econômico/Por André Ramalho | Do Rio