A situação financeira da Usiminas ficou mais crítica neste trimestre, conforme avaliações de especialistas do mercado. Isso levará a empresa a fazer uma megaoperação de aumento de capital. Alguns cálculos apontam pelo menos R$ 1,5 bilhão. A operação de oferta de ações desenhada pela empresa poderá contar ainda com venda de alguns ativos.
As informações nos últimos dias indicam que já está tomada a decisão pela diretoria, conselho e os acionistas controladores Nippon Steel e grupo Techint. Motivo: o desempenho financeiro da empresa no segundo trimestre será pior que o do primeiro, quando apresentou resultado operacional (Ebtida) de R$ 190 milhões e terminou com prejuízo de R$ 37 milhões.
A dívida líquida da Usiminas, de R$ 3,94 bilhões no fim de março, em relação ao Ebtida dos 12 últimos meses, atingiu mais de três vezes. Com a previsão de um lucro operacional inferior ao fim deste trimestre, a projeção é de que esse índice supere a marca de cinco vezes no período julho de 2011 a junho deste ano.
Não há mágica a ser feita, aponta uma fonte. A questão é que a empresa não sinaliza nenhuma melhoria em seus resultados futuros e tem de continuar investindo no negócio que pode render maior geração de caixa, a mineração de ferro. A fase dos investimentos pesados virá de agora em diante. Ao todo, são R$ 4,5 bilhões até 2015.
No trimestre passado, a Usiminas apresentou Ebtida de R$ 111 milhões em mineração, com margem de 46%, e de apenas R$ 100 milhões em siderurgia, com a irrisória margem de 3,9% em seu principal negócio.
Para que a companhia mineira equilibre seu nível de endividamento líquido, voltando a duas vezes o Ebitda (patamar aceitável para companhias de commodities), a empresa teria de levantar pelo menos R$ 2 bilhões em capital novo, avaliam fontes do setor. O Ebitda projetado para 2012 é da ordem de R$ 1 bilhão a R$ 1,1 bilhão, ante desembolsos previstos de R$ 2,5 bilhões.
Uma das alternativas é compor a oferta de ações com venda de ativos, indicam. No ano passado, a Usiminas chegou a contratar o BTG Pactual para atrair compradores para a controlada Usiminas Automotiva, que faz peças e cabines de caminhões e ônibus. Outro ativo que entrou no crivo foi a Usiminas Mecânica, de bens de capital. Todo o processo foi congelado com a chegada da Techint ao bloco societária da siderúrgica.
Conforme avaliações de analistas, a Usiminas Mecânica pode ser vendida por aproximadamente R$ 800 milhões, enquanto a Automotiva é avaliada em torno de R$ 300 milhões.
Na semana passada, investidores de debêntures da empresa aprovaram, com votos contrários em assembleia, proposta que não obriga a companhia a manter o indicador "dívida líquida por Ebitda" nos períodos que serão encerrados no fim de junho e de dezembro. Segundo a escritura de emissão dos títulos, o índice teria que ser igual ou inferior a 3,75 vezes.
O mercado também avalia que uma fusão de Ternium, que tem operações na Argentina, México e EUA, com a Usiminas seria outro caminho alternativo. A união das duas empresas teria uma alavancagem em torno três vezes o Ebitda combinado no fim do ano. A questão é convencer os acionistas japoneses a aceitar essa proposta, pois o controle da nova empresa ficaria com os argentinos.
Para a Techint, dona da Ternium, pode ser interessante. O grupo, que pagou R$ 36 por ação na compra de 27% da Usiminas no fim de novembro - um prêmio altíssimo para entrar no bloco de controle da siderúrgica mineira - já viu seu investimento esfarinhar 73%.
Na sexta-feira, a ação com direito a voto (Usim3) fechou cotada na BM&FBovespa a R$ 9,70. No fim do primeiro trimestre, o papel era negociado a R$ 19,80. O valor de mercado da empresa despencou de R$ 12,2 bilhões do fim de março para R$ 7,4 bilhões na semana passada.
Fonte: Valor Econômico
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