Um segundo empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal para a Petrobras em junho, que veio a público anteontem quando o Banco Central divulgou os dados de crédito relativos ao mês passado, está dando o que falar. Um primeiro empréstimo de igual valor foi concedido em 2008, no auge da crise financeira internacional. A nova operação levantou dúvidas sobre a capacidade do caixa da companhia, uma eventual dificuldade para acessar o mercado internacional ou uma taxa de investimento superior à geração de caixa com suas atividades. O fato de o empréstimo, uma Nota de Crédito à Exportação, ter sido contratado junto à Caixa e não ao Banco do Brasil (BB), grande financiador de operações externas, também levantou a possibilidade de a Petrobras já ter atingido o teto de suas operações com o BB.
Um analista de um grande banco que pede para não ser identificado acha que a petrolífera pode estar se endividando para financiar exportações porque poderia estar gerando menos caixa do que precisa por causa do grande volume de investimentos, o que já era esperado.
Ontem a Petrobras divulgou nota sobre o assunto no meio da tarde em que afirma que a empresa está em "situação confortável de caixa" e que o contrato com a Caixa "se enquadra no curso normal das atividades da Petrobras". O Valor apurou que as condições apresentadas foram melhores com relação a prazo e custo. É também resultado de uma política mais agressiva dos bancos públicos e estaria incomodando os privados porque lhes tira grandes clientes estatais.
Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, acha que ao dar empréstimo para a Petrobras, a Caixa deixa de atender as necessidades de financiamento de empresas brasileiras de menor porte que não têm acesso ao mercado financeiro internacional. "É curioso uma empresa do tamanho da Petrobras pedir um empréstimo para a Caixa, que não é um banco com essas características. Ela está enxugando recursos que poderiam ser direcionados para outras empresas nacionais."
O analista Max Bueno, da Corretora Spinelli, acha que a Petrobras pode estar buscando uma diversificação de suas fontes de financiamento, mas não acredita que a companhia esteja enfrentando dificuldades de crédito. Com base nos números do último balanço da companhia, referente ao primeiro trimestre, Max Bueno calcula que a alavancagem da Petrobras pode ter aumentado de 32% para quase 33% apenas com essa operação, quando o limite imposto pela própria companhia é de 35%.
Os 33% levam em conta que a dívida total de R$ 81,2 bilhões subiria para R$ 83,2 bilhões com os R$ 2 bilhões da Caixa, para um patrimônio de R$ 170,299 bilhões também no período. Mas não consideram novas receitas, investimentos e amortizações, sendo apenas um exercício. "A alavancagem da Petrobras e a evolução da dívida serão, sem dúvida, pontos acompanhados pelo mercado a partir de agora", diz Bueno.
Em mais um passo para a capitalização que vai resultar na cessão onerosa de até 5 bilhões de barris de petróleo da União, a Petrobras marcou para 12 de agosto uma Assembleia Geral Extraordinária. Os acionistas poderão, opcionalmente, usar quatro séries de Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) com vencimentos em 2014, 2015 e 2016. O objetivo é estender um benefício para os minoritários, já que a União também foi autorizada a usar títulos públicos.
Fonte:Valor Econômico/ Cláudia Schüffner, do Rio
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