As fontes de energia eólica e solar devem se manter como protagonistas da expansão da matriz elétrica brasileira em 2022. A perspectiva é que juntas elas injetem mais da metade da energia prevista para entrar em operação no sistema, trazendo mais segurança e afastando o risco de um possível racionamento e apagão.
As eólicas devem subir do atual patamar de 20,5 GW de capacidade instalada para 26,4 GW em 2022. Já o setor solar prevê incremento de 3,1 GW, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
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Os executivos da Abeeólica e da Absolar, associações que representam os setores, apontam que o incremento de energia nova no sistema no ano que entra será fundamental para a segurança do sistema, além de contribuir para o custo de energia mais baixo. Soma-se que projetos ESG (“Environmental, social and corporate governance”, na sigla em Inglês) têm beneficiado os negócios do setor.
Ambas fontes devem seguir o mesmo ritmo dos últimos anos e continuar liderando nos negócios da geração, principalmente na expansão para o mercado livre, em que empresas geradoras, comercializadoras e consumidoras negociam livremente o fornecimento de energia elétrica.
“A partir de 2018, passamos a contratar cerca de 4 GW por ano de energia eólica, tendo em vista o crescimento do mercado livre”, afirma Elbia Gannoum, presidente executiva da ABeeólica. A executiva lembra que foram 20 GW adicionados em dez anos. Agora ela aposta que a curva de crescimento será maior. “Em três anos vamos colocar mais 10 GW”.
A fonte eólica se mostrou relevante por ter ajudado a assegurar o sistema elétrico brasileiro durante a crise hídrica. A safra dos ventos, nome dado à época do ano em que os ventos no Nordeste sopram mais fortes, bateu recordes de geração eólica ultrapassando os 11 mil MW instantâneo ou médio.
“Em 2021, as eólicas bateram recorde de instalação, ultrapassando 3 GW em 2021, sendo que a média era em torno de 2,5 GW. Esse recorde está associado à mudança de patamar médio de contratação que a eólica tinha até 2017”, diz.
Já o setor solar deve fechar 2021 com aproximadamente 12,5 GW de capacidade, crescimento acima de 50% em relação a todo histórico do setor no Brasil em um único ano. “Cerca de 62% desta potência está em geração distribuída e 38% nas usinas de grande porte”, diz Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Absolar.
Ele lembra que é o segundo ano que sistemas de pequeno e médio porte superam em mercado as usinas de grande porte. “O Brasil está avançando mais rápido nos investimentos feitos pela população do que nas contratações do governo federal.”
Agora com a aprovação do PL 5829/2019, que cria o Marco Legal para a geração própria de energia, o ritmo de crescimento deve aumentar mais pela segurança jurídica que a lei vai trazer. Hoje a geração distribuída tem 8,1 GW de capacidade e a meta da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) é crescer mais 7 GW em 2022. Atualmente o Brasil tem 678 mil sistemas de geração própria conectados à rede e em 2022 deve atingir 1 milhão de consumidores.
O que pode atrapalhar os segmentos é a desarticulação das cadeias produtivas, a incerteza econômica brasileira e a desvalorização cambial. O setor eólico tem cerca de 80% da sua indústria nacionalizada e sente menos o impacto, mas o solar observa com atenção. Ao mesmo tempo em que cresce a demanda por equipamentos, a alta do dólar, crise de contêineres e a inflação global geram um caos nas redes de suprimentos. Entretanto, Sauaia acredita que com a escalada da tarifa de energia, a busca por energia solar descentralizada deve seguir firme no Brasil.
“O setor está atento a estes pontos. Câmbio, logística e demanda global crescente por energia solar são fatores de pressão que estão em nosso radar, mas eles serão contrabalanceados pela tarifa dos consumidores, que está previsto 21% de aumento em 2022. Isso vai ajudar a equilibrar os pratos da balança”, calcula.
Fonte: Valor