No rastro da visita do presidente Barack Obama ao Brasil, há duas semanas, o governo do Rio de Janeiro trouxe ontem uma comitiva a Washington para tentar atrair um público bastante arredio: os empresários americanos, que perderam, nos últimos anos, o posto de maiores investidores estrangeiros no país. "Precisamos de mais empresas americanas no Brasil", disse o empresário Eike Batista, do grupo EBX, com negócios em áreas como energia, mineração e transportes. "Os CEOs americanos pegam aviões para ir a lugares distantes como Xangai e Mumbai, mas está faltando ir para o Rio."
Em 2010, os investimentos diretos dos Estados Unidos no Brasil somaram US$ 6,204 bilhões, menos do que os US$ 6,695 bilhões da Holanda, os US$ 6,437 bilhões da Suíça e os estimados US$ 17 bilhões da China. Em anos anteriores, países como a Espanha passaram à frente dos Estados Unidos. Quando são somados os empréstimos intercompanhias, os americanos investiram mais US$ 4,3 bilhões em 2010, e os holandeses, mais US$ 2,5 bilhões. Os americanos, porém, repatriaram US$ 2,647 bilhões em investimentos diretos no ano passado.
"Há grande falta de informação sobre o Brasil", afirmou o governador do Rio, Sérgio Cabral, durante o seminário "Oportunidades de Negócios no Rio de Janeiro", organizado pela US Chamber of Commerce, Valor e "Washington Post". "Os franceses, espanhóis e alemães sabem mais sobre o Brasil."
O presidente da Federação das Indústrias do Rio (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, acha que a visão dos americanos sobre o Brasil ainda está contaminada pelo ambiente de alta inflação e instabilidade econômica vigente antes do Plano Real. Ele conta que, há alguns anos, quando tentava atrair uma empresa americana ao Brasil, as nova gerações de administradores estavam entusiasmadas e aprovaram o plano em poucos dias. "No conselho de administração da empresa, levou seis meses, porque havia dois membros que estavam à frente de empresas que fizeram investimentos na década de 80."
Eike disse que a empresa de logística de seu conglomerado, a LLX, conseguiu atrair coreanos, chineses e europeus para investir no porto de Açu, empreendimento de R$ 3,4 bilhões no norte do Rio. "Faltam os americanos", disse.
Ele informou que, dentro de dois meses, terá encontro com o comando da Apple para atraí-los a montar uma fábrica de produtos de alta tecnologia no complexo de Açu. "Vou me colocar como um provocador, no bom sentido", afirma. "O Brasil tem 100 milhões de consumidores de classe média e, em dez anos, terá 150 milhões."
A viagem de Obama ao Brasil, com pesada agenda comercial e de investimentos, foi um reconhecimento do peso do país para os EUA, disse o embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, que participou de um painel sobre o Brasil, em evento organizado pelo Eximbank, o banco de apoio a exportações americanas.
Segundo ele, não dá para ignorar que, embora tenham investido menos do que outros países em anos recentes, os EUA são a economia com o maior estoque de capital no Brasil. "Outros países descobriram oportunidades de negócio, e os EUA já estavam lá", afirmou. Mas reconhece que os empresários americanos estão investindo menos do que o potencial.
Fonte: Valor Econômico/Alex Ribeiro | De Washington
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