O milho segunda safra, em Mato Grosso, já está sendo estocado a céu aberto em municípios mato-grossenses que são grandes produtores estaduais do cereal como Lucas do Rio Verde, Sorriso, Ipiranga do Norte e Sinop, todos ao norte do Estado. O alerta foi dado ontem pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja).
A colheita do grão, iniciada no final de maio, atingiu em meados deste mês o pico, com pouco mais de 65% da área plantada colhida, de uma extensão total de 2,5 milhões de hectares cobertos na safra 2012 com o grão. Com isso, restam ainda mais de 1,62 milhão de hectares a serem colhidos, volume 7,15% menor do que toda a área cultivada na safra anterior. Produtores temem que o problema esteja apenas no começo.
A falta de armazéns ganha proporção maior neste ano por alguns fatores inéditos. O primeiro é que a produção estimada para esta segunda safra é de mais de 14,23 milhões de toneladas, simplesmente o dobro do que foi colhido ano passado, 6,99 milhões de toneladas. Outro fator que torna o momento complicado é que diferente de anos anteriores quando a estocagem a céu aberto se dava porque ainda havia soja guardada nos silos, ou seja, havia uma disputada por espaços, neste ano a soja teve venda rápida e quase não há mais nada da safra 2011/12 nas mãos dos produtores. Um outro ponto crítico é que a falta de condições ideais de estocagem, se dá também, sob um cenário altamente positivo ao grão. A safra que está em plena colheita tem 70% das mais de 14 milhões de toneladas estimadas vendidas de maneira antecipada.
Apesar de todos esses fatores que seriam, em tese, benéficos ao milho, mesmo em supersafra, o Imea destaca que em muitos municípios os armazéns estão cheios e o grão começa a ser estocado fora da unidade de armazenagem, muitas vezes ao relento.
O coordenador da comissão de Gestão de Produção da Aprosoja/MT, Naildo Lopes, diz que há produtores armazenando milho em silos-bag, um sistema de armazenagem em lonas de plástico que ficam na lavoura. A fermentação interna no silo prejudica a qualidade do milho se ele ficar muito tempo acondicionado desta forma. “Em alguns municípios as tradings não estão comprando nem recebendo milho porque não tem mais espaço e ainda falta colher mais de 30% da safra”, argumenta.
A capacidade de armazenamento, em Mato Grosso, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é de 27,6 milhões de toneladas. Mas, somando as safras de soja e milho deste ano, o volume de grãos no Estado chega a 35 milhões de toneladas de grãos este ano.
O produtor rural e delegado da Aprosoja/MT em Sorriso, Márcio Giroletti, revelou que alguns agricultores pararam de colher durante alguns dias até os armazéns conseguirem receber o produto novamente. “Isso vai causando prejuízo, pois quanto mais tempo o milho fica na lavoura pior é, porque vai perdendo umidade, por exemplo, e no final o produtor é quem paga a conta, com maiores descontos na hora da venda”, explicou. Os descontos reduzem o valor a receber, ou seja, o produtor entrega uma tonelada, mas não recebe valor equivalente ao volume comercializado.
O presidente da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro, lembra que quase 70% da safra de milho estão vendidos. “Sabemos que Mato Grosso tem um déficit de armazenagem, mas com este percentual de milho negociado, teoricamente não teríamos problema de armazenagem, pois o que já está vendido seria retirado e daria fluxo nos armazéns”, disse.
A falta de uma logística de transporte, aliado ao déficit de armazenagem, piora ainda mais a situação. O vice-presidente do Sindicato Rural de Sorriso (530 quilômetros ao norte de Cuiabá), Elso Pozzobon, comenta que a mudança na carga horária dos caminhoneiros também está impactando no escoamento da safra, com a diminuição de profissionais disponíveis para o serviço e o aumento no preço do frete. “Somos altamente dependentes deste tipo de transporte, em Mato Grosso, e essa mudança está tornando o escoamento do produto ainda mais lento”, explicou.
Fonte: Diário de Cuiabá / Marianna Peres
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