O excedente de petróleo nos mercados mundiais vai durar mais tempo do que se pensava, persistindo até o final de 2017, devido à queda no crescimento da demanda e à resiliência da oferta, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
Os estoques mundiais de petróleo continuarão a se acumular até 2017, no quarto ano consecutivo de excesso de oferta, segundo a AIE. O crescimento do consumo caiu para um mínimo em dois anos neste terceiro trimestre, quando a demanda diminuiu na China e na Índia, ao mesmo tempo em que a produção recorde dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no Golfo Pérsico está agravando o excedente. No mês passado, a agência previa que o mercado voltaria ao equilíbrio neste ano.
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"A oferta continuará a superar a demanda pelo menos até a primeira metade do ano que vem", disse a AIE, com sede em Paris, em relatório mensal. "Para a volta do mercado a um equilíbrio, parece que teremos de esperar um pouco mais".
O petróleo continuou em baixa após a publicação do relatório. O tipo West Texas Intermediate (WTI) caiu US$ 1,25, ou 2,7%, para US$ 45,04 o barril.
Quase dois anos depois de a Opep ter definido uma estratégia para eliminar o excesso de petróleo no mundo, pressionando concorrentes com preços mais baixos, os mercados continuam desequilibrados, com um excesso de oferta e o preço do barril abaixo de US$ 50. A organização deverá ter conversas informais com a Rússia, uma concorrente, em Argel, no fim deste mês, o que fomentou especulações de que os produtores poderão concordar em limitar a produção para sustentar os preços.
"Essa é uma notável mudança na perspectiva da AIE, que não muito tempo atrás estava contemplando um reequilíbrio do mercado para 2016", afirmou Harry Tchilinguirian, chefe de estratégia de mercados de commodities do BNP Paribas, em Londres. A visão da Opep para o longo prazo "ficou um pouco mais alongada, implicando a necessidade de o petróleo permanecer mais barato por mais tempo para estimular os ajustes necessários na oferta".
A AIE reduziu a sua projeção para a demanda mundial de petróleo no ano que vem em 200 mil barris por dia (b/d), para 97,3 milhões de b/d. A agência reduziu em 100 mil barris por dia as estimativas de crescimento para este ano, para 1,3 milhão b/d, citando uma "enorme desaceleração da demanda na China e na Índia" neste trimestre, juntamente com o "sumiço do crescimento" nas economias ricas.
"Recentes pilares de crescimento da demanda - China e Índia - estão fraquejando", disse a AIE, que orienta 29 países ricos sobre política energética. "O estímulo de um combustível mais barato está desaparecendo. As refinarias estão claramente perdendo seu apetite por mais petróleo."
Os estoques externos à Opep vão se recuperar no ano que vem, após queda acentuada neste ano, crescendo 380 mil b/d, segundo o relatório. A estimativa é "marginalmente" maior que a do mês passado, puxada pelo desempenho mais forte do que o esperado da Noruega e da Rússia. A produção de petróleo de xisto nos EUA começará a se recuperar no segundo semestre de 2017, disse ele.
"A Opep está numa sinuca", disse Olivier Jakob, diretor-gerente da consultoria Petromatrix, em Zug, na Suíça. "A oferta externa à Opep foi capaz de adaptar-se melhor do que esperado ao barateamento do petróleo".
A produção dos 14 membros da Opep cresceu ligeiramente no mês passado, quando Arábia Saudita, Kuait e Emirados Árabes Unidos, países do Golfo Pérsico, bombearam em níveis recordes, ou quase, e quando o Iraque elevou sua produção, disse a AIE. A Arábia Saudita ultrapassou os EUA como maior produtor mundial de petróleo - quando incluídas formas distintas do petróleo, como gás natural em estado líquido - posição ocupada pelos EUA desde abril de 2014.
A combinação de demanda em queda e aumento na produção da Opep elevou os estoques de petróleo dos países desenvolvidos para um recorde de 3,1 bilhões de barris em julho.
"O crescimento da demanda está desacelerando, e a oferta está em alta", disse a agência. "Consequentemente, os estoques de petróleo nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estão subindo a níveis nunca antes vistos".
Fonte: Valor Econômico/Grant Smith | Bloomberg