Contrariando expectativas, as exportações da China subiram em abril pela primeira vez este ano, com as fábricas chinesas buscando compensar as vendas perdidas por causa da pandemia de covid-19. Mas uma grande queda das importações e a contração do setor de serviços indicam mais problemas à frente, num momento em que a economia global está em recessão.
O inesperado aumento nas exportações chinesas de abril animou os mercados, mas analistas alertam que as perspectivas para o comércio exterior da China continuam sombrias, pois as grandes economias continuam em meio à crise de saúde, com crescente número de casos e de mortes.
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As exportações chinesas subiram 3,5% em abril, em comparação a abril de 2019, segundo dados oficiais divulgados ontem. A expectativa era de queda. Em março, as exportações haviam recuado 6,6%.
O aumento foi puxado em parte pela expansão das exportações de equipamentos médicos, de artigos da medicina tradicional chinesa e de produtos têxteis, inclusive máscaras. A China exportou milhões de toneladas de produtos médicos, no valor de 71,2 bilhões de yuans (US$ 10 bilhões), no período de março e abril. O valor diário dessas exportações médicas mais do que triplicou no mês passado.
Alguns economistas também atribuíram a elevação das exportações ao fechamento de fábricas em outros países, o que elevou a uma forte demanda por importações, exatamente no momento em que as indústrias chinesas reabriam, após um longo período de paralisação causada pela pandemia.
“Em vista da persistente retração das encomendas por exportações em março e em abril - como foi sugerido pela queda acentuada do sub-índice de novas encomendas de exportações dos índice de atividade industrial oficial e da Caixin - não consideramos que a melhora do crescimento das exportações de abril seja sustentável”, avalia o banco Nomura.
A pesquisa oficial e privada de atividade industrial de abril apontaram um colapso das encomendas por exportações, mesmo com alguns países começando a relaxar as medidas de confinamento.
As importações chinesas caíram 14,2% em comparação a abril de 2019 - maior queda desde janeiro de 2016 e mais do que a expectativa de recuo de 11,2% dos analistas ouvidos pela Reuters. Em março, as importações haviam caído 0,9%.
A queda nas importações se deveu à fraca demanda interna e às quedas dos preços das commodities. A interrupção das atividades econômicas fora da China também representou um forte choque de oferta às importadoras do país.
Em abril, o superávit comercial da China somou US$ 45,34 bilhões, comparativamente aos US$ 6,35 bilhões previstos e ao superávit de US$ 19,93 bilhões de março.
Com a epidemia sob controle, a economia chinesa começou a retomar atividades, com as autoridades abrandando as rígidas restrições, como o confinamento, mas economistas dizem que a recuperação está sendo decepcionante.
Numa indicação da lenta retomada na China, o índice de atividade do setor de serviços da Caixin-Markit ficou em 44,4 em abril, mantendo-se em território de contração pelo terceiro mês seguido.
“Haverá novo agravamento do quadro também para as importações, em vista da lentidão da recuperação interna, dos níveis já elevados dos estoques e do fato de que mais de um trimestre de importações estar contribuindo para o setor exportador da China”, disse Julian Evans-Pritchard, economista da Capital Economics.
“A ameaça dos EUA de impor tarifas adicionais sobre os produtos chineses não deve ser ignorada, diante da probabilidade da ‘fase um’ do acordo comercial se esfacelar em breve - as importações [chinesas] de produtos americanos permaneceram próximas dos níveis mais baixos em vários anos no mês passado”, acrescentou.
A China importou US$ 36,7 bilhões em produtos dos EUA nos primeiros quatro meses do ano, segundo dados alfandegários. Pela fase um do acordo comercial, os chineses se comprometeram a comprar US$ 218 bilhões de produtos americanos em dois anos.
Fonte: Valor