A balança comercial brasileira de fevereiro, divulgada ontem pelo Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (Mdic), mostra que houve uma desaceleração das exportações à China e um crescimento substancial das vendas aos Estados Unidos no início deste ano. De acordo com analistas, dois fatores explicam o fato de os americanos terem ultrapassado os chineses como principal destino dos produtos brasileiros entre janeiro e fevereiro na comparação com igual período do ano passado. De um lado, o apetite maior dos EUA pelo petróleo nacional e o aumento do preço no mercado internacional. Do outro, a queda no preço e na quantidade de commodities vendidas ao país asiático, como o minério de ferro.
Nos dois primeiros meses do ano, as exportações aos Estados Unidos cresceram 38,2% em relação ao mesmo período de 2011, segundo o ministério, passando de US$ 3,3 bilhões para US$ 4,6 bilhões - um acréscimo de US$ 1,28 bilhão. Já o crescimento chinês foi quase nulo: 0,3%, chegando a US$ 3,9 bilhões, ou apenas US$ 13 milhões a mais. A taxa ficou abaixo dos 7% de avanço das exportações totais no bimestre.
Para José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os Estados Unidos estão diversificando as fontes de matéria-prima, o que beneficiou o petróleo bruto brasileiro. O produto ganhou espaço no mercado americano e já é sentido nos números. Em janeiro, último mês em que a pauta de exportações detalhada foi divulgada, o petróleo chegou a 35% do total vendido ao país. Manufaturados, por exemplo, foi responsável por 30%. "Na média diária do mês, na comparação com janeiro do ano passado, as exportações de petróleo aumentaram 25%", diz. Um segundo fator contribuiu para a maior clientela dos Estados Unidos: o comportamento do preço do petróleo no mercado internacional, que tem ficado mais estável que os óleos de melhor qualidade.
As exportações para a China, por outro lado, foram impactadas de maneira negativa pelas vertentes preço e quantidade. Produto mais vendido ao país, o minério de ferro brasileiro teve a produção afetada em janeiro em função das chuvas. Somando-se a isso a queda do preço da commodity no mercado internacional, o resultado foi o crescimento abaixo da média. A recuperação da produção em fevereiro ajudou no crescimento de 4,1% das exportações totais para a China no mês em relação ao mesmo período de 2011. O preço, contudo, impediu um aumento maior. Se em dezembro a tonelada do minério estava em US$ 108, em fevereiro ela ficou em US$ 96. "Também é necessário levar em conta que não está na época de colheita da safra de soja, que tem um peso grande nas exportações para a China. O fato deste ano ser o ano do dragão por lá também ajudou no resultado, já que o país inteiro diminuiu a atividade em janeiro", afirma Castro.
A variação registrada em preço e quantidade dos produtos primários também é apontada como a responsável pelo resultado do bimestre para Welber Barral, sócio da Barral MJorge Consultores. "Esse é o grande risco de depender de commodities. Qualquer oscilação no mercado internacional provoca um impacto forte na balança." E a tendência é que os preços caiam no mercado internacional neste ano, o que deve afetar as exportações para a China. "É muito mais uma questão de preço do que quantidade. Pelo cenário dos próximos meses, com certeza não vai haver elevação das commodities. A tendência é de leve queda, então as exportações ao país devem crescer menos", diz.
O resultado mais inesperado ficou por conta do comércio com a Argentina. Mesmo com as licenças de importação não automáticas em vigor durante todo mês de fevereiro, as exportações cresceram sobre fevereiro do ano passado: US$ 1,7 bilhão contra US$ 1,61 bilhão. As importações ajudaram a elevar ainda mais o superávit brasileiro, ao cair de US$ 1,26 bilhão para US$ 947 milhões.
Como a balança não mostrou impacto da medida tomada pelos argentinos para segurar as importações, a explicação, de acordo com José Augusto de Castro, pode estar no mês anterior. "Fica difícil saber o que aconteceu sem os dados detalhados, mas pode ser efeito de um adiantamento das licenças em janeiro. Os exportadores, sabendo da medida, procuraram pegar adiantado a permissão de entrada dos produtos no país". Barral, contudo, acredita que as medidas argentinas serão sentidas mais para frente. Para o consultor, os setores mais prejudicados são aqueles que não têm tanto peso nas vendas globais. "Auto peças não será atingido, por exemplo."
Ao fim do segundo mês do ano, a Argentina seguiu como o terceiro destino das exportações, mas as duas primeiras posições se inverteram. No primeiro bimestre do ano passado, a China era o destino de 12,4% e os Estados Unidos de 10,5% de tudo o que o Brasil vendia. No mesmo período de 2012, os chineses tiveram 11,7% de participação, enquanto a fatia dos americanos aumentou para 13,6%.
Com o novo realinhamento registrado, o Brasil fechou fevereiro com superávit de US$ 1,71 bilhão no mês, com US$ 18 bilhões em exportações e US$ 16,3 bilhões em importações. O saldo é o maior para o mês desde 2009. Com o resultado, no acumulado de 2012, a diferença entre o volume exportado e o importado é positiva em US$ 423 milhões, mesmo com a balança ficando deficitária em US$ 1,29 bilhão em janeiro.
O bom desempenho das vendas aos Estados Unidos deixou otimista o governo, que estabeleceu meta de crescimento de 3,1% para as exportações do país neste ano, de acordo com o secretário-executivo do Mdic, Alessandro Teixeira. Pela projeção, o valor exportado deverá ficar em US$ 264 bilhões em 2012. No ano passado, as vendas somaram US$ 256 bilhões. A meta poderia ser mais ambiciosa, mas ainda "não está claro o comportamento da [economia] da União Europeia", segundo o secretário. (Colaborou Thiago Resende, de Brasilia)
Fonte: Valor Econômico/Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo
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