As exportações da China cresceram fortemente nos dois primeiros meses do ano, puxadas pela recuperação da economia americana, enquanto as importações caíram refletindo o enfraquecimento da demanda doméstica e os preços mais baixos das commodities.
As exportações subiram mais de 48% em fevereiro em relação ao mesmo período de 2014, contrariando previsões de analistas de uma queda de 14%, apesar de o número ser influenciado por distorções geradas pelo feriado do Ano-Novo Lunar. Contando com os dados de janeiro, as vendas externas subiram 15%, ultrapassando a meta de governo para 2015, de 6%.
Os EUA em recuperação têm ajudado a sustentar a economia chinesa, que tenta reduzir o excesso de capacidade e busca uma transição para um dependência maior do consumo doméstico em detrimento do investimento em infraestrutura e das exportações. Os números de importação refletem ventos contrários para a segunda maior economia mundial. Em seu relatório de trabalho para a sessão anual do Congresso do Povo, na quinta-feira, o premiê Li Keqiang disse que esses desafios incluem a sobrecapacidade de produção e inovação insuficiente.
"As exportações chinesas estão se saindo bem, o que é um alívio, uma vez que a demanda doméstica não atravessa um bom momento", disse Yao Wei, economista do Société Générale, em Paris.
O superávit comercial de fevereiro foi de US$ 60,6 bilhões, acima dos US$ 60 bilhões registrados em janeiro, segundo a alfândega chinesa. As exportações para os EUA nos dois primeiros meses do ano saltaram 21% em yuans. Os carregamentos para a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) cresceram 38%.
Em seu relatório de trabalho, Li anunciou uma meta de crescimento de 7%, o menor estabelecido em 15 anos. O governo traçou a meta de expansão para o comércio total em 6%. O ministro do Comércio, Gao Hucheng, disse no sábado estar "confiante" em que o objetivo será cumprido.
Se a China terá sucesso ou não, isso depende em parte dos EUA, onde dados sobre na semana passada mostraram uma criação de vagas maior que a esperada em fevereiro e a taxa de desemprego no menor nível desde 2008.
"Os EUA são o mais importante propulsor, e as exportações chinesas basicamente seguem a economia americana", disse Larry Hu, chefe de Economia Chinesa da Macquarie Securities em Hong Kong. Ele estima que 3% de expansão anual n PIB (Produto Interno Bruto) americano acrescenta entre 0,5% a 1% ao crescimento chinês, ao aumentar as exportações de 8% a 9%.
A queda nas importações foi mais forte do que a estimativa de 10%, indicando a contínua fraqueza na demanda interna assim como a redução dos preços das commodities. Analistas disseram que os produtores podem estar tentando maximizar as exportações para compensar a fraca demanda interna. "Se as exportações estão bem, eles podem fazer menos em outros aspectos, como infraestrutura e investimento", disse Hu.
O saldo comercial mais folgado acrescentará incertezas para a moeda chinesa. O yuan, que subiu pela primeira vez em três semanas na semana passada, caiu 1,2% frente ao dólar desde 15 de janeiro. A China cortou taxas de juros duas vezes desde novembro e liberou mais liquidez para o sistema bancário. "É só a ação do banco central contra as pressões do mercado que estão evitando quedas maiores", disse em nota Tom Orlik, economista-chefe para a Ásia da Bloomberg Intelligence em Berlim.
Fonte: Valor Econômico/Bloomberg
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