Enquanto os trabalhadores de jaleco azul e capacete amarelo se movem lentamente por entre enormes guindastes hidráulicos móveis e caminhões misturadores de cimento, na fábrica resplandecente, o presidente da empresa, Tang Xiuguo, encontra-se em seu amplo escritório nas proximidades, discutindo a abertura de fábricas da Sany no Brasil, Índia e Alabama, além da aquisição por US$ 475 milhões - prestes a ser concluída - da Putzmeister da Alemanha, a maior fabricante de bombas betoneiras do mundo.
Tang, um dos quatro fundadores da companhia de 22 anos, pretende ampliar as vendas nos mercados internacionais, que hoje respondem por cerca de 5% da receita de US$ 16 bilhões da Sany. A meta é chegar a um quinto da receita em cinco anos.
A frase "Made in China" invoca a imagem de calçados baratos, brinquedos de plástico e produtos eletrônicos montados nos vastos complexos fabris da Foxconn Technology Group. Embora a China tenha desenvolvido seus poderosos negócios exportadores - que cresceram 17% ao ano nas três últimas décadas - em cima dessas indústrias leves e da montagem de produtos eletrônicos, isso está rapidamente mudando.
O aumento dos custos da mão-de-obra, de 15% ao ano desde 2005, mais a valorização do yuan, estão resultando em novas pressões sobre o modelo de produção industrial barata da China e levando companhias têxteis, de calçados e de vestuário a fechar as portas ou se mudarem para o Vietnã, Camboja ou Bangladesh.
"A participação da China nas exportações mundiais de artigos baratos começou a cair. Isso reflete mais uma mudança dos produtores chineses para setores em que as margens de lucro são maiores, do que uma incapacidade de competir", escreveu a consultoria Capital Economics em uma nota em 28 de março.
Os navios fabricados na China, por exemplo, dominaram o mercado mundial no ano passado, com uma participação de 41%, bem à frente da Coreia do Sul e do Japão, segundo a Clarksons, uma empresa de serviços de navegação sediada em Londres. Dados do International Trade Centre, uma agência conjunta da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial d Comércio (OMC), também mostram fortes ganhos na participação global da China nos mercados de locomotivas e vagões de trem, máquinas e caldeiras industriais.
Na setor de máquinas de construção, a especialidade da Sany, três companhias chinesas (incluindo a Sany) estão hoje entre as dez maiores do mundo. Muitos dos novos exportadores estão produzindo no interior da China, em vez das regiões costeiras, tradicionais para o setor industrial.
No total, a parcela das exportações da China produzida pela indústria pesada, da qual o segmento de máquinas responde por cerca de dois terços, cresceu de 29% em 2001 para 38,7% no ano passado (veja gráfico abaixo), superando a participação da indústria leve e dos produtos eletrônicos, segundo a consultoria econômica GK Dragonomics, de Pequim.
"Eles estão fazendo produtos diferentes com mais tecnologia, coisas pelas quais podem cobrar mais caro", diz Andrew Batson, diretor de análises da GK Dargonomics, que estima que os novos setores poderão ajudar a elevar a participação da China nas exportações globais dos atuais 10% para 15% até 2020. "O exportador típico chinês não é mais uma fábrica de calçados de Guangdong. É um tipo de fabricante de equipamentos ou máquinas."
Os fabricantes chineses de maquinário estão de olho na Índia, América do Sul e Oriente Médio, uma vez que a Europa, ainda o maior mercado exportador da China, luta com a crise da dívida. Europa, EUA e Japão responderam por 48% das exportações totais da China no ano passado, contra 56,1% em 2006. Os países em desenvolvimento respondem agora pela maior parte, disse Louis Kuijs, economista do Fund Global Institute, de Hong Kong. "Temos uma vantagem porque nosso nível tecnológico e de produtos é mais adequado a esses países", diz Tang, da Sany. "E nossos preços são um pouco menores que os de outras marcas internacionais."
As autoridades econômicas vêm fazendo do aprimoramento do setor industrial uma prioridade nacional. Fabricação de equipamentos, de automóveis e construção naval estão entre os setores que deverão receber US$ 2,5 bilhões do governo este ano para melhorar suas tecnologias e a qualidade dos produtos. As fusões e aquisições dentro e fora da China também estão sendo encorajadas. Shao Ning, vice-ministro da poderosa Comissão de Administração e Supervisão de Ativos Estatais do Conselho de Estado, diz: "Nossa posição é de apoio às companhias chineses que querem investir fora do país".
As novas companhias manufatureiras da China ainda não estão competindo nos mercados desenvolvidos, mas já estão desafiando a Caterpillar, Siemens, General Electric (GE) e outros fabricantes estabelecidos de equipamentos em lugares como a América do Sul e a Rússia. A indústria de máquinas para a construção da China deverá superar em breve as de Japão e Alemanha, tornando-a a segunda maior exportadora do mundo na categoria, atrás apenas dos Estados Unidos.
Conquistar participação de mercado nos EUA e na Europa poderá levar anos, em parte por causa do receio com a qualidade dos produtos chineses (o acidente com um trem de alta velocidade chinês, em julho do ano passado, abalou a reputação de fabricantes do país). A Sany diz que investiu US$ 240 milhões no ano passado na melhoria de suas fábricas, incluindo a instalação de robôs de soldagem. À medida que a Sany cresce nos mercados internacionais, almeja melhorar seus produtos para que eles alcancem a qualidade apresentada pela sua mais nova aquisição, a Putzmeister, que vai compartilhar o know-how de engenharia e de fornecedores com sua controladora chinesa. Tang diz: "Sabemos que o 'Made in China' não tem uma grande reputação. Queremos mudar isso com a venda de produtos de alta qualidade".
Fonte: Valor Econômico/Por Dexter Roberts | Bloomberg Businessweek
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