De Brasília - As exportações do agronegócio brasileiro perderam força e renderam US$ 7,156 bilhões em novembro, 7,9% menos que no mesmo mês de 2012, conforme dados da Secex compilados pelo Ministério da Agricultura. Como as importações caíram menos na mesma comparação - 5,7%, para 1,405 bilhão -, a queda do superávit do setor chegou a 8,4%, para US$ 5,752 bilhões.
Com a demanda internacional aquecida, as carnes lideraram as exportações setoriais com receita de US$ 1,432 bilhão, 5,2% mais que em novembro do ano passado. Conforme o ministério, as vendas externas de carne de frango cresceram 3% e alcançaram US$ 626 milhões, enquanto as de carne bovina subiram 16,9% e atingiram US$ 587 milhões. As vendas de carne suína e de peru ao exterior caíram 25,4% e 27,4%, respectivamente.
Carro-chefe do campo brasileiro, a soja e seus derivados renderam US$ 1,157 bilhão em divisas em novembro, um incremento de 36,5% sobre o mesmo mês do ano passado. Mas as expressivas retrações das exportações sucroalcooleiras, do segmento de cereais, farinhas e preparações (grupo que inclui o milho) e do café determinaram o resultado final observado.
Os embarques de açúcar e etanol chegaram a US$ 1,049 bilhão, uma queda de 36,4%. Os de cereais, farinhas e preparações somaram US$ 846,7 milhões, em baixa de 25,9%. O milho representou US$ 776 milhões desse total, 27,6% menos que em novembro de 2012, basicamente por conta da baixa das cotações da commodity. Já a queda das exportações de café, cujos preços internacionais também desabaram nos últimos meses, foi de 27,8%, para US$ 424,7 milhões.
Apesar do desempenho adverso em novembro, nos primeiros 11 meses do ano as exportações do agronegócio ainda apresentam aumento de 5,6% em relação a igual intervalo de 2012, para US$ 93,579 bilhões. No período, o chamado "complexo soja" (inclui grão, farelo e óleo) aparece na liderança setorial com US$ 30,348 bilhões, um incremento de 19% praticamente garantido no primeiro semestre. As carnes vêm em segundo lugar, com US$ 15,393 bilhões e alta de 7,3%.
O crescimento dos embarques de soja foi puxado pela boa demanda da China, que, com isso, ganhou ainda mais espaço entre os principais destinos das vendas brasileiras do setor ao exterior. De janeiro a novembro, as compras chinesas do agronegócio nacional como um todo somaram US$ 22,432 bilhões, 27,8% mais que no mesmo período de 2012. (TV, com colaboração de Fernando Lopes, de São Paulo)
=========================
Petrobras, qual é a novidade?
Na última semana,o mercado reagiu negativamente à decisão do Conselho de Administração da Petrobras de não divulgar a fórmula automática de reajuste do preço dos combustíveis. As ações preferenciais PETR4 caíram 9,2% na última segunda, 2 de dezembro. Mas, afinal, ocorreu algum fato novo que justificasse comportamento tão negativo dos investidores? Reiteradamente, analistas e investidores esquecem o propósito da capitalização de 2010, bem como suas consequências contábeis e o fato de a petroleira ter como controladora a União Federal.
Em 2010, a Petrobras fez a maior operação do mercado de capitais brasileiro. Contudo, aspectos relacionados à capitalização parecem escapar a alguns analistas, a gestor e se à imprensa. A entrada de recursos no caixa da companhia em 2010 gerou como contrapartida um incremento do patrimônio líquido no mesmo montante. O dinheiro foi captado para investimentos na região do pré-sal. Contudo, sua produção iniciou-se somente em 2013, mesmo assim de forma tímida. Assim, a capitalização não trouxe receitas no curto prazo.
O resultado foi uma queda abrupta do retorno sobre o patrimônio líquido (lucro líquido dividido pelo patrimônio líquido) de 21,5% em 2009 para 7,2% nos 12 meses encerrados em setembro de 2013. Embora o lucro líquido tenha caído no período, a queda da rentabilidade foi derivada especialmente do aumento do denominador, o patrimônio líquido. Assim, questionar a queda da rentabilidade da Petrobras após a capitalização é não ter entendido o mecanismo contábil da oferta de ações e a destinação que foi dada aos recursos. Por outro lado, a produção do pré-sal deve aumentar a partir de 2014, o que trará impactos positivos sobre a rentabilidade. Logo, a crítica à queda da rentabilidade deveria ter sido feita em 2010 e não agora quando a empresa está pertode entregar maiores retornos.
Outra discussão é a crítica de que a Petrobras tem sido utilizada para controle da inflação pelo governo. Mas em algum momento foi diferente na administração do PT (Partido dos Trabalhadores)? Além disso, embora não concorde, a utilização de empresas estatais com fins de utilidade pública tem respaldo em decisões do próprio Judiciário como mostrei no post Os riscos de investir em ações de estatais, de 3 de junho de 2013. Veja trecho do voto do ministro do Superior Tribunal de Justiça que relatou o processo de um minoritário da Petroquisa, subsidiária do setor petroquímico da Petrobras, contra a petrolífera: Todos os que adquirem ações de uma empresa estatal são conhecedores de que essas empresas cumprem papel estratégico para o Estado. (...) Então, uma sociedade de economia mista tem, acima do lucro e dos interesses dos seus investidores privados, o interesse do Estado. O Estado pode, por razões estratégicas e com amparo legal, adotar decisões bem diferentes daquelas que um acionista privado faria.
Sabendo-se da orientação doutrinária do atual governo e desse amparo judicial, faz sentido essa queda de quase 10% das ações preferenciais em um único dia por um fato que já é mais do que conhecido para quem acompanha o mercado há algum tempo? Aliás, não custa lembrar aos acionistas minoritários da BB Seguridade, cujas ações subiram mais de 50% desde a abertura do capital, de que o acionista controlador da empresa de seguridade é o mesmo da Petrobras.
É verdade que a defasagem entre o preço dos derivados de petróleo importados e o praticado internamente tem afetado a geração de caixa da empresa e por consequência elevado o endividamento da empresa. Esse problema parece já ter sido captado pela administração e repassado ao governo. A decisão ocorrerá, se não em 2014, pois poderia comprometer a inflação em ano de eleição, no mais tardar em 2015.
Por fim, uma situação interessante para quem analisa a Petrobras por intermédio do múltiplo FV (valor da firma) /Ebitda, sendo o valor da firma a soma do valor de mercado (base acionária multiplicada pelo preço da ação) e da dívida líquida. Desde a capitalização, o valor da firma tem se mantido ao redor de R$ 400 bilhões, mas tem ocorrido uma alteração com aumento da dívida e redução do valor de mercado conforme demonstrado pelo gráfico elaborado pelo banco de investimentos Brasil Plural.Ou seja, a queda do preço da ação serviu basicamente para compensar o aumento da dívida. Com isso, o múltiplo FV/Ebitda ficou boa parte do período ao redor de 6 vezes, pois não houve grandes oscilações do Ebitda no período.
Fonte: Valor Econômico/André Rocha é analista certificado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa.
PUBLICIDADE