A petrolífera Exxon Mobil enfrenta a ameaça de uma disputa interna com a entrada um novo grande investidor, de perfil ativista de sustentabilidade, que deseja que a gigante da energia tenha uma rápida mudança de atitude em relação ao tema.
A Engine No. 1, uma empresa de investimentos lançada por Chris James, se prepara para enviar uma carta ao conselho da Exxon pedindo que a empresa concentre-se mais em investimentos em energia limpa e corte custos em outras áreas para manter os dividendos. A carta, lida pelo “The Wall Street Journal”, identifica quatro pessoas que a empresa planeja nomear para o conselho, que é composto por dez pessoas da Exxon.
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A firma de San Francisco tem o apoio do fundo de pensão de aposentadoria dos professores do estado da Califórnia, o Calstrs, e espera que outros acionistas simpatizem com a causa, dada a frustração geral com o desempenho das ações da Exxon, segundo uma fonte. O Calstrs detém uma participação de mais de US$ 300 milhões na Exxon, enquanto a Engine No. 1 tem uma fatia de cerca de US$ 40 milhões. A propriedade conjunta não é grande o suficiente para o ativista assumir o comando da Exxon, e é possível que a campanha fracasse. Ainda assim, o fundo Calstrs se mantém como o segundo maior fundo de pensão do país e tem visto casos de campanhas lideradas por pequenos acionistas ganhando força com outros investidores e produzindo resultados.
“Sem ter visto a carta, não vamos comentar”, disse o porta-voz da Exxon, Casey Norton.
A chave para o resultado será a reação dos acionistas maiores, especialmente Vanguard, BlackRock e State Street, que juntos controlam quase 20% das ações da Exxon. A BlackRock e a State Street fazem parte da Climate Action 100+, um grupo de investidores que pressiona as empresas a tomarem medidas mais rápidas para combater as mudanças climáticas. A BlackRock, em particular, tem um histórico de apontar a Exxon por não agir com rapidez suficiente para lidar com os riscos climáticos e citou essas preocupações no início deste ano, quando votou contra dois diretores da Exxon e a favor da separação dos papéis de presidente do conselho e presidente da empresa. Os diretores foram eleitos e as funções não foram separadas.
A Exxon, que há apenas sete anos era a empresa mais valiosa da América, hoje tem um valor de mercado de cerca de US$ 176 bilhões após a pandemia esmagar a demanda por combustíveis fósseis e revelar erros estratégicos anteriores. Com suas ações em queda de 40% até agora neste ano, tem havido especulações de que a companhia poderia atrair um investidor de perfil ativista em busca de diminuir a frustração dos acionistas.
A carta da Engine nº 1 pede à Exxon que faça quatro mudanças principais: 1) adicionar diretores independentes com experiência diversificada no setor de energia; 2) reduzir as despesas de capital, especialmente em projetos que provavelmente não atingirão o ponto de equilíbrio com os baixos preços do petróleo e do gás; 3) formular um plano para investir em áreas de crescimento, como energia renovável; e 4) realinhar os incentivos à gestão.
“Acreditamos que, para a ExxonMobil evitar o destino de outras empresas americanas que já foram icônicas, ela deve se posicionar melhor para a criação de valor sustentável de longo prazo”, escreve a empresa ativista.
A Engine nº 1 foi lançada com US$ 250 milhões sob gestão. Seu foco é o chamado investimento de impacto, que busca impulsionar as empresas a fazer mudanças que sejam benéficas a longo prazo para as partes interessadas, como trabalhadores e acionistas. Sua equipe inclui Charlie Penner, um ex-parceiro do ativista fundo de hedge Jana Partners, onde ajudou a conduzir campanhas em empresas como a Whole Foods Market. Ele também liderou o esforço conjunto de sucesso de Jana com Calstrs em 2018 para levar a Apple a adicionar recursos para ajudar os pais a limitar o tempo de tela de seus filhos.
Empresas de todos os tipos estão enfrentando pressões para reduzir seu impacto no meio ambiente. Rivais como BP e Royal Dutch Shell começaram a investir em energia renovável - uma estratégia que seus investidores não recompensaram até agora. A Exxon foi vista como um obstáculo, com o presidente Darren Woods fazendo votos para, em vez disso, gastar mais na exploração de petróleo para aumentar a produção. Recentemente a Exxon tomou medidas para atender às preocupações dos acionistas.
Na semana passada, a empresa se afastou do ambicioso plano de Woods e anunciou um corte de bilhões de dólares de seus gastos de capital até 2025, para focar apenas nos ativos mais promissores. A empresa também sinalizou que planeja fazer uma redução de até US$ 20 bilhões no valor dos ativos de gás natural - um movimento ao qual há muito tempo resistia e decorrente principalmente da compra desastrosa da XTO Energy, uma década atrás.
Woods disse que as mudanças ajudariam a empresa a se concentrar em melhorar os lucros e fortalecer seu balanço patrimonial para manter os dividendos. O dividendo atualmente rende incríveis 9% e custa à empresa cerca de US$ 15 bilhões por ano.
As ações da Exxon subiram cerca de 9% desde o anúncio. Hoje estavam em queda de 1,32% nesta manhã no pré-mercado da Bolsa de Nova York, negociadas a US$ 41,13.
Fonte: Valor