A ausência de chuvas fortes impede os produtores de soja de Mato Grosso, principal Estado produtor no país, de iniciarem o plantio da oleaginosa, que está autorizado a acontecer desde sábado.
Desde 15 de setembro não há restrições à semeadura impostas pelo chamado "vazio sanitário", período em que o plantio é proibido para evitar a propagação do fungo da ferrugem.
Mesmo assim, a associação que representa os produtores de Mato Grosso não registrou ainda plantio, que começa pelo Centro-Oeste no Brasil, país que poderá liderar o mercado global de soja em 2012/13.
"A expectativa é grande e o interesse de plantio está represado... Ainda não começou o plantio no Estado. Eventualmente, se existe algum número (de área plantada), ainda não temos conhecimento oficial", disse Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja MT.
"No dia 10 já havia gente que queria ter começado. Porque não pode haver soja nascida em 15 de setembro. Se plantasse dia 10, ainda não estaria nascida no dia 15... Mas não choveu, não ocorreu isso", acrescentou ele.
Segundo Fávaro, muitos agricultores têm pressa porque as lavouras que forem semeadas até 20 de outubro poderão ser colhidas até 20 de fevereiro e naquelas áreas será possível fazer a chamada "safrinha", com plantio de milho ou algodão.
No fim de semana, houve chuvas esparsas e insuficientes, de 20 a 30 milímetros, em pontos do sudoeste e do norte de Mato Grosso, disse o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia.
"Vão plantar a partir de semana que vem, quando realmente voltam as chuvas", disse ele. "A chuva boa mesmo, que dá para plantar, é a partir do dia 25 (de setembro)."
Santos, que esteve percorrendo diversas regiões de Mato Grosso nos últimos dias, acredita que pode ter havido plantio em algumas áreas de grandes empresas.
"Há quem plante no 'pó', esperando que chova", disse ele, avaliando que grandes grupos não podem deixar para a última hora, para não haver acúmulo de trabalho.
A analista de grãos da AgRural Daniele Siqueira acredita que o atraso não afeta os preços no mercado futuro de soja.
"O mercado já sabe que em anos de El Niño costuma atrasar o início das chuvas. Mas para a soja não causa nenhum dano, porque não existe perda de produtividade."
O El Niño, fenômento climático provocado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico, deve ser verificado neste ano, pode atrasar o início das chuvas, mas no geral traz volume de precipitações benéfico para as lavouras da América do Sul.
MERCADO
A analista lembra que o mercado aguarda a chegada da soja brasileira, no início do ano que vem, devido à escassez da oleaginosa provocada pela quebra de safra nos EUA, afetada nos últimos meses pela pior seca em mais de meio século.
Os estoques apertados ao redor do mundo provocaram um aumento de mais de 40 por cento no preço da soja na bolsa de Chicago desde o início do ano, com reflexo também no mercado brasileiro.
As cotações em alta empolgaram os produtores de soja brasileiros, que devem ampliar área de semeadura e colher uma safra recorde em 2012/13, superior a 80 milhões de toneladas, se o clima colaborar, segundo avaliação de diversas consultorias e do Departamento de Agricultura dos EUA.
Os preços elevados também resultaram em uma grande comercialização antecipada. Os agricultores já venderam cerca de metade da soja que esperam colher nos próximos meses, bem acima da média dos anos anteriores.
No entanto, a analista da AgRural afirma que desde meados de julho o ritmo de vendas caiu bastante, "porque ainda há incerteza" e nenhum produtor quer se comprometer com a venda de soja que não possa entregar.
Fonte: Reuters / Gustavo Bonato
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